Por Elieser César
Pode uma maldição cair sobre gerações de uma mesma família, como castigo que se prolonga pelo tempo por um crime cometido por um antepassado ganancioso e poderoso?
É o que acredita o escritor Nathanael Hawthorne (1804-1864) neste impressionante romance A Casa das Sete Torres.
Hawtorne foi o cronista do puritanismo hipócrita e do fanatismo religioso da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, como se percebe em seu livro mais famoso A Letra Escalarte. Neste romance aparece uma das personagens precursoras do feminismo na literatura, a corajosa Hester Pryne, que desafia as convenções moralistas da época, ao ser forçada a usar um vestido com a letra A (de adúltera) gravada como um emblema da vergonha e da falta de pudor e ainda carregar a pequena filha fruto do adultério.
Mas, o assunto é A Casa das Sete Torres que remete à cupidez e à maldade do atrabiliário Coronel Pyncheon. Para se apossar das terras do carpinteiro Mathew Maule, o respeitável burguês acusa o desafeto de bruxaria, o bastante para levá-lo ao patíbulo num paranoico período de caça às bruxas.
Antes de morrer enforcado, no entanto, o simplório operário faz uma previsão sombria: Deus fará o malvado Pyncheon beber sangue.
O Coronel se apossa das terras de Maule e constrói uma invejável palacete com sete cumeeiras. Não chegará a desfrutar do lar invejado e aprazível. No dia da inauguração, para a qual acomete toda a sociedade local, Pyncheon é encontrado morto em sua poltrona, engolfado em sangue. Assim se cumpre a profecia do desditoso carpinteiro. A Casa das Sete Torres vira uma velha mansão de gerações malsinadas do antigo Coronel.
Nela irão morar três descendentes do maléfico coronel: Miss Hepzibah, solteirona afetada e destituída de atributos físicos, mas de bom coração: seu irmão, de temperamento artístico, Clifford, vítima de uma terrível injustiça e, como um anjo da guarda para os infelizes irmãos, a cativante Phoebe, uma das personagens femininas nais encantadoras da literatura. A eles
se soma o jovem daguerrotipista Holgrave, que tem um parentesco revelador anunciado final da trama.
Sobre todos paira a maldade do juiz Jaffrey Pynchon, que herda todos os vícios do antigo Coronel. Conseguirão os quatro resistir à maldição que infesta os ares da azarada mansão?
Para saber, o leitor terá que entrar por uma das portas ou forçar uma das janelas da Casa das Sete Torres.
Apesar de todo sortilégio, não deixará de ser uma boa visita.
Foto: Maria Cecília – Divulgação