F. de Santana: o tucano tentou voo solo, mas regressou ao mesmo ninho

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Por Victor Pinto
A política é, frequentemente, o cenário de alianças muitas delas surpreendentes diante de suas perspectivas estratégicas. A recente decisão de Pablo Roberto (PSDB) de retirar sua pré-candidatura à prefeitura de Feira de Santana para apoiar Zé Ronaldo (UB) e compor a chapa como vice-prefeito é um exemplo dessa dinâmica. Fez tremer as placas tectônicas do segundo maior colégio eleitoral baiano, importantíssimo na geografia do voto. 

Pablo Roberto, o primeiro a se lançar pré-candidato, queria figurar como uma alternativa promissora, representando a renovação e oferecendo um caminho frente à forte polarização dominante entre os Zés: Zé Ronaldo e Zé Neto (PT). Sua desistência, portanto, pode parecer, à primeira vista, uma rendição aos poderes estabelecidos. E foi isso. Se rendeu a pressão do velho Zé do Sertão que o encurralou por diversas frentes. 

O próprio PSDB, aliado estadual do UB, não deu condições de sustentação, além do aperto de mente em aliados estratégicos ligados a Pablo, principalmente aqueles que pensam a curto prazo no procedimento fisiológico de cargos. Pablo não conseguiu furar a bolha, mas seguia assediado por todos os lados. 

Para Zé Ronaldo, a incorporação de Pablo como vice-prefeito é um ganho. Foi o fato político do fim da pré-campanha, algo que Zé Neto vai ter que buscar contornar. Pablo segue como um ar fresco à campanha do grupo ronaldista, rejuvenescendo a chapa, mas, convenhamos, com zero promessa de mudança. 

O lucro de Pablo é contado por diversas correntes: vencer e contar com uma renúncia de Ronaldo sempre escavador de espaço na chapa majoritária estadual em 2026 e assim governar Feira por dois anos, no mínimo. Vencer e ser o nome do grupo político para deputado federal em 2026. Ou perder, continuar como deputado estadual, e buscar pavimentar um retorno no poder como um quadro ainda novo do grupo. 

Quem deve fazer todas as orações por sua eleição como vice é Paulo Câmara, hoje ligado ao deputado federal Elmar Nascimento, pois ele é quem assume a cadeira na ALBA caso o tucano vá ajudar a comandar a política executiva feirense. 

Pablo, antes um menino bonito no campo da cobiça de atração, agora um menino feio para o grupo de Zé Neto, o principal adversário, busca levar seus dois dígitos do montante do eleitorado na pesquisa para Ronaldo. Zé Neto, beneficiário de uma divisão entre seus opositores, agora vai lidar com um concorrente de uma campanha unificada. A chance do segundo turno tem caído por terra.

Em suma, a desistência de Pablo Roberto de sua candidatura e seu apoio a Zé Ronaldo como vice-prefeito é uma manobra que pode redefinir o cenário eleitoral de Feira de Santana. Ele se firma dentro do grupo político o qual fazia parte, isso se não for sufocado futuramente por esses mesmos integrantes. Essa decisão não apenas revitaliza a campanha de Ronaldo, mas também coloca desafios adicionais para Zé Neto, principalmente agora para a escolha do seu futuro vice. 

Resta saber como o eleitorado reagirá a essa nova configuração e quais serão os desdobramentos na futura campanha, com resposta em outubro nas urnas. A conferir.