Instrução, mentalização e lavagem cerebral

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Por Joaci Góes
(Ao casal amigo Elsa e Luiz Viana Queiroz!)

Ainda que em caráter embrionário, a emergência das técnicas que intitulam esta arenga hebdomadária data do homo sapiens, alcançando sua maturidade, porém, no alvorecer da História. 

Desde então e repetidamente, pensadores e pragmáticos das técnicas de domínio dos humanos sobre si mesmos vêm se esmerando nessa prática de gritante atualidade, sobretudo depois que o ensaista, diplomata e historiador David Hume (1711-1776) concluiu, com aplaudida acuidade, em sua History of England, de 1771, que o objeto da História se resume em demonstrar a importância da opinião pública como agente modelador da sociedade humana, porque até mesmo os mais sanguinários ditadores não podem prescindir dela para alimentar o ânimo dos que calam as baionetas. É verdade que antes de Hume, o inglês, John Locke(1632-1704), considerado o pai do Liberalismo, já sustentara, em sua obra de 1690 Two Treatises on Government que “o corpo político deve caminhar na direção apontada pelo poder maior, que é o consenso da maioria.” O matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo francês Blaise Pascal, por sua vez, o mais jovem entre os grandes pensadores de todos os tempos, morto aos 39 anos(1623-1662), concluiu com sabedoria que “seguimos a maioria não porque esteja correta, mas porque tem mais poder.” A formulação clássica desse princípio, porém, coube ao orador e jurista romano, no segundo século A.C., Públio Múcio Scaevola, frequentemente citado por Cícero: “O que a maioria do Conselho decidir deve ser considerado como decisão de todos”(Quod major pars curiae effecit pro eo habetur ac si omnes egerint, Digesto, Livro 1.) 

Atento a essas lições, aconselhou Talleyrand a Napoleão: “Com as baionetas, Senhor, pode-se fazer tudo: menos sentar-se sobre elas.” Com essas palavras, Talleyrand queria ensinar a Napoleão que o poder, mesmo despótico, só vale a pena quando exercido com tranquilidade, em paz com o sentimento das ruas. Lição que levou Ortega Y Gasset(1883-1955) a concluir que “o exercício do poder é mais uma questão de punhos do que de nádegas”. (La Rebelion de las Masas, 1929). 

Comprovando que o Homem é o único animal que tropeça mais de uma vez na mesma pedra, temos visto a reiterada repetição de erros fatais decorrentes do propósito de mandatários despreparados e insanos de imporem seus apetites inferiores à maioria desarmada, como aconteceu, sobretudo, na Rússia de Stalin, na China de Mao Tsé-Tung e na Alemanha de Hitler. De novo, na adoção do método para entorpecer a percepção da violência, a presença da lavagem cerebral, usada a título de instrução, como nos advertiu o filósofo alemão Gunther Anders, em 1956, em texto de gritante atualidade, “A obsolescência do Homem”, que nos foi enviado por um dos mais brilhantes oficiais generais das FFAA Brasileiras, em que se destacam na mentalidade totalitária e antidemocrática, como metas a serem alcançadas e cultivadas: 

Criar condicionamentos coletivos (uma mentira muitas vezes repetida torna-se verdade. Quanto mais cedo, a lavagem cerebral for aplicada, mais eficaz será); 

 Limitar a qualidade da educação: quanto menos esclarecido o indivíduo, mais facilmente dominável (vide o mapa eleitoral brasileiro neste terceiro milênio); 

Os meios abertos de comunicação são os grandes veículos de imbecilização popular, para colocar o instintivo e primário sobre o racional e culto, denunciados como instrumentos de dominação das elites; 

Valorizar o primado dos instintos primitivos (comida, sexo e festas populares, sobre qualquer refinamento); 

Valorizar ao máximo o comportamento de rebanho, neutralizando as individualidades criadoras;  

Tudo que a isso se opuser deve ser estigmatizado como inimigo dos interesses populares. 

Algo a ver com as coisas que estão acontecendo no Brasil de nossos dias, em que personalidades do maior relevo da Administração não podem aparecer em público?