Por Victor Pinto
Não será uma tarefa fácil para a prefeita Sheila Lemos (UB), de Vitória da Conquista, enfrentar, pela primeira vez, sem o escudo chamado Herzem Gusmão (MDB), um trator nominado com letras garrafais: Governo do Estado. Não será fácil, porém não impossível, vale o registro. As visitas do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e o staff de boa parte do primeiro escalão para a agenda deram o tom do que será a futura campanha eleitoral na segunda maior cidade do interior da Bahia. O petista fez questão de passar, praticamente, três dias na Suíça baiana para rebater as críticas à falta de compromissos oficiais no território.
Durante a semana de aniversário, cuja comemoração dos 183 anos foi na semana passada, a prefeitura conseguiu capitalizar os eventos da cidade e fazer anúncios de obras consideráveis em pontos estratégicos de Conquista, mas depois do desembarque de Jerônimo o clima político foi levado a reboque por Waldenor Pereira (PT) e Lúcia Rocha (MDB). O chefe do Palácio de Ondina esteve com os dois a tiracolo para todo o canto numa clara mensagem: essa é a minha chapa para 2024. O caminho leva para o petista na cabeça da chapa e a vereadora, uma das mais longevas no legislativo conquistense, na vice, apesar das placas que aliados da emedebista espalharam pela cidade com o argumento: “a mãe tá on e não será vice de ninguém”.
Inclusive, a acolhida do governador a Lúcia gerou ciúmes de outros vereadores e deputados que não escondiam o desconforto dessa aliança, o que para muitos do núcleo do governo do Estado representa uma chapa imbatível para o próximo ano, ainda mais se contar com as bençãos do ex-prefeito Guilherme Menezes (PT). Afastado da vida política, principalmente após o racha interno no PT com Waldenor, Menezes recebeu a visita do governador e participou da reunião com os partidos aliados. Aquele foi um gesto acendedor do sinal de alerta no grupo adversário. Se Menezes, que goza de muito prestígio pelos moradores, entra na futura campanha para se tornar o principal cabo eleitoral de Waldenor, o caminho para Sheila fica ainda mais dificultoso.
A prefeita tem a vantagem de seguir com a máquina. Historicamente, na política, o instituto da reeleição é forte. Como falta ainda um ano da eleição, como disse no início do artigo, não será impossível enfrentar o governo, mas será difícil para alguém que nunca encabeçou uma eleição na vida. Ela também consegue estabelecer diálogo com o empresariado. Jerônimo fez uma agenda com o segmento, mas fez um discurso duro para uma plateia arredia com o aumento do ICMS em 1,5%.
Ainda sobre a prefeita, apertar alguns parafusos, reabastecer o caixa para tocar obras e apartar personas, que mais atrapalham do que ajudam, entranhados em projetos antigos seriam alguns dos movimentos. Ela, de fato, não tem pressa para escolher vice, mas precisa acelerar as discussões da constituição do arco dos partidos aliados. Por exemplo: a atração do PL é fundamental, pois o núcleo eleitor que elegeu Herzem com Sheila na vice é anti-petista e simpatizante do bolsonarismo. Ter um rival nesse mesmo cenário complicaria o jogo. João Roma fala em candidatura própria da sigla na cidade, mas as conversas e um possível alinhamento não estão distantes.
Dentro de 15 dias, conforme o governador disse em entrevista à Band Bahia, ele retorna ao sudoeste para uma agenda exclusiva na área da Saúde. Para quem demorou de desembarcar, terá agora uma agenda constante. É cristalino o interesse da articulação política do governo pela cidade por dois motivos: a retomada do poder de uma cidade histórica para o PT baiano e desarticular um grande centro urbano das mãos aliadas de ACM Neto (UB), o adversário futuro em 2026. Uma eleição puxa outra. A conferir.