Por Victor Pinto
Desde as minhas primeiras recordações sobre televisão, Silvio Santos sempre foi uma figura central. Seu carisma, sua habilidade como comunicador e, sem dúvida, seu papel como um dos maiores empresários do entretenimento brasileiro marcaram não apenas minha infância, minha adolescência, juventude e o caminho que decidi trilhar no campo da comunicação, mas também a de milhões de brasileiros, mesmo aqueles não tão antenados na estética ou na técnica televisiva.
Como meu papo é de política, não poderia deixar de apontar um fato ligado ao Senor Abravanel. Em 1989, Silvio quase deixou de ser apenas o “homem do Baú” para aproveitar sua popularidade e se tornar o líder de uma nação. A pergunta “E se ele tivesse vencido e se tornado presidente?” nos leva a refletir sobre como o Brasil poderia ter sido moldado sob sua liderança. Ou ter caído em desgraça.
Silvio Santos não teria sido, na minha humilde opinião, um político convencional, e talvez esse fosse seu maior trunfo. Ao contrário de muitos que disputaram o pleito, Silvio trazia consigo a imagem real e concreta daquilo que chamamos no meio de um outsider, alguém vindo de fora do sistema político tradicional, o que, na época, ressoava com um público cansado de promessas não cumpridas. Seu discurso era simples, direto e, para muitos, sincero. Ele próprio admitia não querer discutir um plano de governo detalhado, mas sim cercar-se de pessoas honestas e competentes. No entanto, essa simplicidade poderia ser vista como um trunfo ou uma vulnerabilidade.
Há quem argumente que Silvio Santos, com sua capacidade inata de delegar e confiar em especialistas, poderia ter promovido uma administração voltada para a eficiência e o bem-estar social. A política exige mais do que carisma e boas intenções. Silvio, que sempre foi um grande empresário, poderia ter se deparado com as complexidades do cenário, enfrentando dificuldades para implementar suas ideias num sistema muitas vezes travado por interesses diversos.
No livro “Sonho Sequestrado”, de Marcondes Gadelha, Silvio expressou sua confiança de que poderia ter melhorado as condições das pessoas mais necessitadas. Mas será que essa visão otimista resistiria às realidades da administração pública? O fato de sua candidatura ter sido impugnada após apenas dez dias deixou essa pergunta sem resposta, perpetuando o que muitos veem como um dos maiores “e se?” da política brasileira.
Silvio Santos, como presidente, teria sido um líder diferente, isso é inegável. Mas a pergunta que permanece é: essa diferença teria sido positiva para o Brasil?
Fernando Collor foi um dos mais preocupados pelo movimento. Como destacou o portal UOL neste fim de semana, Francisco Rezek, então presidente do TSE e ministro do STF, anunciou a impugnação em cadeia nacional de rádio e TV, ponderando ao final que “a inelegibilidade não desabona ninguém”. Após a vitória de Collor, Rezek foi nomeado ministro das Relações Exteriores, permanecendo no cargo até abril de 1992, quando retornou ao STF por indicação do próprio Collor.
Seja como for, Silvio Santos continua a ser uma figura icônica, tanto na televisão quanto na memória coletiva do Brasil. Seu legado, independentemente das especulações sobre sua breve incursão na política, é inquestionável na história da comunicação brasileira. E, como fã de sua trajetória, não posso deixar de imaginar o que poderia ter sido essa incursão.