Brasil: dentistas, pacientes e políticas públicas

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Por Alessandra Nascimento
Meus amad@s leitores, estou de volta! E vou estar escrevendo nos próximos artigos situações pertinentes à saúde no país. Pois é ! O Brasil é um país de grandes contrastes e distorções. Li numa reportagem que somos o país com a maior concentração de dentistas do planeta, porém a maioria da população não vai ao dentista. Me surpreendi com contradição na informação. Mas convém saber interpretar e separar o joio do trigo. Consulta é uma coisa e procedimentos necessários a serem realizados dentro de um tratamento é outra. O “depois” da consulta, digamos assim. E se não há cobertura financeira para isso o bicho pega.

Vou explicar com uma história bem próxima a mim. (Lá vem textão!) Tenho acompanhado de perto as idas e vindas de uma amiga com o tratamento ortodôntico da filha de oito anos. O primeiro empasse foi a questão do plano de saúde, que também é odontológico, com  a negativa da cobertura.

O mesmo plano cujos médicos acompanharam a criança desde seu primeiro ano de vida e sabiam de todo o seu diagnóstico clínico e os diversos problemas que ela teve associados à sua arcada dentária incorreta. Dificuldade em alimentar-se e em pronunciar determinadas palavras, ataques de rinite,…  eram todos consequência direta do desvio da arcada superior.

Para terminar veio a questão estética associada à vida escolar, os apelidos, como chamávamos em minha época e agora recebe o nome de bulling.

Os exames necessários para o aparelho precisaram ser pagos com recursos próprios da mãe da criança já que como havia adiantado acima, o plano se negou a bancar. Todos esses exames foram essenciais para o profissional ortodontista fazer a análise mais assertiva sobre a posição incorreta dos dentes e o tipo de aparelho a ser usado no caso. A situação envolvia ainda, conforme minha amiga me confidenciou, a descoberta por estes exames do desgaste mandibular uma vez que, para não se machucar na alimentação, desde que os dentes nasceram a pequena passou a morder com maior frequência de um único lado da boca o que a prejudicou.

Minha amiga uniu forças (e dívidas) e conseguiu os R$ 3 mil necessários à aquisição do aparelho e manutenção somente deste ano. Se o aparelho quebrar vai precisar pagar por fora os custos do conserto e, para 2025, a filha passa por nova avaliação e, se houver necessidade de novo aparelho vai precisar ser feito para a continuidade no tratamento que, segundo ela me disse, deve durar três anos.

Mas mãe é mãe e ela faz de tudo pela pequena. E eu tô nessa dando o maior apoio. De minha parte, sempre chamo atenção à sua filha dos esforços de sua mãe para que ela cuide do aparelho e que ele não sofra nenhum dano.

Agora retorno ao primeiro parágrafo deste artigo – às distorções deste imenso país chamado Brasil.  Me desculpem mas que raios de pesquisa é essa que não leva em conta que a ida ao dentista também implica em tratamentos e exames. Os planos, sempre que podem e amparados pela pífia fiscalização e dubiedade da legislação, fazem o possível e o impossível para deixar a quem os contratou e paga religiosamente em dia a mensalidade, na mão em momentos como este.

É caro o custo de alguns tipos de exames mais específicos como também o custo de produção do aparelho ortodôntico. E não estou falando do desgaste emocional de situações como esta que chegam a ser humilhantes.

Saúde é um tema apartidário. Não pertence à direita, centro, esquerda, mas é de todos! Simplesmente existem vidas necessitando ser atendidas, socorridas, ajudadas! Temos um sistema privado que cria conflitos o tempo todo para não dar a atenção correta ao contratante dos seus serviços e, do outro lado, um sistema público de saúde que ainda deixa e muito a desejar e precisa ser aperfeiçoado para atender com rigor a finalidade a que se  propõe.

Estive ano passado visitando a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Conheci as instalações e equipamentos para a formação dos alunos universitários e também estão à disposição da atenção para a população que necessita dos serviços odontológicos. São de excelência e confesso que fiquei maravilhada com o que vi.

Sem dúvida essa é a parte pública que me deixou orgulhosa. A diretora Sônia Chaves, que me recebeu com um grande sorriso, me mostrou as instalações de uma instituição de ensino que tem à disposição aparato tecnologico de primeira. E o que mais me arrepiou foi ver a atenção com as crianças. Os aparelhos, a continuidade no tratamento, a humanização na atenção pública.

Com certeza uma bela geração de profissionais talentosos e habilmente qualificados está a caminho. Porém, ainda assim, temos um vácuo. 

O caso de minha amiga não é isolado. Onde está a presença do poder público em apoiar e fazer a interlocução. Onde entram as políticas públicas?

Temos profissionais mas precisamos de mais equipamentos e assegurar que as necessidades da população sejam atendidas em  tempo hábil. Precisamos de maior agilidade e urgência no servir.

Trago essa discussão em ano de eleições municipais.  Você já parou para ver as reais necessidades de seu município? Você já parou para refletir que a saúde está acima de direcionamentos políticos,  ou seja, não é de direita, nem de esquerda, nem de centro como já escrevi aqui e propositadamente voltei a escrever com fins de reflexão?

Precisamos ter maturidade e bom senso para perceber isso e saber interpretar o contexto. Não adianta ter a maior concentração de dentistas do mundo segundo estatísticas se o profissional vai ter do outro lado um paciente, que não tenha condições de pagar pelo seu tratamento e o Estado que não se faça responsável por garantir que, depois desse mesmo atendimento, o cidadão possa ter medicamento e tratamento adequado tendo ou não recursos financeiros para isso.

Encerro o artigo desta semana com uma frase de Sócrates, o pai da filosofia: “⁠Um homem que não se ocupa de política deve ser considerado não um cidadão tranquilo, mas um cidadão inútil”.

Precisamos nos colocar mais no lugar do outro para construir um país cujas políticas atendam de fato o bem-estar da população. Até a próxima!
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Alessandra Nascimento é editora-chefe do Site Café com Informação; Articulista do Jornal Tribuna da Imprensa,  do Rio de Janeiro; Correio Regional e Portal Noticia Capital. Ex-correspondente Internacional.