Por Zulu Araújo
Entre 1884 e 1885, se reuniram em Berlim, sob os auspícios do Chanceler da Alemanha Otto Von Bismark, as nações do Reino Unido, França, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Itália, Países Baixos, Portugal, Rússia, Suécia-Noruega; Império Turco-Otomano, mais os Estados Unidos, para realizarem a Conferência mais importante e famosa do século XIX – a Conferência de Berlim.
Com certeza, nenhum africano, por mais pessimista que fosse, imaginaria que naquela Conferência estaria se preparando o terreno, para o maior genocídio do qual o continente africano seria vítima, até os dias atuais.
O Holocausto Negro, praticado pelo Rei Leopoldo II, da Bélgica.
Para quem não sabe, a Conferência de Berlim, sob o argumento de que a Europa precisava discutir o “futuro da África”, reuniu reis e rainhas da Europa, que disputaram e dividiram o continente africano, para assim explorar suas riquezas, escravizar o seu povo e matar todos aqueles que se opusessem.
Detalhe importante: nesta Conferência não havia um único representante do continente africano.
Além de praticarem a maior pilhagem de terras em todos os tempos, ninguém imaginaria que o primeiro passo para o cumprimento dos seus objetivos fosse o assassinato e a mutilação de mais de 10 milhões de africanos do Reino do Congo. Tudo isso feito com o beneplácito e a conivência das potências mundiais de então.
Imaginem vocês, que o século 19, para os europeus e a filosofia europeia, foi e continua sendo o século das luzes. É quando a Europa anuncia o humanismo e o iluminismo, como a porta de entrada da modernidade. Modernidade assentada nos princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Mas, não para todos, apenas para os europeus.
Parece lenda, mais não é. Nessa Conferência, o Rei Leopoldo II, da Bélgica, um tirano, que tinha como objetivo principal fazer a Bélgica – “maior, mais forte e mais bonita” e que para concretizar esse sonho colonial, não poupou esforços, nem crueldades.
Após ter sido agraciado, pelos seus pares europeus, por meio de uma empresa criada por ele e da qual era o seu sócio majoritário, intitulada Association Internationale Africaine (AIA), com a área de 2,345,409 km² (dois milhões, trezentos e quarenta e cinco mil e 409 quilômetros quadrados) do território africano, o Rei Leopoldo deu início ao seu reinado de terror no Reino do Congo.
Logo ao assumir a propriedade, criou o “Estado Livre do Congo” (quanta ironia) e lá reinou de 1885 a 1908, cometendo toda sorte de brutalidades. Nesse período o negócio principal do Rei era explorar trabalhadores congoleses, até a morte, para prover a Bélgica dos recursos necessários para transformar-se numa grande potência.
Para muitos estudiosos, esse foi o primeiro holocausto praticado pelo Ocidente no mundo e que teve como palco o Reino do Congo, tal o grau de barbaridades que foram cometidas. Crianças, mulheres, idosos foram submetidos a regimes de trabalhos forçados para a exploração de recursos naturais, extração de marfim e látex e caso não cumprissem as cotas eram torturadas, tinham as mãos mutiladas e/ou assassinadas, além de serem submetidas a toda sorte de privações.
Não há nada no mundo, até os dias atuais, comparáveis as atrocidades cometidas pelo Rei Leopoldo II entre 1884 e 1908.
Seguramente, esse foi o primeiro experimento nazista do mundo ocidental e com resultados numericamente, muito superiores e mais trágicos do que o ocorrido contra os judeus, na segunda guerra mundial.
Mas, ainda assim, continua sob uma verdadeira cortina de fumaça, protegida pelo ocidente, em particular os países europeus, sem que os seus responsáveis tenham sido punidos até hoje, por esse crime de lesa humanidade.
Enfim, este é o legado civilizatório da Bélgica no continente africano, com consequências trágicas até os dias atuais e que são tratadas cinicamente pelos belgas e europeus. Lamentável.
Toca a zabumba que a terra é nossa!