A chapa de Jerônimo, Wagner e Rui é realmente imbatível?

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Por Victor Pinto

No tabuleiro político baiano, a montagem da chapa majoritária governista para 2026 com Jerônimo Rodrigues (PT) à reeleição, Jaques Wagner (PT) buscando a renovação no Senado e Rui Costa (PT) retornando ao Estado como candidato à segunda cadeira de senador parece, à primeira vista, uma jogada de mestre. Os três nomes têm trajetórias sólidas e são amplamente conhecidos no eleitorado baiano. No entanto, a pergunta que reverbera nos bastidores e até mesmo em entrevistas é: será essa chapa realmente imbatível?

Recentemente, no programa Bom Dia, Ministro, Rui Costa confirmou que colocou seu nome à disposição para a chapa de 2026 e que tratará diretamente do assunto com o presidente Lula. O chefe do Executivo federal, por sua vez, vê com bons olhos a candidatura de Rui ao Senado. O motivo é estratégico: com a renovação de 2/3 das cadeiras no Senado, Lula busca fortalecer a bancada petista e de esquerda, especialmente diante da possibilidade de uma escalada conservadora capitaneada por aliados de Bolsonaro. Para Lula, ter nomes de peso como Rui Costa na Casa Alta é crucial para evitar fragilidades no Congresso.

No entanto, essa movimentação política tem custos. A vaga ao Senado pretendida por Rui seria a mesma que hoje pertence ao senador Angelo Coronel (PSD), que se vê rifado do grupo governista. Coronel, que nunca escondeu sua ligação com o Centrão e seu histórico de negociações com o governo Bolsonaro, agora paga o preço de seu posicionamento pragmático. Para os petistas, Coronel é visto como um aliado pouco confiável e, com Rui na jogada, tornou-se dispensável.

Essa configuração da chapa reforça o apetite petista por concentrar poder, mas gera efeitos colaterais que podem custar caro à base governista. O PSD, maior partido da coalizão depois do PT, já demonstra sinais de insatisfação. O senador Otto Alencar, líder do partido na Bahia, defende que a proporcionalidade dentro da base seja respeitada, mas a exclusão de Coronel da chapa é um golpe direto na influência do PSD.

Além disso, a vice-governadoria, hoje ocupada por Geraldo Júnior (MDB), tem perdido cada vez mais relevância, tornando-se um cargo figurativo.

Outro ponto crítico da chapa é a ausência de diversidade ideológica. Jerônimo, Wagner e Rui pertencem ao mesmo espectro político, o que, embora reforce a coesão, limita o alcance eleitoral. Como destacou Geddel Vieira Lima em entrevista ao jornalista Lula Bonfim, a chapa é essencialmente “vermelha”, sem os “pontinhos azuis” que poderiam ampliar seu apelo. A política é feita de alianças e contrastes, e uma chapa homogênea pode alienar eleitores que buscam alternativas ou equilíbrio.

No papel, a chapa de Jerônimo, Wagner e Rui parece poderosa, mas enfrenta desafios. Internamente, há descontentamento dos aliados, como o PSD, que pode cobrar caro por sua exclusão. Externamente, a ausência de contraste ideológico pode abrir espaço para a oposição, que, embora fragilizada, pode explorar o cansaço do eleitorado com a hegemonia petista na Bahia.

A força da chapa, no entanto, depende de como o PT administrará as tensões internas e equilibrará os interesses. 2026 será um teste definitivo para a política baiana. A chapa majoritária do PT terá que provar que é mais do que um reflexo de hegemonia partidária; terá que demonstrar que pode unir forças e renovar a confiança de um eleitorado cada vez mais exigente e atento às contradições do poder, mais uma vez. A conferir.