Jaques Wagner molda sucessão do PT baiano

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Por Victor Pinto

A eleição interna do PT da Bahia, marcada para 6 de julho, caminha para mais um capítulo emblemático do partido. E o motivo atende por um nome já bem conhecido no cenário político: Jaques Wagner. O senador decidiu sair do modo conselheiro silencioso, que poderia ter ocorrido após a desistência de Éden Valadares pela continuidade, e entrou de cabeça no processo eleitoral.

A escolha de Tássio Brito como seu candidato à presidência estadual do PT não é casual. Atual secretário de Finanças da sigla na Bahia e nome próximo dos apelidados “três gordinhos” – Adolpho, Éden e Lucas -, Tássio reúne qualidades que podem agradar cenários futuros: é técnico, discreto e tem trânsito entre as várias alas do partido. Mas acima de tudo, é visto como alguém disposto a manter a estrutura de poder sob controle de Wagner — ou, no mínimo, sob sua vigilância.

Desde o início deste mês de maio, Wagner tem priorizado a construção de maioria em torno de Tássio. Conversou com deputados federais e estaduais, reuniu lideranças municipais, sentou com pré-candidatos e até ligou pessoalmente para os líderes da base. A movimentação foi intensa, contínua e determinada — mesmo nos últimos períodos de feriado. Essa atuação proativa deixa claro que, para Wagner, a eleição do diretório estadual não é apenas um evento burocrático do partido: é uma questão estratégica.

Por que tanta dedicação? A resposta é simples: 2026. O processo de reeleição do governador Jerônimo Rodrigues, a formação da chapa majoritária, a reorganização da base aliada e até mesmo o enfrentamento da oposição dependerão, em grande medida, de como o PT baiano chegará politicamente estruturado ao próximo ciclo eleitoral. E a presidência do partido é um pilar crucial nessa engrenagem.

Com Tássio na liderança, Wagner garante previsibilidade. Evita surpresas. E, principalmente, evita que lideranças mais críticas ou autônomas tentem transformar o PT num espaço de disputa por rumos alternativos — seja na relação com o governo estadual, com os aliados ou com o próprio governo Lula. Em outras palavras: é uma escolha por blindagem política.

Nesse contexto, a candidatura de Jonas Paulo — ex-presidente do PT baiano, também da CNB, mas com perfil agregador — surge como uma alternativa que pode agradar à militância insatisfeita com o fechamento de questão em torno de Tássio. Jonas tem história no partido, boa relação e o discurso da “experiência”. No entanto, não carrega uma renovação geracional e sem o “selo Wagner” dificilmente romperá a barreira do diretório tradicional.

O problema é que o excesso de tutela pode gerar ruídos. Alguns setores da base já resmungam que o partido vive um momento de “corte absolutista”, onde poucos decidem por muitos. A imposição velada de Tássio como nome único — ainda que haja disputa formal — pode gerar desmobilização, insatisfação e, a médio prazo, desgaste da própria liderança de Wagner.

Esse desconforto ficou evidente quando aliados de Wagner acreditavam que o senador adotaria uma postura neutra, de magistrado do processo. Ao contrário: ele não só abraçou a candidatura como colocou sua estrutura para fazer Tássio futuramente vencer com margem.

A eleição da nova direção estadual do PT acontece em um momento em que o partido nacional tenta mostrar unidade, mas lida com desafios complexos: as federações partidárias em crise, o debate sobre reeleição presidencial e a pressão por renovação geracional. Na Bahia, onde o PT comanda o governo desde 2007, o desgaste natural do tempo no poder exige mais escuta e menos imposição. Será?

A dúvida que fica é: até onde o controle centralizado pode ser um ativo e quando começa a se tornar um fardo? Wagner aposta que, com Tássio, o PT baiano terá estabilidade para enfrentar o futuro. Por ora, a benção de Wagner parece suficiente para garantir a vitória de Tássio. Mas a política — como o próprio Wagner sabe — é feita de ciclos. E, às vezes, o excesso de zelo por um projeto pode acabar sufocando a vitalidade de uma legenda que nasceu do debate, do conflito e da construção coletiva.

A eleição de julho não será apenas sobre quem comandará o PT da Bahia. Será, sobretudo, sobre: qual PT sairá dela? E Wagner, como sempre, será o fiador dessa resposta. A conferir.–
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Jornalista/ twitter: @victordojornal