Lourival Fontes: jornalista, publicista, senador da República e diplomata

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Por Gilfrancisco

O jornalista sergipano Joel Silveira (1918-2007) disse que Sergipe tinha coisas engraçadíssimas, arrematando: Veja você, a terra de João Ribeiro e de Tobias Barreto, dois sujeitos liberais, e Silvio Romero, que era um rebelde, deu os maiores teóricos do fascismo do Brasil: Lourival Fontes e Jackson de Figueiredo.

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                                           Lourival Fontes

          Dizem os amigos mais chegados do Doutor Lourival Fontes que nele a feiura é mais terna e menos triste do que no caso do bom do Doutor Apolônio. Neste, a fealdade é uma evidência de cortar o coração, ao passo que a feiura do Doutor Lourival tem tido seus momentos de sucesso e de celebração. Consta mesmo que, por causa da feiura, foi convocado para dirigir o DIP, numa época em que o Sr. Getúlio Vargas precisava de uma cara ferrenha para ficar atrás dos negócios da repartição.  Quando Embaixador no Canadá, assinou acordos de suma importância. Seus pelos capilares, sempre em desalinho, atraíam para o Diretor as atenções mais graciosas dos poderes canadenses; data, aliás, desses eventos a ideia dos caricaturistas da terra de sempre desenhar as feições do Doutor com uma cabeleira em desalinho.

(Os homens mais feios do país. Ubirajara Mendes. A Cigarra, SP, edição 222, 1952)

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                              Os Fontes eram muitos

 Lourival Fontes, caçula dos nove filhos (Deusdedit Fontes – 1886); Lindaura Fontes – 1888); Edith Fontes – 1889; Genésia Fontes – “Dona Bebé” (1890-1960); Gontran Fontes – 1891 e quatro outros morreram ainda criança).  Filho de Sizino Martins Fontes, sendo seus pais – Torquato Martins Fontes e Dona Francisca Xavier de Góis Fontes, e Maria Prima de Carvalho Fontes, – filha de Gaspar José de Carvalho e dona Inês de Oliveira Fontes –        ele funcionário público dos Correios, a mãe ajudava nas finanças como costureira. [1] Seus pais, Sizino e Maria Prima casaram na Matriz da Vila em 26 de novembro de 1885.

 Em busca de melhoria financeira, Sizino migrou para a Amazonas, fins de 1889 ou início de 1890, aventurando-se nos seringais, onde desenvolveu Beriberi, geralmente causada pelo alcoolismo e/ou má alimentação, o que provocou seu imediato retorno. Segundo informa O Republicano de 28 de setembro, nº248 de 1890:

Por portaria do administrador dos Correios deste Estado, de ontem foi concedida ao carteiro Sizino Martins Fontes, 60 dias de licença para tratar de sua saúde.

Lourival Fontes nasceu em 20 de julho de 1898 na Vila Riachão, a Rua da praça em sua residência, nasceu uma criança do sexo masculino, que foi batizado com o nome de Lourival e que assina Lourival Fontes, sendo seus padrinhos Ureino Fonte e Dona Anna Fontes, [2]  conforme documento de matricula do Atheneu Sergipense, em Riachão do Dantas (Sergipe), nome que se originou de um grande riacho, o Limeira, que passa próximo à cidade, conforme o desembargado João Dantas Martins dos Reis (1884-1979) em seu livro A cidade do Riachão do Dantas, distante pouco mais de 100 quilômetros de Aracaju.[3]

Muito jovem ficou órfão do pai, ao primeiro ano de sua existência.  Filho de família numerosa no sertão centro-oeste do Estado, Lourival Fontes, bem cedo, por perda do chefe teve de ajudar os seus na luta pela vida e, menino ainda, passou a empregar a sua atividade numa casa de comercio do interior, num desses estabelecimentos ecléticos nos quais há de tudo. Removendo volume demasiado grandes para as suas forças, sucedeu um acidente aos oito anos de idade, quebrando um dos braços, sendo enfaixado que o deixou no leito por algum tempo. Sob o olhar desvelado de sua mãe, que tinha nele o chefe pequenino da família, substituto do que se fora.

Fez os primeiros estudos na cidade natal. Como em muitos municípios sergipanos, a educação em Riachão do Dantas, é limitada a poucos, com escolas geralmente rurais e com recursos escassos, seguindo depois para o litoral no município de Estância, cidade próspera, onde residia seu avô Torquato Fontes, comerciante. Ha registro em O Republicano, 24 de dezembro de 1890, de que:

 O 1º Tabelião Torquato Martins Fontes foi nomeado para servir o lugar de oficial do registro Geral de Hipotecas da Comarca de Estância.

Estudos

Impossibilitado de ajudar os parentes no comércio, foi um período em que Lourival Fontes leu bastante jornais, revistas e livros e entendeu que:

 foi assim que eu soube que o mundo ia pra mais adiante do Riachão.

Tempos depois encontra-se em Aracaju e matriculando-se no Atheneu Sergipense, onde despertou para as atividades literárias. [4]

          Na nova instituição de ensino, tem como professor de gramática filosófica, o farmacêutico Luiz Figueiredo Martins, pai do líder católico Jackson de Figueiredo (1891-1928) e de Garcia Rosa (1877-1960) poeta que influenciou toda uma geração de intelectuais nordestinos. Em suas entrevistas, Lourival Fontes fala muito pouco sobre sua fase estudantil em Sergipe e Bahia. Na tentativa de esclarecer alguns hiatos, fui buscar informações nos arquivos do Atheneu Sergipense, quase nada conseguindo:

          Ao primeiro dia do mês de fevereiro de mil novecentos e quinze, nesta Secretaria do Atheneu Sergipense, foi aberta de acordo com a lei e edital publicado a matricula para os candidatos ao terceiro ano do curso integral deste Estabelecimento.

               Entre os alunos matriculados no 3º ano, está Lourival Fontes, filho de Sizino, natural de Sergipe, 16 anos, 11 de março de 1915.

                                                 Jornalista

Segundo Armindo Guaraná (1848-1924) em seu Dicionário Biobibliográfico Sergipano, página 198, relaciona alguns artigos publicados pelo jovem jornalista Lourival Fontes nos jornais sergipanos. Fui conferir no setor Hemeroteca da Biblioteca Epifânio Dória:  Diário da Manhã – Mirabeau (26.abril.1914); Revolta do trabalho (1º.maio.1914); Terreno das Ideias (29.set.1916). – O Estado de Sergipe – A lenda de Nasa (13.maio.1914). Jornal do Povo – Os fanáticos do Paraná (04.dez.1914); A Corte da Fome (29.mar.1915); O Dia do Trabalho (03.maio.1915); (04.maio); (05.maio); (06.maio). Um ponto de sociologia (20.julho,1915). Sobre uma efigie brasileira (22.fevereiro.1916). [5]

          Nessa época trabalhava como ajudante de tipógrafo e com a sua inteligência foi subindo na escalada da vida à custa própria e anos depois na capital federal, empreendeu com mais amplitude a carreira jornalística. A Época, Rio de Janeiro, 3 de maio de 1915, registra “Telegramas Nacionais”:

          Sergipe – Aracaju, 2 (A.A.) – O dia de ontem foi aqui muito festejado pela classe operária, que percorreu as ruas da cidade em manifestação de regozijo.

               À noite realizou-se no Teatro Carlos Gomes, a cerimônia da posse da nova diretoria do Centro Operário, falando o jornalista Lourival Fontes e os srs. Rodrigues Viana e Ranulfo Oliveira.

               O general Valadão, presidente do Estado, compareceu à festa, sendo muito aclamado pelos operários.

               Em todas as escolas realizou-se a “Festa das Árvores”.

          Temos registro da sua participação na Revista O Malho (RJ), criando e respondendo charadas, no 3º Torneio – maio e junho, números 557 de 1913 e no 4º Torneio, nas edições: 560, 564, 567, 570 e 573.

          Embora com bom rendimento escolar, foi expulso por insubordinação das diversas escolas que frequentou em Riachão, Estância (SE)   e Aracaju, informa Silvia Pantoja. Infelizmente não pude comprovar por falta de documentos essa informação do DPDOC-FGV, mas se isso realmente ocorreu não foi gratuitamente, porque essa rebeldia era sustentada pelo próprio Lourival Fontes. Não era um “rebelde sem causa”, um adolescente inconsequente. Estava desafiando a autoridade dos professores desses estabelecimentos educacional, isso para à época era uma atitude “revolucionária”, contestadora, contagiante e perigosa.

          Quando Lourival Fonte completou 16 anos de idade, em 20 de julho de 1915, os colegas de redação, do Jornal do Povo, prestaram-lhe uma singela homenagem, ao publicar o seguinte texto:

                                       Lourival Fontes

          É hoje a data natalícia de Lourival Fontes.

               Dezesseis anos apenas completa ele e já se vê armado cavalheiro para as justas da palavra escrita, todo uma regular bagagem em bons artigos esparsos na imprensa, e ainda em muitos trabalhos inéditos.

               Ninguém dirá, ao vê-lo o pequeno, franzino, olhos vivos e fronte ampla, sempre sobraçando um livro, que naquele cérebro não se esconda um vulcão, um bom princípio de erupção de talento.

               Metódico em seu modo de viver, sem nenhum dos vícios que corrompem a mocidade de hoje, escravo submisso de suas aulas, amando seus livros com carinho, estudando com interesse, aprendendo com uma facilidade raríssima, Lourival é um espírito de gigante em um corpo de criança.

               Nós, os seus companheiros do Jornal do Povo, que deveras o estimamos, não podemos deixar de o abraça-lo fraternalmente no dia de hoje, levando a sua velha mãe, cujo coração certo exulta numa alegria incontida, os nossos sinceros parabéns.

               O Jornal do Povo com justa homenagem ao seu jovem redator, publica em suas colunas de honra o artigo de sua lavra intitulado – Um ponto de sociologia e ciência a que se dedica com real interesse.

Hora Literária

          Desde 1915 que o grupo vinha se reunindo, mas em 1918 chega a imprensa baiana, a notícia da formação da Hora Literária dos Novos, com funções no edifício do Grêmio Literário, a associação onde fulgurou a palavra ardente de Manuel Vitorino e a musa grandíloqua de Castro Alves. A Hora Literária dos Novos que se compõe de jovens patrícios, devotados às letras, a cultura do espírito, cujos nome e diretoria inserimos abaixo, entre eles o de Lourival Fontes:

          Monteiro Teixeira, Áureo Contreiras, Vale Cabral, Mattos Filho, Luiz Barreiros, Astrogilda de Paiva, Ezechias da Rocha, Mario Linhares, Francisco de Mattos, Lourival Fontes, Raphael Barbosa, Parente Viana, Da Silva Garcia, Zoraida Braga, Emygdio de Souza, Rosalio de Castro, Crescêncio Lacerda, Affonso dos Santos, Luiz de Burgos, Mattos da Costa, Eufrosina Miranda, Eliezer Benvides, Paulo Alberto, Aurea Miranda, Amaro Amorim, Alberto de Assis, Eduardo Vianna, Raymundo Britto, Walkiria Lopes, Hugo da Silveira, Guiomar Sampaio, Almeida Gomes, Áureo Vianna, Claudionor Alpoim.        

               Segundo informa o jornal A Manhã-Bahia, nº9, 16 de abril de 1920, estava confirmado definitivamente para o dia 1º de maio, a sessão inaugural dessa tertúlia.

            Lourival chega sozinho e sem recursos financeiros a Salvador e colabora em alguns jornais baianos como A Tarde, em seguida matricula-se na Faculdade Livre de Direito da Bahia, instalada em Salvador, a 15 de abril de 1891, situada, à época na Piedade, no mesmo local onde foi erguida nos anos trinta por Bernardino José de Souza (1884-1949) a nova construção da Faculdade de Direito. Inteligente e inquieto com as novos informações adquiridas, ficou fascinado com as ideias socialistas. [6]

                                            Trajetória

          É preciso investigar em profundidade esse período obscuro sobre a formação intelectual de Lourival Fontes. Muito jovem, de 13 para 14 anos de idade associa-se as ideias socialistas, libertárias, participando de vários comícios em favor da classe operária. Segundo informações do CPDOC – FGV, verbete escrito por Silvia Pantoja “o general Manoel Presciliano de Oliveira Valladão (1849-1921), impressionado com suas reportagens, ofereceu-lhe emprego como correspondente na Bahia do jornal oficial O Estado de Sergipe, o que lhe permitiria continuar os estudos em Salvador. Entretanto, desentendendo-se com João Menezes, diretor do jornal e futuro deputado federal, Lourival Fontes foi demitido por telegrama logo após chegar à capital baiana.” [7]

Capital Federal

          Em 1918, informa O Imparcial (RJ) edição de 2 de outubro, que o jornalista “Lourival Fontes continua muito abatido”:

          O sr. Lourival Fontes, que embarcou em Aracaju, para o Rio de Janeiro, no vapor “Corcovado”, aqui chegou há oito dias. Indo a Nietheroy, à casa de família amiga, ali se sentiu mal, queixando-se de tontura, náuseas, dores de cabeça e febre alta.

               Pensa o Sr. Lourival – que continua muito enfermo e abatido – que contraiu essa influenza a bordo, onde viajava e tinha pedido, já recebeu a relação dos marujos vitimados pela “influenza espanhola” quando viajava para a Europa.

          Outra Nota da imprensa carioca, surge no dia seguinte no Correio da Manhã, registrando que:

          Diversos casos benignos de grite tem aparecido em Nicteroy e no município de S. Gonçalo, alarmando muita gente que supõe ser a “influenza hespanhola”.

               Ainda ontem o dr. Justino Menezes, diretor de Higiene do Estado do Rio, teve denuncia de novos casos ocorridos em S. Gonçalo à rua Dr. Porciúncula, nº3. Existem nessa casa seis pessoas atacadas do mal: Lourival Carvalho Fontes, Pedro de Oliveira, Maria Francisca de Oliveira e três filhos.

               Lourival Fontes chegou há dias da Bahia e, logo que chegou a S. Gonçalo, adoeceu.

               Logo depois informaram as pessoas residentes na mesma casa, sendo a “gripe” de caráter benigno.

               A Diretoria de Higiene, tratando desses casos informou que a sintomatologia clínica é de uma gripe e que somente um exame microscópico ulterior poderá esclarecer a origem da moléstia.

               O dr. Justino de Menezes, no intuito louvável de evitar que o mal se propague, mandou interditar a casa onde apareceram os casos de “gripe” e tem tomado outras medidas.

                              Sociedade União dos Foguistas

          A Razão, periódico publicado no Rio de Janeiro, de 1º de novembro de 1919, traz uma Nota sobre a Sociedade União dos Foguistas, comentando à Assembleia presidida por Alcebiades Romão Garrido, onde aprovaram a ata da reunião anterior, sendo nomeada a comissão de Contas, constituída por Graciano Amâncio dos Reis, Pedro Pereira de Mello e Severino Teixeira Rego Barros. Vejamos um trecho da Nota:

          Em seguida foram lidos ofícios das sucursais da Bahia e Pernambuco.

Usaram em seguida da palavra, os srs. José Domingos Alves, Targino Duarte da Cunha, Graciano Amâncio Reis, Louro Trindade Gomes, Severino Toscano de Britto e Lourival Fontes, uns censurando e outros defendendo o Sr. João Batista do Espírito anto, por ter, em nome da Sociedade, se envolvido em agitações políticas no Estado da Bahia, ficando aprovado, que a sociedade, por intermédio do delegado, apure o que há de verdade a esse respeito.

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Bacharéis de 1933

          Transferido seus estudos para a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, bacharelando-se em 1933, conforme Registro de Diploma, Livro 9, página 54, do ex- aluno Lourival Fontes, colou grau em 9 de janeiro de 1934, nascido em 20 de julho de 1898 em Sergipe, filho de Sizino Martins Fontes, sendo que seu diploma foi remetido à Reitoria da Universidade, com oficio de 26 de janeiro de 1934. [8]

Em 1933, na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, hoje a Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, o curso de Direito estava em pleno desenvolvimento, com a oficialização da Faculdade através do Decreto 20.902 em 1931 e a aprovação do seu Regulamento pelo Decreto 23.609 em 1933. A solenidade da Turma ocorreu no dia 8, às 14 horas, no Teatro João Caetano, colação de grau dos bacharéis em direito da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Muito antes do início da festa, grande era o número de pessoas que enchiam o saguão e demais dependências daquela casa de diversão, emprestando ao ambiente um aspecto de elegância e alegria. Uma comissão de estudantes postada na entrada dom edifício recebia nos convidados, conduzindo-os em seguida a tomar assento na plateia. Às 15 horas a casa estava completamente cheia e foi dado início a sessão. Informa o repórter de O Jornal, de 9 de dezembro:

No palco, artisticamente ornamentado, viam-se na primeira fila, os Srs. Professor Cândido de Oliveira Filho, reitor da Universidade, professores João Cabral Carpenter, Marcílio de Lacerda, Figueira de Mello, Ary Franco, paraninfo da turma e os representantes dos ministérios e no fundo os novos bacharéis.

Aberta a sessão pelo Sr. Cândido de Oliveira Filho, foi chamado para prestar o compromisso o bacharelando Geraldo de Carvalho, sendo sua entrada no palco saudada com uma salva de palmas. Os outros bacharéis colaram grau, coletivamente, prestando o compromisso à medida que os seus nomes iam sendo proclamados.

                                         Discurso do Orador da turma

Terminada a primeira parte da solenidade, ocupou a tribuna o dr. Geraldo de Carvalho, orador d turma. Sua oração que foi longa, constituiu uma síntese da situação que atravessou o país durante o tempo em que cursou a Faculdade de Direito a turma que se formou este ano.

Referiu-se ao movimento de renovação que sacudiu a política brasileira nestes últimos anos e concluiu saudando os professores presentes em nome dos alunos que terminaram o curso.

Quatro anos depois, em 1937, o Jornal do Comércio (RJ), em edição de 15 de dezembro, informa que:

Realizou-se, sábado próximo passado, no Restaurante Taberna Azul, o almoço que que, anualmente, os bacharéis da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade do Rio de Janeiro de 1933, vem há quatro anos consecutivos, comemorando a data da sua formatura, prestando sempre significativa homenagem ao juiz Dr. Ary de Azevedo Franco, que foi o paraninfo da referida turma.

As treze e meia horas foi a cabeceira da mesa, artisticamente ornamentada, ocupada pelo homenageado Dr. Ary Franco, ladeado pelos bacharéis da turma de 1933.

À sobremesa falou o orador oficial d festa, Dr. Hernani Bilac Guimarães, que foi muito aplaudido.

Em seguida agradeceu de improviso o professor orador Ary Franco, à Comissão Promotora e ao Dr. Bilac Guimarães, a homenagem que lhe foi prestada:

Salientando o espírito de fraternidade e da mais alta ética profissional, que sempre predominou entre os seus discípulos, cuja turma de bacharéis em Direito da Universidade do Rio de Janeiro, teve a ventura de paraninfar, verificando, com justificada emoção, que os seus discípulos até hoje não o esqueceram.

 Duelo

A edição de O Malho, Rio de Janeiro nº 1207 de 31 de outubro de 1925 registra que:

O Dr. Lourival Fontes, sergipano nato e simpático oficial de gabinete do Dr. Alaor Prata, mandou desfiar para um duelo o Dr. Cândido Pessoa, intendente municipal.

Aquela história de se comparar a política de Sergipe a uma “coisa imunda”, só porque o Sr. Lopes Gonçalves foi eleito senador pela terra de Tobias, não lhe passou na garganta…

Se o desafio não foi aceito, o Dr. Lourival, com as assinaturas de todos os sergipanos residentes fora do seu Estado – sobem 3.500.000 – intimará o Dr. Lopes a renunciar do mandato, e elegê-lo-á intendente pelo 1º Distrito desta capital, na chapa Laginistra-Beaumont!…

Êta pequeno de gênio! [9]

          Muito moço ainda seu nome começava a ganhar simpatia. Em 1926 Lourival Fontes foi nomeado Agente da Prefeitura do Distrito da Glória, e deu provas excelentes de competência no zelo, exercendo uma fiscalização rigorosa no distrito que superintende sobre o comércio e funcionamento clandestino de pensões, modistas, manicures, etc. Quando Pedro Ernesto assume a Prefeitura do Distrito Federal, chama Lourival Fontes para o seu Gabinete, como Diretor da Secretaria e encarregado da seção de turismo – mais tarde transformada em diretoria com o desmembramento – e para diretor de Matas e Jardins. Aos poucos, Lourival ia se afirmando a tendência para a especialização em matas e jardins, mostrando-se um técnico de reputação.

Lourival Fontes convertido ao catolicismo em 1928, fez amizade com Jackson de Figueiredo, ligou-se a revista A Ordem (1921) e ao Centro Dom Vital, estabelecido em 1922, ambos sediados no Rio de Janeiro. [10] Esta aproximação aos intelectuais católicos, provavelmente facilitaram sua entrada nos círculos políticos da capital federal, e no percurso aproxima-se de Vargas apoiando à Aliança Liberal. Em 1931 fundou e dirigiu a revista de tendência fascista “Hierarquia”. Neste mesmo ano foi nomeado funcionário da prefeitura do Distrito Federal, exercendo vários cargos na administração de Pedro Ernesto. Em janeiro de 1937, solicita exoneração ao prefeito do Rio do cargo de diretor de Turismo e Propaganda.

Hierarchia

          Este periódico circulou no Rio de Janeiro entre agosto de 1931 a março-abril de 1932 com apenas cinco números (periocidade irregular), foi um dos principais periódicos de direita brasileiros do inicio dos anos 30. Idealizado por Lourival Fontes, cedeu espaço a um grande número de intelectuais de direita e contribuiu para a formação de uma rede de escritores de iniciação fascista. No Brasil, o aparecimento de círculos literários e políticos, livros e revistas foram centrais para a consolidação do ideário fascista-integralista nacional, além da propagação e fortalecimento dessa corrente na opinião pública. A revista contava com a participação do Redator Plínio Salgado, além da ajuda financeira italiana.

          Mussolini, em documento escrito disse que três homens americanos haviam melhor compreendido o sentido do fascismo: Miguel Galvés, na Argentina; Ivo Luzzon, no Chile e Lourival Fonte, no Brasil. Várias testemunhas, afirmam que em seu apartamento, Lourival tinha um retrato do Duce autografado, o qual foi publicado num dos números da revista Hierarchia.

          Os artigos publicados na revista (antiliberais e anticomunistas) são identificados por suas posições. Os colaboradores apresentam diversos pontos de vista, ao contrário do que pretendia Lourival Fontes ao cria-la, desejando ser um veículo do pensamento totalitário. Dentre os colaboradores da revista, podemos citar: Gilberto Amado, Pontes de Miranda, Oliveira Vianna, Francisco Campos, Anísio Teixeira, Ronald de Carvalho, Cândido Portinari, Hélio Viana. Pe. Leonel França, Sérgio Buarque de Holanda, João Neves Fontoura, San Tiago Dantas. O próprio Lourival Fontes (oito textos) – O Sindicato no Estado Fascista; A Inglaterra se orienta para o Fascismo. Azevedo Amaral (cinco textos) – A crise do fascismo. Otavio Faria – Paralelo entre à Rússia e o Brasil; Uma intervenção mal sucedida. Alceu Amoroso Lima – Posição da Economia.  Sobral Pinto (três textos). Barbosa Lima Sobrinho (dois textos) Olbiano de Melo (um texto) – Democracia e cooperativismo. Nunzio Greco – A política internacional da Itália Fascista. Azevedo Lima – O fascismo e o estado corporativo. José Augusto – A representação política e o parlamento profissional. Arthur Torres Filho – Mussolini e a nova Itália. Janine Boissounouse – A Itália Nova.

          Sobre a revista, informa A Ordem (RJ), edição 17, 1931:

          Hierarchia é o que se chama uma verdadeira revista de leitura viva, moderna e um mostruário sugestivo da cultura brasileira. Os debates que animam a publicação indicam com feliz nitidez a orientação das correntes literárias, filosóficas, políticas e artísticas, entre nós e em torno de nós.

               Não sabemos no Brasil, nem mesmo na América do Sul, de tentativa como esta, assim tão corajosa, ajudada por tantos espíritos de escól e destinada, em tão pouco tempo, a um triunfo tão largo e tão merecido.

               A Ordem, pois, registra esse fato com sinceros desvanecimentos e aplaude com entusiasmo os que uniram inteligência e esforços para dotar o Brasil de uma revista que honraria a imprensa de qualquer dos grandes países deste e do Antigo Continente.

         Ação Integralista

Lourival fez parte da Sociedade de Estudos Políticos, centro de reflexão ideológica, do qual nasceria o Manifesto Integralista e a Ação Integralista Brasileira (AIB). Foi nomeado para dirigir o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC), órgão criado às vésperas da promulgação da Constituição Federal e responsável pelo estudo dos meios de comunicação utilizados para propaganda do governo, permanecendo como diretor até a extinção deste. Em seguida, por decreto do Presidente da República nomeado diretor geral do Departamento de Imprensa e Propaganda. O novo órgão criado pelo governo se destinava a substituir aquele. A posse de Lourival Fontes, no cargo teve lugar em 5 de janeiro de 1939 às 15 horas, no Palácio do Catete. Realizou-se o ato no Gabinete do secretário da Presidência da República, com a presença do Ministro da Justiça, Francisco Campos e membros das Casa Civil e Militar.

Sua capacidade empreendedora, seu espírito tenaz de realizador apontou-o depressa, ao governo “sábio” do Estado Novo. Lourival Fontes foi designado para várias comissões de importância, como a Comissão  organizadora do Parque Nacional Itatiaia; a Comissão de Orçamento da Prefeitura do Distrito Federal; a Comissão Organizadora da Exposição de Paris em 1937;  a Comissão do Ministério do Trabalho, que regulamentou a instituição das oito horas; a Comissão Nacional do Recenseamento; a Comissão de Defesa Florestal Brasileira; o Conselho de Estados Municipais e outras.

            DIP

          Numa reportagem sobre A Imagem de um Governo, 27 de novembro de 1968, a revista Veja escreveu:

          Nenhum deles (os Presidentes Getúlio, Juscelino, Jânio e João Goular) contou com um órgão permanente e planejado de publicidade, a não ser Getúlio, em seu primeiro período de governo. E foi a criação, em 1939 pelo Decreto 1919, do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), a maios responsável pelo medo que os Governos posteriores mostraram para fazer publicidade oficial. O DIP, chefiado por Lourival Fontes e extinto em 1945, controlava a imprensa, o rádio e mantinha uma lista de assuntos cuja divulgação era proibida.

          Homem chave da política varguista, através do DIP, firmou vários acordos radiofônicos, pelos quais foram transmitidos programas brasileiros para a França e os Estados Unidos, Itália e Alemanha, recebendo destes países uma vez por semana, programas especiais, cuja execução agradava imensamente, além do seu valor como iniciativa capaz de nos por em contato com o mundo, pois tais programas eram irradiados em ondas curtas.

          Portanto, a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda em 27 de dezembro de 1939, foi um passo importante durante o período do Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas.

  Assíduo colaborador

          Lourival Fontes foi um jornalista atuante e colaborador de muitos jornais e revistas de grande circulação no Rio de Janeiro. 1931, Boletim de Ariel, publica um texto sobre Gilberto Amado. 1932, Revista Granada, dirigida por Paulo Silveira, O fascismo de Hitler e a outra Alemanha (27.novembro); O Sistema de “Partido Único” nos Estados Unidos (03.dezembro); Sindicalismo Livre (31.dezembro). 1933 no jornal A Nação, A Glória do Gênio (15.janeiro). Cultura Política, publica três artigos: Democracia, eleição e representação (nº6, 1941); A imprensa ne o Exercito Nacional (nº 7, 1941); Aniversário do discurso do Rio Amazonas (nº9, 1941).

          Entre 1948 a 1950, Lourival Fontes publica uma série de artigos no jornal O Diário (Santos), órgão dos Diários Associados, fundado em 1936 e dirigido por Oswaldo GT. Aranha. Vejamos alguns desses artigos: O Racismo Americano (06.out.1948); As Democracias Populares: Polônia (13.out.1948); As Democracias Populares: Rumania (23.out.1949); As Democracias Populares: Iugoslávia (02.nov.1949); As Democracias Populares: Albânia (18.nov.1949); Truman e o Fair Deal (18.dez.1949); Presidente da República (25.dez.1949); Tituismo: a variedade nacionalista (02.julho.1950).

Em janeiro de 1954, no Rio de Janeiro, Lourival Fontes, chefe da Casa Civil da Presidência da República fora internado na Casa de Saúde São Miguel, onde submeteu-se a uma intervenção cirúrgica na vesícula.

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Morte

          Quase solitário, morreu em sua residência, no Rio de Janeiro, a 7 de março de 1967, de um edema pulmonar, o político, literato, jornalista e advogado Lourival Fontes, cuja nome está ligado a um dos período mais controvertidos da nossa história, por ter sido um dos maiores colaboradores de Getúlio Vargas (diretor do DIP, durante o Estado Novo, e chefe da Casa Civil do 2º Governo de Vargas).

          O corpo do ex-senador Lourival Fontes foi transportado de avião, para Aracaju, onde será sepultado em Riachão do Dantas, sua cidade natal, para atender seu desejo expresso. Seus restos mortais foram expostos em câmara ardente, no recinto do Palácio Monroe, onde estiveram amigos, parentes e representantes da colônia sergipana, entre eles, o diretor executivo do CADE, Sr. Walter Pereira de Oliveira, o conselheiro Dantas Torres e o sr. Sá Freire Alvim.

          Informa o Correio da Manhã do dia 8, que logo que soube da morte do Sr. Lourival Fontes, o primeiro secretário do Senado Sr. Dinarte Mariz, solicitou à família que transladasse o corpo para o Senado, monde os seus antigos colegas desejavam prestar-lhe as derradeiras honras.

          Por volta das 9 horas da manhã, o governador de Sergipe, Sr. Lourival Baptista, informou que a Força Aérea Brasileira tinha colocado um avião à disposição da família do Sr. Lourival Fontes para transladar om corpo para sua terra natal.

          A bancada parlamentar de Sergipe esteve presente aos funerais, representada pelo Senador Leandro Maciel que acompanhou o corpo até Aracaju.

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                                           Resenhas

Homens & Multidões. – Livro que enfeixa uma seleção de brilhantes ensaios políticos de Lourival Fontes, é um dos mais recentes lançamentos da Livraria José Olympio. O autor, nome bastante conhecido nos meios jornalísticos do país, vem mantendo ultimamente uma assídua colaboração no “O Jornal”, órgão dos Diários Associados, em cujas páginas apareceram muitos dos ensaios agora reunidos em Homens & Multidões. Pela sagacidade dos conceitos nele emitidos, pela agilidade estilística em que estão vazados e sobretudo pela oportunidade e penetração dos comentários não isentos de frêmito polêmicos neles exarados, os ensaios políticos de Lourival Fontes estavam mesmo a reclamar uma edição em volume, como meio de serem poupados do destino efêmero de matéria jornalística.

          A experiência trabalhista inglesa, as democracias populares de influência soviéticas, a revolução comunista chinesa, o nacionalismo asiático e o racismo americano ou o peronismo, não só estes, mas como todos os problemas do homem contemporâneo, são expostos, examinados e interpretados na sua natureza de fenômenos políticos e sociais neste importante livro de Lourival Fontes.

                               (Rio (RJ), Edição 132, 1950)

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Políticas de Preconceitos. – Livraria José Olympio, 1957 (dois discursos). No primeiro – Compasso do Mundo – analisa a posição dos Estados Unidos diante do mundo socialista e, particularmente, em suas relações com a América Latina. Conclui acentuando que se a grande Nação não adotar uma política positiva em atitudes, programas e ação, “começará perdendo os clientes e acabará por perder os aliados”, demonstrando, com isso, que não estava madura para a condução dos destinos humanos e que sua capacidade de liderança era “apenas um mito de propaganda”. Terra de Perdição é o título do segundo trabalho, em que o autor focaliza a miséria do Nordeste, “onde tudo falta, porque tudo falha”. E tudo falta e falha porque tudo se consome e se esteriliza em investimentos desnecessários, obras de fachada, verbas eleitorais sem fins reprodutivos, trabalhos isolados sem plano e sem futuro. Acariciamos, concluir Lourival Fontes, a vocação de unidade, mais “estamos marchando para a dispersão”, pois esquecemos que temos “uma região auto colonizada, um povo tributário, terra e gente sem esperança, sem audácia e sem futuro”.

          (Edgard Cavalheiro. O Estado de São Paulo – Suplemento Literário, 14 de dezembro, 1957)

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Política, Petróleo e População (1958). – Com uma justeza que recordo a da famosa distinção estabelecida por Charles Maurras entre o país legal e o país real, numa das crises políticas francesas, abre Lourival Fontes – Política, Petróleo e População, pela análise dos nossos problemas político-partidários. Equacionando-os de modo rigoroso, o autor mostra que todos se radicam à carência de base dos partidos nacionais, cujas decisões caem sobre o povo, “como forças cegas”, quando deviam provir deste.

          “Nenhum partido de classe ou de massa existe sem a delegação ou a autoridade dos sindicatos”, observa. Mas, como “as nossas eleições sindicais não são livres nem honestas”, em lugar dos trabalhadores indicarem os seus dirigentes, impõe-lhes o Ministério do Trabalho o tolariquismo dos pelegos – líderes nominais – explicando-se assim o fato observado pelo autor de termos “um partido trabalhista que ainda não conquistou” as bases sindicais – embora seja o detentor daquela pasta ministerial.

                (Antônio Fraga. Leitura, Rio, edição 18 de dezembro, 1958)

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Missão e Demissão. – Publicado agora pelo José Olympio (1962), é análise, condenação e advertência. Vejam isto, na primeira página: “Nós vemos os que se enriquecem em lucros fáceis, ou saúdam os acasos benfazejos, ou arrancam o supérfluo dos que não têm o indispensável, corresponde à síntese, que está no título do ensaio: “o inferno dos pobres”. “Mas vemos em toda parte os novos ricos ou ricos improvisados ou aves aliadas, da presa ou rapagões traiçoeiros ou que entesouram no poder para a corrupção, ou exploram a fome alheia ou se amoedam no troco das necessidades cotidianas.  Homens de nenhum costume conclamam uniões nacionais, homens de interesses e de conveniências apertam as madeiras de seus arcos e das suas cruzes. Não se ouve uma voz isolada, ou um sinal de advertência, ou um grito mortal de aflição. Aí eles não chegam, herméticos e impermeáveis, a anti nação, nos seus protestos, nas suas reações e nas suas fadigas, porque eles os senhores, os mestres, os donos da nação. Admitem descontentamentos e insatisfação como fatalidades naturais que são um presságio de prosperidade ou um dom de crescimento. Embalados em “slogans” falsos sem estatísticas fabricadas, ou publicidades dirigidas, ou mentiras organizadas assim vivem os nossos homens de negócios e muitos homens de política.

          (J. Guimarães Menegale. Leitura, Rio, Edição 55, 1962)

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          Lourival Fontes

Orlando Dantas

               Sergipe perdeu um dos seus grandes filhos que, pela inteligência, cultura e sensibilidade artística soube projetar-se nacionalmente, como um grande pensador, estilista de primeira água, entre os maiores do Brasil.

               Lourival Fontes pertenceu a geração dos – meninos pródigos – que aos 14 anos pronunciava conferencias no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, sobre literatura e arte, empolgando o auditório com seus lances de inteligência primorosa, as demonstrações de conhecimentos dos clássicos, principalmente do teatro europeu.

               O seu período de estudante de escola superior em Bahia representou a fase rebelde de sua vida de moço irreverente ao gozar os políticos sem categoria intelectual, principalmente os de sua terra que transitavam por Salvador. Depois que saiu da província e plantou-se na metrópole, foi perdendo aquela liberdade de incontinência malcriada, para aprimorar sua inteligência, ampliar sua cultura clássica até o domínio completo da língua pátria, quando se tornou um dos maiores escritores do país.

               A Revolução de 30 foi busca-lo para o comando da imprensa estadonovista, era do predomínio fascista, depois que suas ideias se sedimentaram em escritos pensados em sua revista Hierarchia – como um dos corifeus da ideologia Mussolinica em terras do pau brasil.

               Por temperamento e pela cultura Lourival Fonte repelia a política tradicionalista brasileira, e se inclinara para as diretrizes fascistas que Mussoline implantara na Itália, e se propagava como uma solução menos radical do que a adotada por Lenin na União Soviética.

               Os tempos andaram e Lourival Fontes aparecia com o seu discutível trabalho – homens e multidões – já mais amadurecido diante do panorama político internacional no período da crisalida que se transforma em borboleta, para um voo mais larga, de visão mais ampla da nova sociedade que tendia a perder os seus privilégios para um campo de fraternidade humana.

A volta de Getúlio Vargas ao Poder da República implicou na sua convocação para uma posição chave do Governo – Secretaria da Presidência da República – onde pode exercer um papel de grande influência política, pela sua capacidade de contrariar os – avanços dom capitalismo estrangeiro – e dos – negócios internos – que intermediários inescrupulosos encaminhavam ao Presidente.

               Como político o embaixador Lourival Fontes era possuído de horror cósmico ao clientelismo, ao cortejo dos homens eleitoreiramente, a servir paternalmente às classes sociais. O seu espírito de homem superior, o impedia de praticar a rasteirice política. Era uma constante de suas personalidades um tanto áspera incompreendida por muitos que que entendiam melhor teria servido ao Estado se abrisse as portas do favoritismo.

               Mas um dia as suas resistências foram vencidas pelo envolvimento dos políticos sergipanos, e acabou no Senado Federal, com o apoio unânime do nosso povo e lhe coube pronunciar três magistrais discursos: – Discurso aos Surdos, Missão ou Demissão e Uma Política de Preconceito – que marcaram a sua passagem pela política nacional.

               Hoje o menino prodígio se acha enterrado no seu Riachão dos Dantas, terra berço do seu gênio de escritor e pensador político. [11]

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               Bibliografia:

COSTA, Alexandre da. Entrevista Especial – Lourival Fonte. Rio de Janeiro, A Gazeta nº275, 20 de novembro de 1935.

FONTES, Arivaldo Silveira. Lourival Fontes, o esquecido. Rio de Janeiro, Revista do IHGB páginas 143-147 – out/dez, 2000.

MACHADO, Manoel Cabral. Lourival Fontes, um esquecido. Aracaju, Brava Gente Sergipana e outros bravos (Marcos Cardoso Org.), EDISE/TCE-SE, 2016.

OLIVEIRA, Dandara. Lourival Fontes e o fascismo italiano: uma análise de sua Revista Hierarchia (1931-1932) https//eventos.udesc.br

SOUZA, José Augusto Marques de (Renato Ferreira Ribeiro, Vera Alves Cepêda). A Revista Hierarchia e a construção do fascismo Brasileiro (1931-1932).


[1] Há outra informação de que Sizino Martins Fontes, era escrivão da coletoria e Maria Prima de Carvalho Fontes, responsável pela agência dos Correios da Vila. Dona Bebé do Oratório. Padre Isaias Nascimento. Edise, 2ª edição, 2021.

[2] V. transcrição da Certidão (nº 11) de Nascimento de Lourival Fontes. Livro de Nascimento 1889 a 1916 – Livro – A-03 – Cartório de Riachão do Dantas.

[3] Na edição de 20 de julho de 1916 do Diário da Manhã, entre os aniversariantes do dia “o nosso jovem e intelectual confrade Lourival Fontes.”

[4] Lourival Fontes teve com colega de série, o poeta Exupero de Santana Monteiro (1900-1965)

[5] Sobre Um Ponto de Sociologia, embora tenha sido anunciada sua publicação na edição de 20 de julho, o artigo não foi publicado.

[6] Foi solicitado a Faculdade de Direito da UFBA, documentos do aluno Lourival Fontes, mas nunca foram enviados.

[7] Acho improvável esta afirmativa: João Menezes (1866) era redator-proprietário do Correio de Aracaju, desde sua fundação em 1906.

[8] Essas informações (fotocópia da página) foram enviadas pela UFRJ, através do funcionário Márcio Capella, em junho de 2025. Não foi possível localizar no livro de exames para ingresso na Faculdade. Infelizmente não foi possível localizar a Pasta do aluno com seus documentos, nem o Livro de matrícula, que registraria o ano em que Lourival Fontes, ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.

[9] Augusto César Lopes Gonçalves (1865-1938), ingressou na política e foi eleito Senador pelo Amazonas de 1915 a 1923 e por Sergipe de 1924 a 1930, quando teve o mandato cassado pela Revolução de 1930.

[10] Festejando o 5º aniversário de sua formação, os bacharéis em Direito da turma de 1922, reuniram-se em um almoço que se realizou no dia 28 de dezembro último no Copacabana-Pálace. Informa o periódico carioca Para Todos, nº4, 7 de janeiro de 1928.

[11] Gazeta de Sergipe. Aracaju, Ano XII, nº 3.240, 9 de março de 1967.
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Jornalista, professor universitário, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Associação Sergipana de Imprensa – ASI, do Grupo Plena/CNPq/UFS e do GPCIR/CNPq/UFS. Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Sergipe –gilfrancisco.santos@gmail.com