Estados Unidos, Brasil, as terras raras e o revés das tarifas: o que esperar?

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Por Alessandra Nascimento

Na época em que o Brasil era uma colônia nosso ouro e prata, dentre outros, eram levados para Portugal sem nenhuma contrapartida. Afinal éramos uma colônia e naquela época a “usurpação” servia para o enriquecimento português. Brasil, terra fértil, com riquezas guardadas em seu subsolo é hoje alvo de grandes potências. Como se tem visto ultimamente a disputa por nossas terras raras seria uma das alegações de Donald Trump na mesa de negociação para reverter o tarifaço de 50% dos produtos brasileiros exportados para os EUA.

O ex-apresentador do reality show The Apprentice, da NBC (canal de tv norte-americano) que teve sua versão no Brasil chamada “O Aprendiz”, Donald Trump, sempre se mostrou como negociador autoritário e capaz de usar qualquer artifício para conseguir o que deseja. O magnata e presidente dos EUA manifesta desejo por obter nossas terras raras fruto de sua visão expansionista e imperialista que acredita que o mundo gira em torno de seu umbigo e que todos devem se ajoelhar à sua vontade.

As terras raras são a grande disputa da vez no mundo global, essenciais na indústria de alta tecnologia, como a fabricação de ímãs potentes para motores elétricos e turbinas eólicas, componentes para veículos elétricos, energia renovável equipamentos de alta tecnologia como celulares, monitores, e lasers. Além disso, são cruciais na indústria de defesa para a construção de mísseis.

A intenção é clara: usar na indústria bélica norte-americana. Em junho passado Trump anunciou investimento recorde nessa área com US$ 1 trilhão pela primeira vez na história daquele país. Ou seja, o pensamento se resume assim – aos EUA tudo, ao resto do mundo nada!

E a pólvora perfeita veio com o imbróglio causado pela família Bolsonaro. O Brasil é o segundo país detentor de terras raras do planeta, algo em torno de 23% e com grande potencial exploratório, perdendo apenas para a China. Estados como Goiás, Minas Gerais, Amazonas, Bahia, Piauí, Tocantins e Rio Grande do Sul são os grandes produtores.

Como foi publicado recentemente pelo New York Times, a decisão de Trump, atrapalhou as negociações iniciadas no governo Biden, de exploração das reservas por indústrias dos EUA. A situação é apontada por um dos jornais mais respeitados daquele país como ” a crise diplomática entre as duas maiores nações do Hemisfério Ocidental” colocou uma pá de cal nas tratativas que estavam sendo realizadas. O mesmo jornal disse categoricamente que o apoio dos EUA seria estratégico, impulsionando nosso país a se tornar uma potência global na extração e processamento de terras raras. A perspectiva dessa união reduziria a dependência dos norte-americanos da China, hoje detentora de 90% do fornecimento mundial desse tipo de minério.

Donald Trump cegamente acredita que está no seu extinto programa de televisão em que usava da soberba para dizer as palavras para participantes sonhadores “You’re fired” (“Você está demitido”, em português). Conseguiu abalar 200 anos de relações diplomáticas impondo tarifas, expulsando brasileiros que estavam naquele país e se “intrometendo” em assuntos do governo brasileiro. Ao colocar o acesso aos minerais estratégicos brasileiros como parte das negociações comerciais ele mostra sua sanha dominadora. O governo brasileiro, por sua vez iniciou negociações para a exploração das terras raras com um companheiro do BRICS: a Índia. Além de manter discussões com empresas espanholas de mapeamento e melhorar sua capacidade de processamento através de uma parceria público-privada.

O Brasil desenvolve uma estratégia audaciosa ao planejar a construção de uma cadeia de suprimentos doméstica que abranja minas, plantas de processamento e fábricas de ímãs. E o mais interessante disso tudo é que no ano passado, demonstrando vontade de efetuar a parceria, investidores norte-americanos e ingleses repassaram somente a quantia de US$ 150 milhões na primeira mina de terras raras do Brasil, localizada em Serra Verde, em Goiás.

Ainda no início do governo de Trump, a diplomacia veio fortalecer as discussões sobre a manutenção da parceria, porém se reverteu quando foi anunciada a tarifa de 50%. A sensação de insegurança jurídica vinda de um país que até então se dizia amigo agora é fruto de sensação de instabilidade. Subverte a ordem mundial impactando nas Cadeias Globais de Valor que se viram diante de uma mudança drástica vindo de um país que era conhecido por pregar a filosofia do “Time is money” (Tempo é dinheiro, em português).

Entrar no mercado dos EUA, conseguir furar a bolha e vender superando gargalos estruturais e o peso burocrático que o Brasil carrega era motivo de orgulho para os produtores brasileiros. Hoje apresenta um cenário de surpresas e dissabores.

Voltando a questão das terras raras, o interesse brasileiro na parceria, claro, esfriou. As negociações, com razão, pararam. Vida que segue.
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Jornalista, Editora-chefe Site Café com Informação