A pesquisa conveniente de Rui Costa

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Por Victor Pinto

Na Bahia, as pesquisas eleitorais costumam errar principalmente quando se fala em sucessão de governo da Bahia. Em 2022 a única realmente salva pelo gongo foi a Atlas. E se depender delas, agarrado aos números, o grupo governista já teria naufragado há muito tempo. Basta lembrar: se o critério fosse pesquisa, Rui Costa jamais teria sido candidato em 2014. Ele estava na casa dos 5% quando Jaques Wagner decidiu bancá-lo. E o mesmo se aplica a Jerônimo Rodrigues, que entrou em 2022 como um “ilustre desconhecido” e terminou governador contra ACM Neto. Ou seja, o eleitor baiano tem o hábito de contrariar os institutos e surpreender a lógica dos caciques somente pelo entendimento dos gráficos.

Agora, ironicamente, Rui Costa quer inverter o jogo e usar justamente as pesquisas como bússola para definir a chapa de 2026. Conveniência pouca é bobagem. Ministro da Casa Civil, ele aparece semanalmente no noticiário, despacha com o presidente, inaugura obra, anuncia investimento, enfim, está no centro da vitrine nacional. Claro que, neste cenário, o petista tende a pontuar melhor que qualquer outro nome da base, ainda mais no Senado. Daí a ideia de transformar o termômetro eleitoral em regra política. E por trás do discurso de “diálogo” e “consenso”, o que se esconde é um cálculo muito pessoal: garantir oito anos de mandato na Casa Alta, custe o que custar.

Rui sabe jogar e sabe perfeitamente que sua “tara” pelo Senado pode, mais uma vez, estremecer o grupo, assim como quase aconteceu em 2022, quando o estresse entre ele e Wagner quase implodiu a unidade petista. Quem viveu o bastidor sabe muito bem. A harmonia só veio à base da força política de Jaques Wagner, que definiu mais uma vez o projeto de poder do PT na Bahia. Agora o ministro segue disposto a testar os limites da paciência dos aliados.

Rui tenta se vender como o articulador da conciliação, o que “conversa, conversa e conversa”, como disse na entrevista recente a uma rádio do interior. Mas o histórico mostra o contrário:  no fundo é um político de temperamento centralizador, na política e na gestão. Sua prática é de comando vertical, não de colegiado. São parcos os exemplos de criaturas criadas por ele em outras frentes da política. Diferente de caciques como Wagner e Otto. Existe aí uma ambição de quem quer determinar os rumos da sucessão com o respaldo do cargo em Brasília, inclusive até substituir Jerônimo na luta do governo se esse for o caso.

Enquanto isso, a base observa. O PSD de Otto Alencar, parceiro histórico do PT, acompanha de perto e com desconfiança os movimentos do ministro. Otto sabe que, se Rui se lançar ao Senado, o espaço político do PSD encolhe. E mais: Wagner, que deve disputar sua última eleição, quer sair das urnas com dignidade e manter sua liderança moral no grupo. É ele, ao lado de Otto, quem garante o cimento político que ainda sustenta a unidade governista.

No fim das contas, o discurso da pesquisa é uma cortina de fumaça. Se as sondagens o colocarem na dianteira, ótimo: terá um argumento de “legitimidade popular”. Mas ele já sabe desses números para rifar adversários internos. A verdade é que o ministro tem pressa e projeto: quer a cadeira do Senado e a garantia de continuar no jogo nacional, enquanto a Bahia continua sendo seu porto político seguro.

A diferença é que, agora, o grupo já conhece o roteiro. Wagner e Otto não vão embarcar em uma disputa de vaidades. E Jerônimo, ainda consolidando sua imagem, dificilmente entrará em rota de colisão com quem o fez governador.

No tabuleiro de 2026, Rui tenta ditar as regras do jogo. Mas, no fundo, no jogo atual, quem acabará dando a última palavra, na minha humilde opinião, será Lula que agora tem visão macro da forma da conduta eleitoral na Bahia. Pesquisa por pesquisa, se, de fato, isso valer, cai por terra o discurso de que a base comemora resultado de boletim de urna e a oposição é quem costuma se antecipar aos gráficos. É o famoso ovo no fiofó da galinha. A conferir.