Por Reynivaldo Brito
Tendo trabalhado durante mais de trinta anos como professor de Física e diretor do Colégio Nobel, em Salvador, o artista Alceu Lisboa mantinha viva sua sensibilidade de gostar, colecionar e presentear obras de arte. Sendo um profissional que durante grande parte de sua vida esteve trabalhando e envolvido com números e conceitos rígidos da racionalidade não deixou que sua sensibilidade fosse anulada ou diminuída. Ao contrário, este seu gosto pela arte desaguou na sua incrível capacidade de criar formas geométricas, em que se expressa com naturalidade e apresenta uma paleta de cores que nos deixa surpresos por sua beleza e apurada técnica. Foi assim que desde o ano de 2007 passou a pintar quase diariamente, e hoje já nos apresenta sua arte consolidada e cada dia mais plural na forma, no conteúdo e no uso das cores. Está se preparando para fazer em julho sua primeira exposição fora daqui na Canvas Galeria de Arte, no Rio de Janeiro, onde vai expor dezesseis obras.

nova obra, onde podemos ver o
surgimento de algumas manchas .
Ao apreciar um conjunto de obras do artista Alceu Lisboa em seu ateliê localizado no bairro do Horto Florestal, em Salvador, pude constatar que a sua formação nos campos da Física e da Matemática contribuiu para que sua arte tenha o estilo construtivista, sem a rigidez dos algoritmos, das fórmulas e conceitos racionais que regem estes campos da Ciência. Sua arte contemporânea certamente percorre caminhos semelhantes aos do saudoso artista baiano Jamison Pedra, que era arquiteto, e fazia uma arte geométrica delicada, suave e limpa. Também podemos lembrar da arte de Eduardo Sued que sempre gostou de experimentar e buscar soluções para suas obras. O artista Alceu Lisboa é ainda admirador do trabalho da pintora de nacionalidade húngara, que reside no Rio de Janeiro, Yuli Getzi, além dos artistas o holandês Piet Mondrian e dos americanos Sol LeWitt, Kenneth Noland e Frank Stella. Atualmente vem introduzindo na sua pintura algumas manchas e texturas saindo da limpidez quase minimalista de suas obras anteriores talvez com uma leve influência de Tomie Ohtake, pintora japonesa, naturalizada brasileira e uma das representante do abstracionismo informal.

a qualidade de sua arte.
LEITURAS E PESQUISAS
Afirmou que desde os anos 2000 vinha pintando sem alguma regularidade porque estava envolvido na administração do seu Colégio Nobel, que funcionava, no bairro do Itaigara em Salvador e lhe consumia boa parte do seu tempo. Em 2014 fez sua primeira e única exposição individual na Galeria ACBEU, no Corredor da Vitória, em Salvador. Seguiu sua trajetória pintando silenciosamente e procurando pesquisar e ler muito sobre as técnicas de pintura. Foi algumas vezes a São Paulo e numa dessas conheceu o pintor Newton Mesquita. Frequentou o seu ateliê durante uma semana sempre procurando aprender e observar seu processo de produção. Ficaram amigos, e continuam trocando informações. Guarda com orgulho sete telas em pequenos formatos de autoria de Newton Mesquita, e uma tela que ele pintou de seu neto. Conheceu outros artistas entre eles o Claudio Tozzi sempre procurando ouvir considerações sobre a arte que estava fazendo. Porém, em 2007 quando decidiu vender o colégio, seu tempo passou a ser preenchido totalmente pela pintura. Tem em seu apartamento cerca de trezentas obras de várias fases, muitas em grandes formatos. Na conversa que tivemos ressaltou que durante a pandemia pintou freneticamente e àquelas notícias de mortes pelo mundo afora, e também as discussões em torno das vacinas lhe afetaram emocionalmente. Isto aconteceu com milhões de pessoas em todo o Planeta , e ressaltou que “a pintura foi uma importante válvula de escape para expressar seus sentimentos e continuar levando sua vida.”
O ARTISTA

em oito obras de sua autoria.
O pintor Alceu Lisboa Filho nasceu em catorze de novembro de 1949 na cidade de Itambé, interior da Bahia, é filho de Alceu Lisboa Freire e d. Maria Lopes Lisboa. O casal teve seis filhos e seu pai era juiz de Direito da comarca de Itambé quando ele nasceu, porém, a família residiu em Camacã, Jacobina e em outras cidades. Fez o primário em Itambé e quando os filhos do casal concluíram o primário vieram com a sua mãe para Salvador para dar prosseguimento aos estudos. Foi assim que Alceu Lisboa estudou no Colégio Antônio Vieira, no bairro do Garcia, onde fez o ginásio e o primeiro ano científico. Depois se transferiu para o Colégio de Aplicação, localizado na Avenida Joana Angélica. Ao término fez vestibular para Engenharia Civil na Universidade Federal da Bahia . Com vinte anos de idade iniciou sua carreira no magistério ensinando Física no Colégio Antônio Vieira e no Curso Águia, que preparava os jovens para enfrentar o vestibular. Várias gerações foram alunos do professor Alceu Lisboa a exemplo do empresário e banqueiro Daniel Dantas, o político Jutahy Magalhães Júnior, os cantores Bel Marques e Ivete Sangalo, o jogador de futebol Bebeto, e muitos outros.

circulares.
Lá juntamente com outros professores decidiram em 1972 criar o curso de vestibular Nobel que funcionou inicialmente num casarão na Mouraria e depois no Corredor da Vitória, próximo à sede da ACBEU. Em seguida abriram outra unidade na Avenida Leovigildo Filgueiras, no bairro do Garcia. O professor José Nilton ensinava Português, Alceu Lisboa a disciplina Física, Antônio Pádua a Matemática e Antônio Pedreira a Biologia. Posteriormente em 1977 fundaram o Colégio Nobel. A primeira unidade funcionou no bairro do Rio Vermelho. O colégio teve excelente aceitação e abriram as unidades da Pituba, Itaigara e Vilas do Atlântico. A sociedade foi desfeita anos depois, e cada um ficou com uma unidade. O professor Zé Nilton é o único que ainda continua no segmento da educação com seu Colégio Apoio, em Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. O professor Antônio Pádua transformou na Faculdade Rui Barbosa, que funcionou no bairro do Rio Vermelho. A faculdade foi vendida , e hoje funciona na Avenida Paralela. Já Antônio Pedreira ficou com a unidade da Pituba, também se desfez do colégio , e atualmente exerce a profissão de psiquiatra. Alceu Lisboa ficou com a unidade do Colégio Nobel localizada no bairro do Itaigara e com a marca Colégio Nobel. Em 2017 vendeu abraçando a pintura em tempo integral.

variadas Alceu cria obras que agradam
os olhos do espectador.
Seu primeiro professor de pintura foi o artista Waldo Robatto e depois Sérgio Fingermann e Newton Mesquita. Adquiriu muitos livros de arte em livrarias daqui, nas viagens que fez no exterior e também através da internet sempre procurando observar e ler sobre as técnicas de pintura. Depois decidiu doar anonimamente cerca de setecentos desses livros de arte à Biblioteca da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. As leituras, pesquisas e visitas a museus em vários países lhe deram um bom conhecimento técnico e facilitou no seu dia a dia pela busca de soluções para execução de suas pinturas.

na ACBEU.
O artista Alceu Lisboa disse também que os estudos de ótica que fez durante os anos que estava no magistério ensinando Física também o ajuda na sua arte para entender a combinação de cores, embora ele tenha no seu ateliê uma grande quantidade de tubos de tintas importadas de várias matizes de cores. Dificilmente usa uma cor crua ou primária em suas obras, sempre procura misturar para encontrar uma cor diferenciada que lhe agrade. Também possui uma grande quantidade de pincéis, e o curioso é que tudo está disponível , separados e identificados em caixas. Toda esta organização deve-se à professora Arlinda Lisboa, com quem está casado há décadas, que funciona como sua assistente. Ela também foi professora da disciplina Biologia, no Colégio Nobel, do bairro do Itaigara.