No mês do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, a empresa respalda o direito dos funcionários no uso de vestimentas e adereços ligados à crença religiosa e cultural
No caminho de casa para o trabalho, com um terço especialmente preparado para ela, a católica Rosa de Cátia Aragão reza Ave-Maria, Pai Nosso, Credo e Salve a Rainha. Com guias no pescoço, peças de uso sagrado para o candomblé, Mônica dos Santos circula entre os corredores da Embasa. Sentada em sua mesa, com a Bíblia nas mãos, a evangélica Selma Xavier se prepara para começar a sua jornada antes mesmo de ligar o computador. Com a pele pintada para proteger a alma, Jéssica Paranhos, juremeira e adepta ao xamanismo, adentra o prédio para mais um dia de trabalho.
Quatro mulheres, quatro diferentes crenças e culturas, mas que compartilham algo em comum. Elas trabalham em uma empresa que defende e incentiva a liberdade religiosa no ambiente de trabalho. No mês que se comemora o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, ocorrido no último domingo (21), a Embasa deu mais um passo para incentivar, na prática, a defesa do direito básico e fundamental dos seus colaboradores expressarem a sua fé, por meio de vestimentas e adereços. Desde o dia 12 de janeiro, os colaboradores também podem, caso desejem, incluir essa informação nos documentos de identificação interna na empresa.
A decisão foi comemorada por Mônica dos Santos, candomblecista e iniciada no culto de Ifá, e que atua como agente administrativa da Embasa. “Passamos a maior parte do tempo na empresa e a intolerância religiosa neste ambiente é violenta para nós. Como negar o meu direito de usar um turbante, por exemplo, quando preciso ficar com a cabeça coberta? Cobrir o nosso ori é sagrado pra gente”, reforça ela, que se veste de branco às sextas, utiliza diariamente as guias no pescoço e quando é necessário usa o ojá, uma peça que tem a função de proteger a cabeça, considerada sagrada.
Jéssica Paranhos, que já expressa a sua fé e cultura na empresa através do uso de grafismo e de adereços espirituais também ficou feliz por ter esse reconhecimento e incentivo formalizado. Para a agente administrativa, indígena do povo Payayá, juremeira e adepta ao xamanismo, os grafismos no corpo representam muito mais do que uma pintura. “São um escudo, proteção contra os espíritos maus. A aprovação da resolução é uma importante conquista e está em consonância com o direito constitucional de liberdade religiosa e traz maior pertencimento e respeito nos espaços institucionais” afirma.
Respeito – Embora sejam religiões consideradas, histórica e culturalmente dominantes na formação da sociedade brasileira, a resolução da Embasa trará ainda mais respaldo para que católicos e protestantes continuem professando a sua fé, garantindo ao mesmo tempo o mesmo espaço para as demais. No jurídico da empresa, por exemplo, Selma Xavier, continuará tendo o seu direito respeitado de “ler a Palavra de Deus todos os dias para ajudar a focar no trabalho”. Já Rosa de Cátia, católica apostólica romana, terá a sua crença preservada de “levar nos pulsos uma corrente ou cadeia de Nossa Senhora, abençoada por pessoas consagradas por Jesus Cristo”.
Para o presidente da Embasa, Leonardo Góes, essa decisão é fundamental para, além de respeitar, incentivar que os nossos funcionários se sintam à vontade para expressar a sua fé, independente de qual seja, sem vergonha ou medo. “Apesar da nossa Constituição garantir esse direito expresso em lei, reafirmamos na prática o compromisso da Embasa com a diversidade e a equidade. Estamos na Bahia, estado reconhecido pela diversidade religiosa e não há mais espaço para preconceito e qualquer tipo de agressão ou violência relacionada à crença das pessoas”, afirma.
Comitê de Diversidade – Permitir o uso das vestimentas e adereços religiosos, como turbantes, okas, grafismos, cocas indígenas foi uma iniciativa do Comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão da Embasa. No ano passado, além da criação da Política, o grupo também avançou no reconhecimento da identidade de gênero e do uso do nome social para travestis e transexuais nos sistemas e documentos da empresa, e instituição da obrigatoriedade do uso de intérpretes de Libras e da prática da autodescrição em palestras e treinamentos corporativos, ampliando a acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva e visual.
Para o diretor de Gestão Corporativa da Embasa, Jazon Junior, essa ação aprovada pela Diretoria Executiva demonstra a busca para construção de uma cultura organizacional que valoriza e respeita a diversidade religiosa e que permita o desempenho das atividades laborais em um ambiente permanente de humanização das relações. “Essa e outras ações que vamos implementar tem como objetivo promover na empresa um clima organizacional que gere nos trabalhadores o sentimento de auto realização, completude e satisfação pessoal”, afirma.