CRÔNICA – Falta de Ética

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Por Jolivaldo Freitas

– Mas você não tá vendo que isso só prejudica os outros homens?

– Como assim?

– Você faz tudo o que sua mulher pede.

– Mas tem de ser assim.

– Pior – você faz até o que ela não pede, antecipando o seu desejo.

– Mas, e daí?

– E daí é que todas as mulheres do grupo te apontam como exemplo de marido, e como fica a nossa situação? Nós sabemos que sua atitude não é usual nessa nossa classe humana, hétero, tanto faz de anel no dedo, sem anel, de papel passado e sem papel. Você tem uma atitude fora da curva. Pense em nosotros!

– Eu acho que tenho de pensar em minha mulher, agradá-la no que for possível!

– Meu caro, você faz até o impossível! Pense nos amigos!

– Eu penso, só não sabia que estava prejudicando a relação de vocês com suas respectivas esposas.

– Pois está! Principalmente às quartas à noite, quando você liga para dizer que não vai para um baba porque sua mulher não quer ver o capítulo da novela sozinha. Qual marido deixa de ir a uma pelada para ficar vendo capítulo de novela?

– Eu!

– Você não vale, estou a dizer.

– Acredite, eu gosto.

– E quando sua pessoa não vai para o pôquer da sexta para levar a mulher ao shopping? Shopping e sábado, e olhe lá.

– Ela gosta da minha presença.

– Tá difícil me fazer entender, e eu só estou tentando lhe passar o que o grupo anda comentando: que você é uma pessoa nefasta e que vai destruir o casamento de todo mundo.

– Não tenho culpa, é meu jeito.

– Você sempre foi assim e sempre nos criou problemas. Lembra quando a gente pegava as meninas na faculdade e levava para motel? Lembra? O que acontecia? Você, indo contra as leis da natureza, acabava de se relacionar, pagava a conta e levava a garota para jantar e ficar batendo papo quase até o dia amanhecer.

– Eu gosto de bater papo!

– Mas cara, você parece que nunca ouviu falar em endorfina ou em prolactina. O homem, quando acaba de fazer sexo, tem um relaxamento profundo. Fica querendo um descanso. A mulher, não, ela fica mais acesa por causa da vasopressina e outras químicas que a conduzem a querer mais empatia. Melhor seria repetir a dose.

– Claro que sei, mas gostava de fazer assim.

– Com isso você tinha a fama de gentleman, de cara romântico, e a gente de cafajeste. Lembra que a namorada de Cláudio largou ele porque o cara não quis levá-la para jantar depois do “vapt-vupt”, e olha que o motel era no Imbuí e o restaurante na Ribeira. Que desatino!

– Lembro, porque ela veio namorar comigo, e Cláudio ficou meu inimigo até hoje.

– E as meninas lá da república onde a gente morava? Você namorou todas com essa sua mania de não esquecer data de aniversário, Dia da Mulher, Natal e até no São João você oferecia balas de jenipapo trazidas do interior.

– Até hoje faço isso com minha mulher.

– Rapaz, vê se muda, está prejudicando os amigos. Lembre-se de que você tem filho, que não vai se ligar nessas coisas, e filha, que vai se ligar e não vai achar namorado que faça igual a você. Aliás, tome tenência. Tenha ética.