Os fogos que consomem o Brasil

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Por Joaci Góes

            (Para o Professor e amigo Manoel Barros Sobrinho!)

            Como é exigência prioritária dos incêndios, interrompemos a série de artigos que estamos escrevendo sobre a anatomia do ódio entre as nações, para sustentar que a momentosa questão das queimadas que abalam o Brasil, não obstante sua gravidade, é, de fato, mais uma, como tantas outras, que deriva de nosso fracasso diante das questões essenciais da educação e do saneamento básico, causa fundamental de continuarmos a ser uma República de Bananas, um dos países mais mal administrados do Globo, quando comparamos o que somos com o que deveríamos ser, impedidos pelo mau aproveitamento de nossas ingentes possibilidades.

            O Brasil continua ignorando a relação linear crescente entre desenvolvimento social e econômico e a qualidade da educação que os povos praticam, na sociedade do conhecimento em que nos encontramos inapelavelmente imersos. Entregues a um sistema educacional de retardatária matriz gramsciana, proscrita dos países avançados, exibimos um desempenho mendicante do ensino fundamental ao superior, bastando mencionar que não conseguimos figurar, em caráter permanente, com uma sequer de nossas universidades entre as duzentas melhores do mundo, de que é prova o permanente entre e sai da USP, desse seleto time. Paralelamente a esse fracasso, omite-se da grande massa popular de analfabetos funcionais brasileiros a informação de que enquanto a longevidade média das populações que desfrutam de saneamento básico de qualidade é de 79 anos, os 53% dos brasileiros à margem desse benefício fundamental têm uma longevidade média de, apenas, 54 anos, conforme estudo realizado pela Oxford Famine, a maior ONG do Planeta dedicada ao estudo das desigualdades entre os povos, disponível na Internet sob o título “A distância que nos une”. Isso significa que convivemos, rotineiramente, como se nada estivesse acontecendo, com um problema de saúde e mortalidade algumas vezes mais grave do que a Covid 19. Desse estudo tratamos, extensivamente, em nosso livro As sete pragas do Brasil Moderno.

            Qualquer desses dois problemas – a péssima educação que praticamos e a falta de saneamento básico para mais da metade da população brasileira – é ainda mais grave do que a seríssima questão das queimadas que no atual governo vem batendo todos os recordes históricos, em razão de uma postura que prioriza o palavrório embusteiro do blá-blá-blá sobre a adoção de medidas preventivas, inteligentes, eficazes e duradouras. Como exemplo do nosso despreparo operacional, basta mencionar que é tema de discussão candente dentro do Governo identificar quem é ou deve ser a autoridade ambiental máxima!!!

            Os fatos estão a bradar que a instituição mais habilitada a cuidar da Amazônia, em suas múltiplas exigências, sob a égide do Ministério do Meio Ambiente, conforme legislação específica já existente, a maior parte da qual foi produzida quando presidimos a Comissão do Meio Ambiente da Câmara dos deputados, logo após a Constituinte, é as Forças Armadas Brasileiras, como responsabilidade integrante de suas magnas atribuições, em sintonia com as ações concertadas entre os municípios, os estados e a União. Os 30 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, os mais pobres do País, pela sua exclusão dos benefícios de nossa região mais rica, deveriam ter, também, como elemento constitutivo de sua educação básica, o conhecimento de como preservar essa notável riqueza potencial, na medida em que se liberte o seu usufruto inteligente dos equívocos denunciados pelo ex-ministro Aldo Rebelo em sua notável obra seminal A maldição de Tordesilhas. Ali, Aldo denuncia a “coincidência” de interesses entre algumas ONGS, grupos econômicos, o crime organizado regional e as ações de governo, em prejuízo da população regional, autóctone ou não.

            O grande obstáculo para nos situarmos à altura do notável legado natural que é a Amazônia, cuidando de sua higidez como deveríamos, reside na ostensiva disposição em curso, pelo atual governo, de conduzir nossas FFAA ao padrão venezuelano de sua humilhante degradação aos olhos da sociedade brasileira.

            Enquanto isso, nosso presidente vai a Nova Iorque ensinar a ONU como governar o Mundo!!!