ELISA GALEFFI E SUA ARTE EM DIFERENTES SUPORTES

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Por Reynivaldo Brito
Todos que estudaram na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia e acompanharam e acompanham o crescimento  das artes visuais nas últimas décadas quando ouvem ou veem escrito este sobrenome Galeffi recordam do professor e crítico de arte Romano Galeffi que ministrou suas aulas na EBA, escreveu livros e artigos na imprensa local. Hoje vamos conhecer melhor uma de suas filhas a Elisa Romano Galeffi, que assina suas obras como Elisa Galeffi, nascida em Salvador no dia quinze de maio de 1955, juntamente com sua irmã gêmea e também artista plástica Virginia Romano Zart. Seu pai Romano Galeffi era professor de Filosofia da Arte e Estética, e sua mãe Maria Luigia Magnavita Galeffi, professora de italiano, na Faculdade de Letras, na Universidade Federal da Bahia. Eles vieram da Itália para a Bahia em 1948, 

portanto no pós guerra, quando o reitor Edgard Santos estava empenhado em instalar a Universidade Federal da Bahia e para isto recrutou professores daqui e de fora do país. Foram os tempos áureos da Universidade Federal da Bahia. Aqui o professor Romano Galeffi fundou a cadeira de Estética e sua esposa Maria Luigi Magnavita foi ministrar aulas de italiano na então Faculdade de Filosofia e Letras da UFBA, que funcionava na Avenida Joana Angélica, em Salvador, e tiveram  cinco filhos. A grande maioria dos filhos é professor e um deles tem uma pizzaria. Sua mãe também fundou a Associação Cultural Ítalo- Brasileira Dante Alighieri, que funcionava na sede do Clube Casa D’Itália, no bairro do Campo Grande, e depois foi transferida para sua sede atual na Rua General Labatut, no bairro dos Barris, também em Salvador.

Elisa se inspira na natureza que lhe
cerca no sítio onde reside atualmente.

                                                 SUA TRAJETÓRIA

Falando de sua infância lembrou que nos primeiros anos moravam no bairro do Politeama e que depois seu avô Pasquale Magnavita fez um prédio de nove andares no bairro dos Barris, na Rua Travessa dos Barris, que fica atrás da Biblioteca Central. Ela e seus irmãos não brincaram na rua como acontecia na época, principalmente com as crianças que moravam em bairros populares ou no

interior do Estado. Neste prédio moravam também as famílias de seus tios e assim as brincadeiras eram com irmãos e primos no playground. Sua família é da região da Calábria, na Itália, e seus avós chegaram à Bahia em 1913 antes da Primeira Guerra mundial. Foi o pároco da cidade onde eles moravam, na Itália, que avisou que a guerra estava prestes a romper e era melhor saírem para ficarem seguros. Foi assim que vieram e aqui tiveram catorze filhos.

A Elisa Galeffi fez seu curso primário no Instituto Dante Alighieri e o curso colegial no Colégio das Mercês, que funcionava na Avenida Sete de Setembro, em Salvador. Em 1974 prestou vestibular para a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e relembrou que no início ficou receosa de desistir do curso. Mas, prosseguiu e passou a fazer oito matérias por semestre, e assim terminou a faculdade em quatro anos. Disse que foi uma aluna dedicada e que graças ao que aprendeu na Escola de Belas Artes tem um gosto especial em experimentar. Ao concluir o seu curso na Escola de Belas Artes em 1978 conseguiu uma bolsa de estudos para estudar Design na Universitá Internazionale Dell’Arte, em Florença, Itália , de 1979 a 1980 – “Conservação e Restauração de Obras de Arte” na Universitá Internazionale Dell’Arte; em 1980 estudou Restauração de Bens Móveis na Escola de Belas Artes da UFBA e em 2007 Arte e Filosofia” , Latu Sensu , na Pontifícia Universidade Católica (PUC) – Rio de Janeiro/RJ.

Foram anos de muito aprendizado porque como sabemos a cidade de Florença é um grande museu a céu aberto e lá você respira arte todo tempo. Lá estão obras importantes de Michelangelo como a bela escultura de David, dentre outras. Elisa Galeffi voltou em 1980 . Ela  é dessas artistas que gosta de resolver todas as etapas do seu trabalho artístico. Disse que quando tentou terceirizar alguma etapa não se deu muito bem, então prefere ela mesma realizar todas as fases de suas obras. Criou uma marca chamada Tuto a Mano e passou a fazer objetos em série para vender. Abriu um bazar e assim fazia estamparias em almofadas, tangas, lenços de cabeça e muitos outros produtos. Brincando ela lembrou que até hoje seu tio o arquiteto Pasquale Magnavita tem umas almofadas que ela fez.

Trabalhou  de 1982 a 1991  como Conservadora e Restauradora,  e depois foi ser professora nas Oficinas de Expressão Artística do Museu de Arte Moderna da Bahia, MAM-Ba  ensinando  Desenho de Padronagens e Estamparia sobre Tecido . Em 1980 foi professora de História da Arte, na Universidade Católica de Salvador.

Pássaros pintados em tijolos
 de demolição.

Em seguida trabalhou restaurando obras de arte. Lembra que a Bahia tinha um mercado de arte ainda incipiente e que os artistas promoveram uma campanha para que ao construir um prédio as construtoras fossem obrigadas a colocar uma obra de arte nos seus empreendimentos imobiliários. Foi criada uma lei municipal com esta finalidade e isto funcionou por um determinado período, mas depois esta obrigatoriedade foi relaxada.

                                         GOSTA DE EXPERIMENTAR 

Monogravura  feita no Parque
Lage-RJ , em 1991.

Ela tem um olhar atento e gosta de experimentar e utilizar todo tipo de suporte, além  de restauração de obras de arte e de móveis antigos. Em Florença teve a oportunidade de aprender a lidar com o moderno e o antigo e aqui restaurou móveis de sua própria casa e de parentes, porque segundo me disse  é importante valorizar os materiais de que esses móveis são feitos. Em 1984 se casou e o esposo foi transferido pela Odebrecht onde trabalhava para a cidade do Rio de Janeiro. Hoje estão morando numa casa que construíram na zona rural próxima a cidade de Araras-RJ. Os dois filhos já estão adultos e tocando suas vidas. Reconhece que nunca foi uma artista de carreira, mas que foi fazendo coisas durante sua trajetória e no período que morou no Rio de Janeiro viu as dificuldades para expor numa galeria. Diante disto vai fazendo suas experiências, procura utilizar outros suportes para expressar a sua arte, faz fotografias e na sua convivência com o campo tem se dedicado a captar as formas e cores da fauna e da flora. Falando da vegetação disse que cada folha  tem um mundo particular e rico e assim vai registrando esses detalhes. Tem uma folha mais verde, outra vai envelhecendo uma parte fica amarela, depois seca. Outra fica retorcida, outra se bifurca, etc. Também gosta de andar no campo e na praia e sempre encontra uma raiz , um pedaço de tronco, uma boneca abandonada, uma pedra e recolhe esses materiais para depois utilizá-los em suas obras. Ela tem uma série de esculturas e objetos feitos com este material

reciclado. Me disse que lá no Vale das Videiras, onde mora, usam muito o que chamam de nó de pinho para acender o fogo das lareiras e que esta madeira tem formas incríveis. “Tenho necessidade de retratar o design criado por Deus e a sua multiplicidade de formas e cores”, adianta Elisa Galeffi. Até uma ferramenta agrícola ela transformou num pássaro. Por falar em pássaro com uns velhos tijolos de uma demolição Elisa Galeffi fez uma série de pinturas representando os pássaros da região e alguns exóticos. Gosta mais de trabalhar com tijolos já usados porque têm uma textura melhor enquanto os novos as suas faces são mais lisas. Fez também uma série de máscaras usando restos de madeira que são utilizados para fazer cercas, grampos de pregar arame, pregos e parafusos.  Realmente este olhar atento da Elisa Galeffi é o que lhe impulsa a continuar criando.

Também trabalha usando o stencil que é uma espécie de molde vazado onde o artista tem diversos tipos de desenhos, escolhidos de acordo com a sua necessidade e a temática que vai trabalhar. Lembro que uma das formas de imprimir em série nos anos 70 usávamos o stencil para fazer os textos de protestos e alguns colegas conseguiam fazer desenhos nas matrizes e assim produzíamos jornais que eram distribuídos entre os estudantes. Este tipo de stencil não era de folhas de acetato, era de um material que lembra o papel. Quando a gente datilografava as teclas da máquina de escrever furavam o papel e por ali a tinta penetrava quando a gente colocava esta matriz para rodar no mimeógrafo. Atualmente existem stencil que já vem com os desenhos que são perfeitos porque usam o laser para cortar as folhas de acetato.Alguns artistas preferem eles mesmos fazer os desenhos na folha de acetato.

                                        EXPOSIÇÕES E CRÍTICA

 Quando expôs Séries , no Espaço BAHVNA, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador,   a Elisa Galeffi apresentou várias assemblages que são obras feitas com objetos diversos reciclados e colecionados. A propósito sua colega Lígia Aguiar que já expôs muitos artistas quando tinha sua galeria Abaporu, no Pelourinho, escreveu: “Ausente da cena artística de Salvador, desde 1991, quando se transferiu para o Rio de Janeiro, a artista baiana Elisa Galeffi, retorna agora e retoma o seu lugar até então adormecido. Com a mostra Séries, nos brinda com objetos, pinturas e fotografias, realizadas entre os anos 2000 e 2010. Expõe a sua delicada poética e deixa exposto o talento para ressignificar o óbvio. Reinventa a partir de materiais colecionados ao acaso. Tira partido da fotografia com as surpresas encontradas em caminhadas habituais pela urbe, onde brinca com o jogo de luz e sombra sobre os resíduos descartados. O resultado é de uma riqueza de forma e cor, com belas e contemporâneas composições. A sua verve Duchampiana dá um novo sentido às coisas tiradas da sua função, como as formas hexagonais destacadas pelo equilíbrio de cores, formadas com tampas de garrafas pet; a série de relógios com suporte de bacias de alumínio, nas quais Elisa nos envolve e nos leva a querer parar o tempo em nossas lembranças juvenis. Da sua natureza cordial e bem humorada surgem os objetos com um refinado humor. É o caso dos Filhos da Placa Mãe, e do ótimo e ambíguo título de um dos trabalhos: Ishtar, a Deusa do Amor e Sua Aranha Devoradora de Corações artista mexe com a sua memória afetiva e o seu bem estar, para nos deliciar e prender com as tramas coloridas dos minuciosos objetos de impecável fatura. Na maioria, são trabalhos que denotam a sua preocupação com o meio ambiente, e um olhar atento para o novo e o inesperado.”

EXPOSIÇÕES – 2018 – “Segundo Tempo” – Mostra Coletiva no Palacete das Artes – Salvador; 2013 – “Mostra Coletiva 30 x 30 (pequenos formatos)” – Galeria Nelson Dahia – Senac Pelourinho – Salvador ; 2011 – “Series” – Individual – Espaço Bahyna – Salvador; 2010 – “Series” – Exposição individual – Casa Versal – São Paulo/SP; 2004 – Coletiva – Galeria Gourmet- Espaço Cultural Shopping Downtown – Rio de Janeiro/RJ; “Caixas Culinárias” – Exposição individual – Café Venâncio,  Leblon – Rio de Janeiro/RJ; “Em Algum Lugar do Brasil” – Exposição individual no Unicentro Belas Artes – São Paulo/SP; 2002 – “Gávea Circular” — Gávea – Rio de Janeiro/RJ ; 1999 – “VII Arte de Portas Abertas” – Santa Teresa – Rio de Janeiro/RJ; 1998 – V e VI “Arte de Portas Abertas” – Santa Teresa – Rio de Janeiro/RJ; “Abstração dos Sentidos” – Pintura sobre Panôs –Exposição individual – Galeria da Associação Cultural Dante Alighieri – Salvador e na “Babilônia Feira Hyppie” – Participação com material de arte aplicada em decoração no Jóquei Clube – Rio de Janeiro/RJ; 1993 – “Coletes Para Mocinhos e Bandidas” – Exposição individual no Rio Design Center – Leblon – Rio de Janeiro/RJ; 1992 – “Impressões” – Com o artista Antônio Vieira – Galeria de Arte da Casa do Estudante do Brasil – Pinturas e impressões sobre tecido – Rio de Janeiro/RJ; 1991 – Mandalas – No evento “Nova Era” – Hotel da Bahia – Salvador ; 1989 – “Mandalas” – Exposição individual – Shopping Barra –Salvador; 1988 – “Tecendo a Forma” – Com as artistas Inha Bastos e Ângela Cardoso – Galeria Fazarte – Salvador; “Caleidoscópio” – Exposição individual – Espaço e Restaurante Pituaçú – Salvador; 1985 – Mostra “Camelô Artístico”, aplicação de objetos de camelô nas Artes Plásticas – Praça da Igreja de Santana – Rio Vermelho –Salvador; 1981 – “Flexo, Reflexo” – Exposição Coletiva – Eucatexpo Galeria de Arte – Salvador; 1980 – “A Natureza é o Tema” , Galeria O Cavalete – Clube Bahiano de Tênis – Salvador; e Coletiva “Cinque Brasiliani” – Casa Dello Studente –Florença – Itália; 1977 – Exposição dos Diplomados da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – Galeria Canizares – Salvador – BA; 1970 – “Primeiro Salão de Estreantes” – Panorama Galeria de Arte– Salvador e em 1968 – Exposição dos Estudantes Secundaristas – Gabinete Português de Leitura- Salvador – BA.