Por Lucas Atanazio Vetorasso
Algumas vezes o mundo financeiro parece uma narrativa de ficção científica. Em obras como Neuromancer de William Gibson e 1984 de George Orwell vemos como sistemas aparentemente imutáveis e poderosos podem, de repente, ruir e levar toda a sociedade a um estado de caos e reestruturação. Como sempre digo: No mundo dos negócios, a única estabilidade é a mudança.
O mercado financeiro pode ser imaginado como uma torre de Jenga. Cada peça representando um aspecto da economia global: consumo, produção, crédito, investimentos. Quando as taxas de juros sobem, é como se estivéssemos removendo algumas dessas peças fundamentais. Eventualmente, o equilíbrio é perdido e a torre ameaça desabar.
O aumento nas taxas de juros tem – sempre – consequências em cascata. Países com grandes dívidas como o Brasil, por exemplo, sentem o peso dessas mudanças de forma mais acentuada. Aqui, vivemos um paradoxo: somos uma das economias com maior carga tributária do mundo, mas nossos serviços públicos raramente refletem o nível de arrecadação. Em um sistema que se autoproclama democrático, a sensação é de roda gigante. O cidadão trabalha para sustentar uma máquina estatal que, na prática, não trabalha para ele.
Quando falamos em algo ruir, temos que entender a natureza cíclica das coisas, inclusive do mercado financeiro, onde a história prova isso repetidas vezes. Todas as projeções máximas de evolução levam ao retorno de um estado primitivo. É como se a busca evolutiva fosse sempre em vão. Quando observamos as consequências de crises financeiras severas, não é exagero imaginar um futuro onde, após uma grande quebra de mercado, a humanidade precise retroceder ao sistema de escambo. Um mundo onde, em vez de complexas transações financeiras, voltamos a trocar bens e serviços diretamente. Este é um cenário que parece ficção científica, mas em momentos de crise extrema, a realidade pode, de fato, se distorcer de maneiras inesperadas. Mas, calma lá. Este artigo não é pra ser – tão – filosófico. Voltemos ao mercado.
A China, muitas vezes citada como um exemplo de “comunismo” de sucesso, na verdade funciona em uma linha tênue entre socialismo de fachada e um capitalismo feroz. O que acontece por lá é uma dança cuidadosamente coreografada, onde o capital trabalha para o governo, que, por sua vez, diz trabalhar para o povo. É uma simbiose quase mágica e muito bem ensaiada onde o governo controla as cordas do mercado financeiro e social. No entanto, essa simbiose levanta vários questionamentos. Se olharmos profundamente não há mágica, há um modelo crescente onde o capital atua para a nação. Quando digo nação, estou longe de me referir ao povo e sua liberdade, entre outros aspectos, estou me referindo à (re)contrução de um país. A principal dúvida ainda é se estamos vendo um modelo sustentável ou uma bomba-relógio pronta para explodir?
O Brasil figura constantemente na lista dos países com maiores cargas tributárias do mundo, mas a relação entre o que é arrecadado e o que é devolvido à sociedade é, no mínimo, desigual. O sistema tributário brasileiro é regressivo, ou seja, pesa mais sobre os pobres do que sobre os ricos. Isso acontece porque a maior parte da arrecadação vem de impostos indiretos, como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que incide sobre o consumo. Em termos simples, tanto um milionário quanto uma pessoa de baixa renda pagam o mesmo imposto sobre produtos de necessidade básica, como alimentos e medicamentos.
Esse modelo perpetua não somente a desigualdade social, eu não seria hipócrita de manipular a sensação de empresário comunista e benevolente de condomínio fechado. Mas, o modelo praticado hoje dá margens ainda maiores para desvios de recursos e inoperância proposital da máquina pública. É só analisarmos as fatias que deveriam ser destinadas à saúde, educação, infraestrutura. A matemática é ciência exata, mas a cortina de fumaça deste ciclo vicioso no formato tributário cega qualquer ganhador de prêmio Nobel.
Eu não vou transformar este artigo em uma cartilha nem em plano de governo, mas, diante de tantos apontamentos, começamos a vislumbrar mudanças inevitáveis no formato da economia mundial. A crescente interdependência entre as nações, combinada com as tensões geopolíticas e os desafios ambientais, pode nos levar a uma nova fase de globalização, onde as antigas regras e estruturas financeiras não serão mais suficientes.
Podemos prever o surgimento de um sistema econômico mais descentralizado, impulsionado por tecnologias como blockchain e moedas digitais, que podem reduzir a dependência de sistemas bancários tradicionais e tornar as transações mais transparentes e acessíveis globalmente. Além disso, com o avanço da inteligência artificial e da automação, a natureza do trabalho e da produção econômica será radicalmente alterada, exigindo novas abordagens para a distribuição de riqueza e a sustentabilidade econômica.
Essas transformações não ocorrerão sem desafios. Como em qualquer ciclo de mudança, haverá resistência e adaptação lenta por parte das instituições estabelecidas. No entanto, se a história nos ensinou algo, é que as crises e os períodos de incerteza são catalisadores para inovação e progresso. O futuro da economia mundial pode parecer incerto, mas está repleto de oportunidades para aqueles que estão dispostos a reimaginar o que é possível.
Olhando para o futuro, a questão não é se a economia global vai mudar, mas como e quando essas mudanças ocorrerão. O aumento das taxas de juros, a reconfiguração das alianças globais e as inovações tecnológicas estão moldando um novo paradigma econômico que poderá redefinir a forma como interagimos com o dinheiro, os mercados e, fundamentalmente, uns com os outros. A incerteza permanece, mas é justamente essa incerteza que abre caminho para um futuro cheio de potencial inexplorado.
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