O artista carioca Geraldo Marcolini inaugurou na quinta-feira, dia 10 de outubro, na Alban Galeria, em Ondina, a sua primeira exposição na Bahia. Trata-se da mostra “Olho D’água”, uma verdadeira e livre investigação sobre o estado da pintura, que tem como ponto de partida o uso de fotografias ou mesmo de imagens capturadas na internet. A exposição permanece aberta ao público de 11 de outubro a 16 de novembro – segunda a sexta, 10h às 13h; 14h às 19h – e sáb, 10h às 13h.
A mostra reúne 14 obras em pequenos, médios e grandes formatos. São trabalhos realizados por Marcolini nos últimos quatro anos, entre eles paisagens aquáticas e algumas cenas de banhistas, que tratam dos efeitos de luz, transparências, reflexos e refrações.” Desde o início da minha carreira, a fotografia tem servido de ponto de partida para as pinturas. Busco uma transposição das imagens para a tela que priorize os aspectos inerentes à pintura, como a fatura, as camadas e a fluidez do meio”, justifica o artista.
Nessa sua abordagem, é justamente na interseção entre a fotografia e a pintura que lhe interessa operar, revelando aspectos híbridos destes meios. “Busco partir de cenas quase sempre anônimas e despovoadas, lugares quaisquer, sem apelo à narrativa, para destacar o que realmente me interessa, que são os processos e procedimentos da pintura”, observa Marcolini, que tem uma trajetória marcada por mostras individuais e coletivas no Brasil e exterior, com passagem por cidades como Berlim, Estocolmo, Lisboa e Genebra, por exemplo.
Refletindo sobre a imagem
A importância investigativa do trabalho desenvolvido por Marcolini é ressaltada pela curadora sênior, professora e doutora em História da Arte pela Universidade de São Paulo, Fernanda Pitta. Segundo ela, o artista há muito se distancia de narrativas e simbolismos, focando na materialidade da pintura e na aparição das coisas no mundo. “Ainda que quase sempre tenha se dedicado ao gênero que chamamos de paisagem, tampouco lhe preocupa explorar a história ou ideologia visual do gênero em si, tomando-o como um campo que lhe permite uma liberdade de experimentação para além de aspectos discursivos da representação.”, observa ela.
Como lembra Fernanda Pitta, mais recentemente Marcolini tem se voltado para a pintura de paisagens aquáticas, mantendo o foco na água como um elemento que mistura e reflete, “que cria ambiguidade entre o dentro e o fora, embaralhando pontos de vista – frequentemente não sabemos se estamos diante de uma imagem de um aspecto de uma planta, uma pedra, uma folha caída sobre a água, ou de seu reflexo”.
“Naquelas em que a figura humana aparece, na qualidade de banhistas – outro tema histórico da pintura – sua atenção à fenomenologia das imagens, à permeabilidade das formas e cores, é capaz de colocar em dúvida o condicionamento que nos faz separar seres humanos dos outros seres do mundo. A aparência não contradiz a realidade, ao contrário. Na superfície desses olhos d’água aflora a profundeza do estar no mundo”, conclui a curadora.
Por sua vez, o próprio Geraldo Marcolini distingue novos direcionamentos na sua fase atual, distanciando-se um pouco do seu trabalho anterior, “que se pautava bastante nos aspectos gráficos das imagens, eram mais econômicos nas cores, por vezes até monocromáticos. A produção atual apresenta uma paleta de cores mais aberta e imprevisível, em uma abordagem menos mecânica dos materiais”, observa. Aliás, a imprevisibilidade “é um fator muito importante para mim nessa tradução em pintura das imagens escolhidas, sejam fotos ou frames de vídeos”.
Geraldo Marcolini
Formado em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pintura e Design Gráfico na School of Visual Arts de Nova York, Marcolini já trabalhou em diversas mídias como Pintura, Desenho, Gravura, Vídeo, Instalações e Artes Urbanas. Começou a expor seu trabalho em 1999 e desde então tem participado de mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior.
Ao longo de sua trajetória, participou de exposições como Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna, São Paulo (2001), Caminhos do Contemporâneo no Paço Imperial, Rio de Janeiro (2002), Chega de chupar essa xepa no Neue Dokument, Berlim (2004), Abre-Alas na Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro (2005), Nano Stockholm no Studio 44, Estocolmo (2009), Investigações Pictóricas no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (2009), Oba Oba na Galeria Bang Bang, Lisboa (2015), Ter lugar pra ser no Centro Cultural São Paulo (2016), Fim de semana em Cabo Frio, Paço Imperial (individual) (2018), Casa Carioca no Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2020), Brasilitudes no Espace L, Genebra (2022), entre outras. Atualmente é representado pelas galerias Albuquerque Contemporânea e Alban Galeria.
Serviço:
Exposição: Olho D’água – Geraldo Marcolini
Período da exposição: 11/10 – 16/11/2024
Visitação: segunda a sexta, 10h às 13h; 14h às 19h – sáb, 10h às 13h.
Alban Galeria Rua Senta Pua, 53 – Ondina – Salvador – Tel: (71) 3241-3509 | 3014-2549