Por Roberval Santos
Sting falou sobre isso em um vídeo, há pouco tempo: “Na música atual, na maior parte dela, você fica preso em um círculo, uma armadilha. É que a estrutura é um pouco mais simples!” Ele foi até generoso na definição. É um sujeito elegante. O acordar cedo para assistir vídeos no YouTube sobre assuntos específicos, antes de começar as tarefas diárias, vez em quando, me surpreende. Porém, o vídeo no canal de Marco Antero Music foi no alvo, na mosca! Ele demonstra e prova o que Sting falou. Mas o que Marco Antero, na publicação “Por que a Música Pop Moderna só usa a nota RÉ?”, não faz é estender essa crítica à música brasileira. Ele utilizou um método, com exemplos para demonstrar, e não achismo. “Eu acho” é muito primário!
A cada dia mais medíocre, em vários estilos, também no que se convencionou chamar de MPB, principalmente dos que se encontram na “bolha do sucesso” (rádio, TV, YouTube, Spotify), a nossa produção beira o ridículo. Temos exceções, excelentes exceções! Contudo, a maior parte que circula por aí é insignificante! E a audição da maioria, incluindo pessoas que eu considero ter um “bom gosto musical”, com o passar do tempo foi “adestrada” para o ‘conforto musical’ e está se condicionando ao esteticamente “pobre”. E essa correnteza, “Vem a onda e levocê” (A Moda, confraria da Bazófia), não é somente na música. Está impregnada na sociedade contemporânea em todos os níveis!
Este conforto, esta falta de disposição ao confronto, do ser autêntico, para não provocar incômodos ou não ser taxado de chato, está nos levando ao caminho do desfiladeiro da mediocridade e se alinha a toda linguagem artística, principalmente no entretenimento, assim como no comportamento diário, em todas as áreas de convívio social, da audição à percepção sobre o que nos cerca.
Falando de música especificamente, é uma “pandemia contemporânea mundial”, sem retorno, sem cura e sem uma luz no fim do túnel. São pouquíssimos os que ainda mantêm um “gosto sofisticado”, e uma leva um pouco não muito maior que considero de “bom gosto”! Fazer música para entreter em festas, no carnaval, no encontro gostoso regado a boas geladas com amigos e amigas, não deveria significar produzir “podridão”! E, como exemplo, temos a música de carnaval produzida atualmente na Bahia.
E tem gente produzindo boas músicas em vários estilos? Tem. Mas essa gente não encontra espaço nas mídias, na comunicação de massa. São raríssimos os espaços da mídia atual que dão espaço para gente mostrar o que estamos produzindo. E ainda tem os inconformados! “Véi, ouça aí! Veja se não é bom!”, “Por que você não gostou?”, “A letra é até legal, né não?”… Hoje, aos 58, com mais experiência e ainda sem cabelos brancos, muitas vezes concordo e mudo o assunto. Dizem que é maturidade!
Esta falta de espaço, principalmente na TV, é proposital. Faz parte de um projeto de poder!
Mas aí é uma conversa para outro dia!
Músico, instrumentista, pesquisador