No emblemático Casarão da Diversidade, um marco histórico ocorreu quando a mandata coletiva Pretas Por Salvador (PSOL/BA), juntamente com a Procuradoria da Mulher da Câmara e a Casinha Marielle, conduziram uma Audiência Pública focada na discussão e enfrentamento da Lesbofobia na cidade de Salvador. O evento, propositalmente realizado no Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, contou com a participação de diversas mulheres lésbicas e também foi o palco para a entrega do prêmio Luana Barbosa.
Em um contexto de luta contra o patriarcado, machismo e invisibilidade, esse encontro assinala uma nova era para as mulheres lésbicas, que juntas travam uma luta diária por direitos e por uma sociedade mais justa e inclusiva. A audiência também se configura como um manifesto contra a bancada conservadora da Câmara Municipal de Salvador (CMS), que persiste em negar a realidade do feminicídio, assim como a lesbofobia que permeia diversos espaços cotidianamente.
Laina Crisóstomo, a primeira co-vereadora lésbica assumida na Casa Legislativa, destacou a ausência de representantes LGBTQIAPN+ nos espaços de poder, ressaltando a importância da inclusão e representatividade dessas vozes. O evento também trouxe à tona a reprovação do Projeto de Lei que institui o Dia Municipal de Enfrentamento ao Lesbocídio, alegando falta de recursos. A edil aproveitou a oportunidade para anunciar o protocolo de um novo projeto, que está sujeito à votação, propondo o estabelecimento do Dia Municipal de Combate à Lesbofobia Virginia Nunes, a ser realizado em 29 de agosto.
Ao longo da audiência, foram levantadas reflexões sobre a escassez de leis que pensam a comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil, tornando o evento um local não apenas de informação e denúncia, mas também de acolhimento e fortalecimento. Também foram apresentados dados do campo temático saúde da população LGBT+ da SMS/Salvador, indicando que houve 370 casos de violência contra essa população, dos quais no âmbito de violência sexual, 40% eram bissexuais e 22% lésbicas.
Durante o evento Laina também relatou as recentes ameaças de estupro corretivo enfrentadas pelas parlamentares Mônica Benício (PSOL), Cida Falabella (PSOL), Rosa Amorim (PT), Daiana Santos (PCdoB), Iza Lourença (PSOL) e Bella Gonçalves (PSOL), destacando a necessidade de ações concretas por parte das autoridades.
Diversos órgãos públicos foram convidados para a Audiência Pública, mas apenas alguns compareceram, incluindo o representante da Secretaria Municipal de Saúde, Erik Asley, a representante da Secretaria de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude e Coordenadora dos Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Adriana Castro, e o Coordenador do Ambulatório Multidisciplinar em Saúde de Travestis e Transexuais da SESAB, Ailton Santos. A intenção foi estabelecer um espaço de diálogo para esclarecer as ações que o poder público tem desenvolvido para garantir os direitos das mulheres lésbicas. Como encaminhamento, as Pretas enviarão um relatório das demandas discutidas durante o encontro aos órgãos que não compareceram.
O evento também foi marcado pela entrega do prêmio Luana Barbosa, em celebração às trajetórias de mulheres que, por meio de suas histórias, têm impulsionado o protagonismo lésbico. O prêmio é uma femenagem a Luana Barbosa, mulher negra e lésbica que faleceu vítima de violência policial em Ribeirão Preto, São Paulo.
Ao todo, 27 mulheres foram premiadas: Lívia Ferreira, Adriele Carmo, Tatiane Anjos, Bruna Bastos, Elaine Silva, Mariella Santos, Fhanny Cardim, Dede Fatuma, Jann Souza, Simone Brandão, Milly Costa, Janda Mawsi, Kim Freitas, Valéria Lima, Altamira Simões, Karine Eloy, Mizian Duarte, Meg Silva, Tetê Carreira, Eva Carreira, Vânia Elky, Adriana Cardoso, Rose Cristiane, Eline Matos. Também foram lembradas Samira Soares, Maiara Silva e Iane Gonzaga, que não compareceram ao evento.
Com o Correio Nagô