A pacificação na ALBA e o adiamento de um conflito inevitável

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Por Victor Pinto

A disputa pela presidência da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) sempre foi um teste de força para os grupos políticos que sustentam o governo estadual. No atual cenário, a manutenção de Adolfo Menezes (PSD) na presidência e a escolha de Ivana Bastos (PSD) para a primeira vice-presidência foram apresentadas como uma solução de unidade, evitando fissuras na base governista. No entanto, um olhar mais atento para os bastidores revela que esse arranjo foi menos um consenso natural e mais um movimento de contenção de crise, que apenas adia um embate político inevitável para 2026.

O desenho final da Mesa Diretora foi resultado de uma engenharia política delicada. O governo Jerônimo Rodrigues se viu diante da necessidade de manter o PSD satisfeito, após o partido perder a presidência da União dos Municípios da Bahia (UPB) para Wilson Cardoso (PSB), e ao mesmo tempo garantir que o PT não provocasse um desgaste interno. O recuo de Rosemberg Pinto (PT) da disputa pela primeira vice-presidência não foi um gesto isolado de pacificação, mas sim um aceno que neutralizou a influência do senador Angelo Coronel e impediu que ele usasse a ALBA como moeda de troca para pressionar o governo estadual.

Adolfo Menezes está em seu terceiro mandato consecutivo, e, apesar do pacto político firmado para sua permanência, sua reeleição poderá ser questionada judicialmente, dada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a proibição de reeleições sucessivas em Casas Legislativas.

Caso Adolfo seja afastado por decisão judicial, Ivana assumiria naturalmente a presidência da ALBA, garantindo a continuidade do PSD no comando da Casa. Esse arranjo não apenas blinda o partido de perder espaço político, mas também permite que o governo administre uma transição sem turbulências e sem precisar renegociar o acordo com outras forças da base. O PT, que desejava a presidência, teve que aceitar essa estratégia como forma de manter a unidade e evitar um confronto prematuro.

A permanência do PSD na presidência da ALBA não é um capricho, mas sim uma necessidade estratégica para manter o equilíbrio da base. O partido de Otto Alencar, que controla o maior número de prefeituras na Bahia, tem se consolidado como um parceiro indispensável ao PT, mas também tem suas próprias ambições.

O governo de Jerônimo Rodrigues compreendeu que, para manter o PSD na base, era preciso conceder espaços de poder. No entanto, esse arranjo não apaga o desgaste que o partido sofreu nos últimos meses e muito menos garante um caminho pacífico para 2026.

O maior gesto político dessa disputa interna foi o recuo de Rosemberg Pinto. Mais do que um movimento para evitar um racha na base, sua retirada da vice-presidência foi um recado direto ao senador Angelo Coronel. O parlamentar, que já estava em pé de guerra com o governo por ter sido descartado da chapa majoritária de 2026, tentou instrumentalizar a insatisfação do PSD para ampliar sua margem de manobra política.

Se Rosemberg tivesse insistido na disputa e saísse vitorioso, Coronel teria o argumento perfeito para questionar o tratamento dado ao PSD e usaria a ALBA como um instrumento de pressão contra o governo.

A mensagem que Rosemberg deixou foi clara: a governabilidade vem antes da disputa de espaços individuais. E, ao fazer esse movimento, ele não apenas evitou um desgaste maior entre PT e PSD, mas também reforçou sua posição como um articulador leal ao governo.

O governo Jerônimo Rodrigues conseguiu evitar que a disputa na ALBA se transformasse em um cavalo de batalha, mas a solução encontrada apenas adia as tensões que inevitavelmente explodirão em 2026. A formação da chapa majoritária para a reeleição de Jerônimo já está causando desconforto nos bastidores, principalmente com a exclusão de Angelo Coronel e a decisão do PT de ocupar as duas vagas para o Senado com Jaques Wagner e Rui Costa.

O PSD aceitou manter a ALBA agora, mas o que acontecerá quando precisar cobrar novos espaços? A chapa de 2026 terá espaço para um vice-governador do PSD? Otto Alencar aceitará um papel secundário ou tentará emplacar uma candidatura ao Senado de outro aliados?

O fato é que, embora o governo tenha costurado uma pacificação temporária na Assembleia, ele apenas empurrou o desgaste para o futuro. O PT e o PSD ainda terão que enfrentar embates futuros sobre a composição da chapa de 2026 e a manutenção do equilíbrio de forças dentro da base. A pacificação na ALBA foi um respiro necessário, mas a verdadeira disputa ainda está por vir.