Por Victor Pinto
O debate da Band Bahia, na última semana, teve como protagonista do melhor desempenho o candidato Kleber Rosa (PSOL). Sem teto de vidro de gestões públicas, diferente de Bruno Reis (UB), que buscou defender legado da sua administração, e de Geraldo Júnior (MDB), representante do núcleo do governo do Estado na queda de braço, o filiado do PSOL cumpriu a expectativa de enquadrar os rivais mais bem posicionados, conforme as últimas pesquisas.
Apesar do inimigo em comum de Kleber e de Geraldo ser Bruno, por seguir sentado na cadeira de prefeito, a maior parte das enquadradas, inclusive de temas na seara das relações eleitorais e políticas, ficou contra o vice-governador, ex-aliado do netismo. O nervosismo do primeiro debate, diante das tensões e das expectativas do início do confronto eleitoral, é muito comum, mas a falta de profundidade e fechamento de ideias de Geraldo chamou atenção de maneira negativa. A autoconfiança da sua eloquência pode ter sido uma armadilha.
Geraldo e Kleber precisam digladiar ainda mais Bruno. Para forçar um segundo turno, ambos precisam tentar desidratar o voto no atual prefeito e buscarem esses votos para si. No cenário atual, Kleber precisa de Geraldo e Geraldo precisa de Kleber. Mesmo que seja um batendo no outro para chamarem atenção do público.
No primeiro confronto direto, cara a cara, Bruno foi tirado do eixo por Geraldo que o chamou de despreparado para o embate. Mas o troco veio mais adiante quando o prefeito tentou rivalizar com ações do governo do Estado. Um dos temas foi a fila da regulação ou, como o próprio filiado do União Brasil disse, a fila da morte. Comparado com 2020, importante destacar, o prefeito estava muito mais seguro nas colocações e melhorou muito seu desempenho de oratória.
Apesar de ter feito uma excelente performance com ideias claras, com sinais objetivos de início, meio e fim, Kleber não aproveitou como Bruno Reis conseguiu aproveitar o pós-debate e suas repercussões, principalmente nas redes sociais.
O tema da mobilidade urbana foi amplamente abordado. Por mais que outras questões possam ser mais predominantes no aspecto social, a situação do transporte de ônibus foi um mote factível para ser abordado diante do grande público e um ponto calcanhar de Aquiles para o enfrentamento contra a atual gestão.
A passagem do busu pesa no bolso, a qualidade dos veículos é sentida por todos, a busca pelo alinhamento integrado da baldeação com o metrô, o novo BRT e a falta de um VLT no subúrbio com a demora faraônica da obra ser iniciada, apesar de responsabilidades diferentes para cada ente federado, gera o desconforto para o grosso da população que depende dessa forma de locomoção.
Em suma, o debate foi de alto nível e com uma repercussão nas redes sociais e no noticiário político para antecipar o clima do início oficial do prazo da campanha eleitoral. Diferente de Teresina, capital do Piauí, quando um candidato aproveitou o formato da arena para dar cabeçada em adversário, ou de São Paulo, cuja discussão resvalou para ataques pessoais e atingiu o nível do pré-sal, Salvador deu um bom exemplo. Nenhum direito de resposta foi pedido, fato inédito.
Mas, como Fernando Mitre já teceu no seu livro Debate na Veia, o candidato pode ganhar debate e perder eleição. Precisa ser bom no campo das ideias, do discurso, mas também na arte de convencer o voto para seu projeto. Aí já são outros 500.