Envelhecer na Bahia: viver mais ou viver melhor?

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Por Victor Pinto

O tema da redação do Enem 2025 (“Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”) reflete uma urgência em diversas dimensões. Eu fui pego em um exercício de “redação” a também refletir sobre o assunto. O envelhecimento populacional deixou de ser uma previsão distante para se tornar uma realidade concreta e na Bahia esse processo é visível. 

O Estado, que historicamente conviveu com desigualdades profundas, enfrenta agora o desafio de garantir que viver mais também signifique viver melhor.

Segundo o IBGE, até 2030, mais de 15% dos baianos terão 60 anos ou mais. O fenômeno é mais acentuado no interior, onde a migração de jovens e a queda da natalidade formaram comunidades cada vez mais envelhecidas. Em muitos municípios, as aposentadorias e os benefícios sociais são a principal base da economia local. Isso cria uma contradição: o idoso é o sustentáculo financeiro de muitas famílias, mas segue sem estrutura adequada para cuidar da própria saúde, por exemplo.

O debate sobre o envelhecimento, no entanto, ainda é tratado de forma pontual, quando deveria ocupar o centro das políticas públicas. A saúde física é o primeiro ponto de atenção. O sistema ainda é reativo: espera a doença chegar para agir. Poucas cidades baianas têm atenção geriátrica, programas de prevenção ou estímulo à atividade física.

Mas há uma outra dimensão igualmente negligenciada: a saúde mental. O isolamento social, a solidão e a sensação de inutilidade são fatores que adoecem silenciosamente. É comum que o idoso, após se aposentar, perca o convívio, o ritmo e o propósito. Políticas públicas efetivas precisam compreender que o envelhecimento saudável depende também de vínculos sociais, estímulos cognitivos e oportunidades de participação comunitária.

A Bahia precisa se preparar para essa nova estrutura etária. Isso significa planejar o futuro da saúde pública, da habitação e da assistência social a partir do perfil de uma população mais velha e mais dependente de cuidados contínuos. A prevenção deve substituir a improvisação; o cuidado deve ser pensado de forma integral.

O envelhecimento populacional não é uma questão de escolha, mas de tempo. O que se pode escolher é o modo como ele será enfrentado.

A pergunta que fica é simples e urgente: a Bahia está preparada para envelhecer com saúde e dignidade? Se a resposta ainda é “não”, é hora de transformar o diagnóstico em ação. Porque o futuro do estado dependerá de como tratamos aqueles que já chegaram antes. Excelente a reflexão que o Enem nos coloca esse ano. A conferir.