Desde a sexta-feira (19), a rotina da Associação Bahiana de Imprensa passou a ser diferente: os serviços prestados à categoria e à sociedade estão sendo oferecidos apenas às segundas, quartas e quintas-feiras, das 8h às 17h. Nos dias de terça e sexta-feira, os funcionários cumprirão expediente remoto. As medidas integram o esforço da entidade para manter as contas equilibradas, que envolve também a suspensão de atividades culturais, como o fechamento do Museu de Imprensa por tempo indeterminado.
O Edifício Ranulfo Oliveira, sede da ABI, guarda parte da memória da cidade. Não por acaso, o prédio batizado com o nome de quem o construiu é frequentemente procurado por pesquisadores das mais diversas áreas. O imóvel abriga a Biblioteca Jorge Calmon, a Sala de Exibição Roberto Pires, o Auditório Samuel Celestino e o Museu de Imprensa, espaços que regularmente recebem palestras, aulas, rodas de conversas, visitas guiadas, eventos musicais e outras atividades educativo-culturais gratuitas e abertas ao público. A ABI mantém ainda o museu-casa onde nasceu o jurista Ruy Barbosa, na rua Ruy Barbosa, e onde a Associação pretende instalar a Casa da Palavra.
O edifício construído entre as décadas de 1940 e 1950 foi projetado para garantir a sustentabilidade da ABI mediante locação dos espaços não ocupados pela entidade. A Assembleia Legislativa foi a primeira inquilina, instalando-se ali de novembro de 1960 até a mudança para a sede no Centro Administrativo da Bahia, que completou 50 anos em março. A Prefeitura Municipal de Salvador, atual locatária, ocupa mais de 2/3 do Ranulfo Oliveira, e impôs o congelamento do valor dos aluguéis desde outubro de 2016 e não reconhece o passivo acumulado por anos sem cumprir a cláusula que estabelece reajuste anual com base na variação do IPCA-E.
Nos últimos anos, a pedido do Gabinete do Prefeito, a ABI comprometeu grande parte de suas reservas financeiras numa série de melhorias e, por decisão da Diretoria Executiva, investiu em adequações aos atuais padrões de segurança na edificação. Foram executadas obras de atualização das instalações elétrica e hidráulica, com instalação de uma subestação de energia, o Sistema de Prevenção e Combate a Incêndios (PCI) e do Sistema de Proteção Contra Descargas Atmosféricas (SPDA).
“Mesmo com as restrições financeiras, a ABI é dos raríssimos proprietários que atendem cerca de 100% das regras de segurança contra incêndios, situações de pânico e descargas atmosféricas”, afirma o jornalista Ernesto Marques, presidente da ABI. “Seguimos na mesma postura, colaborando, cedendo e em reiterada disposição para atualizar os contratos em bases que contemplem ambas as partes, sobretudo considerando a natureza pública do locatário, no caso, o Gabinete do Prefeito e a Secretaria Municipal de Comunicação”, enfatiza o presidente.
Enquanto viabiliza estratégias para se manter em funcionamento, a ABI aguarda um posicionamento do prefeito Bruno Reis. “A ABI compreende o ritmo da tomada de decisões, reconhece o empenho pessoal de todos os servidores e secretários que trataram a questão. Todos foram absolutamente acolhedores, se mostraram dispostos a encaminhar a pauta, no limite de suas atribuições. E por isso agradecemos o apoio. Contamos com a sensibilidade do prefeito para avançar nas negociações”, completa o dirigente.
Portas fechadas
Segundo a Diretoria Executiva, enquanto não for restabelecido o equilíbrio econômico-financeiro do contrato de locação, a prioridade da equipe técnica será a conservação dos acervos, importante ativo da instituição dedicada à memória da comunicação na Bahia.
A produção editorial da entidade também passa pelo mesmo entrave. A sequência da Revista Memória da Imprensa está comprometida. O projeto “Memória da Imprensa – A História do Jornalismo Contada Por Quem Viveu”, que registra experiências de jornalistas veteranos cujas atuações marcaram a imprensa da Bahia, teve sua última edição no encerramento da programação do aniversário de 93 anos da ABI. Não há previsão de quando a publicação será retomada.
Outro bom exemplo de atuação da ABI em favor da memória da comunicação baiana é o projeto de convivência intergeracional chamado Senado ABI. Também descontinuado, o ambiente de interação, onde diretores veteranos se reúnem para trocar ideias e passar sua expertise para o corpo diretivo, tem como integrantes os jornalistas nonagenários Florisvaldo Mattos, Valter Lessa e Jorge Vital de Lima.
De portas fechadas ao público, o Museu de Imprensa não tem agendado novas visitas desde o fim da exposição Ginga Nagô, do fotojornalista Anízio Carvalho, em dezembro de 2023. A equipe técnica cumpre apenas compromissos que já haviam sido firmados, como o tour feito a cada início de semestre pela disciplina História do Jornalismo, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.
Conhecido por abrilhantar as noites de lua cheia do Centro Histórico, o projeto Série Lunar – parceria com a Escola de Música da Ufba (Emus) -, também está ameaçado. A apresentação do mês de abril, com o renomado músico Tuzé de Abreu, só acontecerá no próximo dia 24 devido ao patrocínio do Centro de Estudos Jurídicos Vivaldo Amaral (CEJVA). O futuro da iniciativa, no entanto, permanece incerto.
Com Portal ABI