Aventureiro inglês foi o protótipo de Indiana Jones

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Por Elieser César
Sir Richard Francis Burton – O agente secreto que fez a peregrinação a Meca, descobriu o Kama Sutra e trouxe As mil e uma noites para o Ocidente, de Edward Rice: Protótipo de Indiana Jones.

De tão aventureira que foi a sua vida, ele parece um personagem inverossímil, um produto da literatura ou do cinema, como Indiana Jones, para o qual parece ter servido de protótipo. Richard Burton (1821-1890) foi explorador, soldado, escritor e até agente secreto inglês.

Ele falava 29 línguas e vários dialetos e, por sua pele morena e aparência de cigano se passava por nativo de diversas terras do Oriente, inclusive numa perigosa peregrinação à Meca, terra sagrada do Islã, disfarçado de dervixe, uma espécie de andarilho místico, num tempo em todo homem ocidental, se descoberto, era morto no deserto.

Foi ainda o primeiro europeu a entrar em Harrar, cidade santa na África Oriental, quando antes dele trinta brancos foram expulsos ou mortos. Explorou as regiões mais indomáveis de Sind, Baluchistão e Pundjab. Está pouco? Pois Richard Burton (não confundir com o ator inglês que casou, descasou e voltou a casar com Elizabeth Taylor) viajou em busca das nascentes do Nilo e navegou 2 mil kms pelo rio São Francisco, no Brasil, a bordo de um aluno, embarcação primitiva.

Traduziu e introduziu As mil e uma noites no Icidente, sabendo de cor vários episódios que contava para uma plateia atenta de árabes nas noites de lua, e obras eróticas da literatura oriental como o Kama Sutra e O Jardim Secreto. Trabalhou ainda numa tradução de Os Lusíadas, de Camões, e estudou doutrinas e seitas gnósticas, como sufismo, chegando a dominar como poucos a taqiya (dissimulação ou ocultamento), prática muçulmana xiita de esconder as crenças religiosas.

Richard Burton se interessou também por doutrinas esotéricas como a teosofia, a cabala e também Hermes Trismegisto (triplica mente grande), sábio egípcio lendário e mestre dos hermetistas dos três primeiros séculos cristãos. Gabava-se de ter sido o primeiro a utilizar a expressão “extrasensory perception”, percepção extrassensorial.

Quem quiser saber muito mais desse aventureiro avant la letree, basta ler a alentada biografia Sir Richard Francis Burton, do escritor, editor, fotógrafo, jornalista e pintor inglês Edward Rice, publicada no Brasil pela Companhia de Bolso.

RADICAL DEMAIS

É! Tudo neste livro, de quase setecentas páginas, parece ser exagerado, como a vida múltipla do biografado.
Logo nas primeiras linhas, Rice adverte: “Se um autor vitoriano do mais romântico estofo tivesse criado o capitão sir Richard Burton, o público e a crítica, naquela época tão racionalista, decerto criticaram a personagem como uma figura muito implausível e radical demais. Burton foi o típico estudioso-aventureiro, um homem que se sobressaía física e intelectualmente, soldado, cientista, explorador, escritor que, durante boa parte de sua vida, também seguiu a mais romântica das carreiras, a de agente secreto.”

No Irã, o intrépido aventureiro conviveu com os Ismaelitas, conhecidos como uma seita de assassinos, “pois tinham desenvolvido técnicas para eliminar inimigos políticos e religiosos, mas provavelmente fazia muitos séculos que não cometiam assassinatos.”
Em busca do túmulo de Maomé visitou Medina (a segunda cidade sagrada dos mulçumanos, a primeira é Meca e a terceira Jerusalém). Como lembra Edward Rice, a visita a Medina confere ao peregrino o título de zair (a visita a Meca o converte num Hadji)”.

Entre os somalis, Burton recolheu as melancólicas odes conhecidas como belo, a exemplo desta embalada em filosofia:

“O homem é apenas um punhado de pó,
E a vida é uma tempestade violenta.”

Entre as tribos da antiga Somália, Richard Burton por pouco não vira um punhado de pó. Foi “seriamente afetado por ferimentos que teriam levado outro homem ao túmulo e voltou à Inglaterra para se tratar.” O troféu de guerra? “Além de perder quatro dentes, arrancados pelo impacto da lança somali até o maxilar superior, e do ferimento do céu da boca, suas duas faces foram perfuradas. Burton mal conseguia falar. Entregou-se aos cuidados de um cirurgião e de um dentista e se recobrou com notável facilidade, embora tenha ficado com a face esquerda desfigurada, a face que ele gostava de mostrar…”.

O destemido Richard Francis Burton fez trabalhos diplomáticos em Damasco,Triste e também no Brasil (para o qual Rice dedica um capítulo inteiro). Já com o corpo debilitado por tantas aventuras, morreu, por problemas cardíacos, aos 69 anos de idade, 1890, deixando seu rico legado literário aos cuidados da viúva, Isabel Burton, que incentivou a vida eletrizante do marido. Um final que soaria também implausível diante de tantos perigos que Burton enfrentou, incluindo uma perseguição no deserto, quando procurado por mais de duzentos homens montados em dromedários.

Ainda em vida Richard Francis Burton recebeu da Coroa Britânica o título de sir. Seus últimos anos de vida desfrutou da fama de uma celebridade pop moderna.Sua biografia pode ser lida como um romance de aventura, a aventura real de um homem de carne e osso e não imaginária como a de um herói do cinema, Indiana Burton.