Por Zulu Araújo
Os veículos de comunicação brasileiros estão dando tanta importância as eleições norte-americanas que parece até que a escolha é para a Presidência do Brasil. Também, não é para menos. Dependendo de quem for escolhido/a as relações entre Brasil e Estados Unidos podem sofrer mudanças radicais e influenciar decisivamente os rumos da política brasileira.
O mais impressionante disso tudo é que apesar de todas as diatribes realizadas pelo Donald Trump, que possui 91 acusações criminais em curso e uma condenação (por comprar silêncio de atriz pornô), além de divulgar fake news de todas as ordens, a exemplo daquela que acusa imigrantes, particularmente os latinos, de levarem “genes ruins” para os EUA. Ele continua sendo o favorito das próximas eleições presidenciais nos EUA.
Mais grave ainda, possui 48% dos votos dos latinos e apesar de ser declaradamente apoiador do supremacismo branco, Trump possui o apoio de 20% do eleitorado negro, que representa o dobro da votação tradicional dos Republicanos nos EUA. Vai entender!
O fenômeno do crescimento exponencial da extrema direita no mundo, do qual Trump é o exemplo mais eloquente é para deixar qualquer democrata com as barbas de molho. E o Brasil tem tudo a ver com esse fenômeno. Afinal, nas últimas eleições municipais, a vitória da direita e da extrema direita foi de ponta a ponta, em que pese o governo do Presidente Lula ter um excelente desempenho na economia.
Aparentemente, deveríamos então, torcer fervorosamente pela Kamala Harris (Democrata). Ela seria a primeira mulher, e negra, a ocupar a Casa Branca e isso não deixa de ser um sinal positivo para as políticas de ações afirmativas de raça e gênero, não apenas para os EUA, mas para todo o mundo.
Mas, o buraco é mais embaixo. Nesse território norte-americano da política institucional, todo cuidado é pouco.
Kamala, apesar de mulher e negra é uma conservadora de quatro costados e aliada do Presidente Biden em questões sensíveis para o Brasil, como a guerra na Ucrânia e o massacre de Israel em Gaza e no Líbano.
Além disso, não nos esqueçamos que foi no Governo do Presidente Barak Obama (primeiro negro presidente dos EUA), que as principais autoridades brasileiras foram espionadas pelos EUA, criando as condições para o surgimento da Lava Jato que praticamente destruiu a economia brasileira, além de ter derrubado a presidente Dilma, (eleita legitimamente) e proporcionado a ascensão da extrema direita no país.
Segundo o site Wikileaks, fundado por Julian Assange, havia uma lista com 29 autoridades importantes do governo brasileiro, incluindo a presidente Dilma Rousseff, que foram espionadas diuturnamente pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) desde o ano de 2011, até sua queda.
Ou seja, quando se trata dos interesses políticos e econômicos do Estados Unidos, o jogo é duríssimo e gênero e raça passam a ter um papel absolutamente secundário.
Portanto, embora qualquer democrata mundo afora e em particular o movimento negro brasileiro, deva torcer para a vitória de Kamala Harris, (por ser um risco previsível), diante do perigo que significa o crescimento do movimento fascista, é bom que fiquemos atentos, pois para nós brasileiros, seja quem for que ganhe a eleição, a diferença de tratamento será muito pequena.
Toca a zabumba que a terra é nossa!
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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares e ex-presidente da Fundação Pedro Calmon – Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.