Desgoverno e coprolalia

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Por Joaci Góes

Ao casal amigo Fabiana e João Martins Júnior!
Embora cresça a percepção de que o atual governo não chegará ao fim dos quatro anos de sua dimensão constitucional, tamanha a acumulação de erros graves cometidos, nos primeiros cem dias, pensamos que, pior, para o País, do que uma inconveniente interrupção precoce, será sua trepidante continuidade, num ambiente marcado por inéditos desencontros que aprofundam e intensificam os sofrimentos da grande maioria do povo brasileiro.

De fato, a prova abundante e cabal do envolvimento de algumas das maiores autoridades, dos três poderes, na construção da narrativa de que o vandalismo de 8 de janeiro foi o resultado de uma tentativa de golpe, articulada por integrantes do governo anterior, é de gravidade equivalente ou maior do que a declaração do atual presidente que sua principal missão, no cumprimento de novo mandato, será vingar-se dos que o mandaram para a cadeia, sem a preocupação de proteger a criança (o povo brasileiro), antes de jogar fora a água suja.
Em qualquer democracia, minimamente digna desse nome, seria alvo de processo de impeachment toda e qualquer autoridade relevante flagrada com declaração do tipo que Lula fez contra o Senador Sérgio Moro. Mais grave, ainda, quando, na prática, serão nossas populações mais carentes as vítimas da indecorosa ameaça presidencial formulada em linguagem de baixo calão, ou coprolalia, palavra de origem grega para expressar o desejo-necessidade incontrolável de proferir palavrões, por pessoas afetadas por uma doença psiquiátrica chamada Síndrome de Tourette e ou Síndrome de Lesch-Nyhan. Esse palavreado chulo, proscrito da boa convivência social, recorre, preferencialmente, a excrementos, genitálias e a práticas sexuais heterodoxas.
Evidenciando sinais de embriaguez, para uns, e ou demência, para outros, em tempo absolutamente recorde, “a alma mais honesta deste mundo”, no intervalo de dois dias, deitou falação declarando-se aliado ao propósito de desestabilizar o dólar, criando uma nova moeda, movimento liderado pela poderosa China, com a parceria mambembe de países como, Venezuela, Nicarágua, Cuba e quejandos; em seguida, desceu o malho na OTAN, em favor do fascista Putin, recebendo um ultimatum que o levou a desdizer-se, em 24 horas, sob pena de retaliações econômicas que levariam o Brasil a nocaute. Pouco antes, em artigo de grande repercussão, José Nêumanne Pinto denunciara a falta de classe de Lula ao receber chefetes de estado em trajes circenses, sem a menor sintonia com a liturgia do elevado posto que ocupa, em flagrante desrespeito à maioria da população brasileira. Curiosamente, o visitante em questão, antes e depois de visitar o Brasil, aparecia em suas visitas oficiais a países pequenos e médios, vestido de modo adequado. Esse tipo de procedimento antiprotocolar Lula deveria reservar aos seus domínios privados.
Desgraçada e substantivamente, as consequências ruinosas para o Brasil dessa quebra de princípios, em múltiplas dimensões, já se fazem sentir nos índices de desempenho econômico nacional, abortando as possibilidades de elevação da qualidade de vida da população, sobretudo dos segmentos mais pobres, apontando para o agravamento dos problemas sociais, no campo do emprego, da alimentação, saúde, longevidade e segurança pública. Como não há vazio de poder, o Presidente passou a ser refém do Centrão e de alguns dos seus auxiliares.
Otimistas que somos, pensamos que ainda há tempo para evitarmos o agravamento de um futuro imediato que decorre do modo desastroso de conduzir a vida nacional. Basta que o Presidente tire os olhos do retrovisor, areje sua mente poluída pelo ódio nascido de sua merecida punição pelos ominosos crimes que cometeu, agradeça aos céus o equívoco de sua descondenação e renasça como aconselha o poeta Geir Campos, em poema citado pelo saudoso colega Cláudio Melo, orador de nossa turma em Direito: “Não faz mal que amanheça devagar… o que cabe é ter enxutos os olhos e a intenção de madrugar!”