É avião ou ventilador? Ou voe e passe

Por Jolivaldo Freitas
Tudo bem que foi uma piada sem graça, mas algumas passageiras riram porque achavam a mesma coisa. O avião era da Voepass – o mesmo que caiu recentemente e que a empresa assegura estar autorizado a voar com uma licença temporária de dezoito meses concedida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), mas que, devido aos inúmeros problemas, deveria ter sido banido do espaço aéreo brasileiro. Por outro lado, fique logo sabendo, é falso que tenham dito que havia peça colada com chiclete. No entanto, parece mesmo que havia peça presa com palito de dente. Esse palito que você costuma usar depois do almoço e que gente fina acha um horror pela falta de finesse.

Apenas um desabafo: fico pasmo com o fato de a Anac não ter visto nada disso numa empresa que já vinha sendo acusada até por ex-funcionários de não dar atenção à manutenção e nem ao perigo. Vi numa notícia que os mecânicos da Voepass haviam colocado, meses atrás, num relatório, que o avião – o mesmo que caiu – não deveria ir em direção ao Sul do país, e não é que foi? Era para ter caído antes. O avião não estava sequer apto a registrar todos os parâmetros operacionais exigidos pelo Regulamento Brasileiro de Aviação Civil. Não deveria ter havido um puxão de orelha para o pessoal da Anac?

Ninguém sabia que o avião não tinha funcionalidade dos freios (pressão e aplicação dos pedais direito e esquerdo), sistemas de pressão hidráulica e todas as forças de comando dos controles de voo (volante, coluna e pedais), conforme foi divulgado? Em relação à Anac, lembro que, acho que em 2015, houve uma grande celeuma porque o governo – a Presidência da República – queria colocar amadores na sua direção. Entidades e especialistas do setor aéreo repudiaram a nomeação de apadrinhados políticos sem qualificações, e não era só o governo que queria isso. Na verdade, essas agências reguladoras são tomadas por apadrinhados políticos. Há até troca de tapas no Congresso Nacional, com direito a xingar a mãe e dedada no olho para garantir vaga.

Mas qual foi a piada que deixei escapar? Foi quando, pela primeira vez, comprando passagens por uma grande empresa aérea para ir ao município de Barreiras, ao sair do ônibus que leva passageiros para o voo, me deparei com o avião da Voepass (o mesmo que caiu, repito) me esperando. Não aguentei e perguntei ao funcionário da empresa:

— Por favor, pode me dizer se o ventilador é Walita ou GE?

Tinha até esquecido que a General Electric não fabrica mais ventiladores. Fechou as fábricas no Brasil. A aeronave tinha somente duas hélices e eu esperava um avião com motor a jato. O funcionário não gostou. Mas, em outra ocasião, chegando a Barreiras – pois fiz várias viagens no temível avião (esse mesmo que se espatifou) – ao me despedir da comissária de bordo, disse:

— Não se preocupe, o ventilador é Britânia!

Ela me respondeu:

— Antes fosse!

E seguiu viagem em direção a São Paulo. Será que ela estava no fatídico voo? Vai saber.


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Escritor e jornalista autor do romance: “A Peleja dos Zuavos Baianos Contra Dom Pedro, os Gaúchos e o Satanás” e “Histórias da Bahia – Jeito Baiano”