Lygia Sampaio

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Por Claudius Portugal
Desenhista, pintora, gravadora, ilustradora e, abarcando um especial aspecto, a única mulher a integrar o movimento de renovação das artes na Bahia, o modernismo baiano, no final dos anos quarentas e início dos cinquentas, e a primeira a se profissionalizar, Lygia Sampaio é, sem dúvida nenhuma, um dos nomes mais importantes das artes plásticas entre nós. E esta artista faleceu sábado, dia 15 de julho. Este momento nos permite referendar o já dito antes: Ao ver um conjunto da sua obra, e nele seus desenhos, suas pinturas, seus temas, estando à mostra caminhos que a sua arte vem realizando – Figuras da Bahia; A Religiosidade Baiana; Flores; A Cidade do Salvador; Nus; Aquarelas, Retratos e Santinhas, a ênfase maior de seus trabalhos.

Nascida em Salvador, em 1928, desenhando desde cedo, veio a fazer sua formação através de curso livre de desenho e o primeiro ano da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, isto aos dezesseis anos, tendo também estudado depois com o pintor Santa Rosa. Mas é frequentando o atelier de Mario Cravo Júnior, em 1949, no Porto da Barra, que se integra ao movimento moderno e que a pintura passa a fazer parte de sua vida.

É neste momento que Lygia passa a ter consciência da sua arte e om isso uma nova consistência. O atelier de Mario era um lugar de cultura, de arte, de ideias novas, cercado de discos e livros e materiais para pesquisa e estudo. Em lugar da escola opta por este espaço. E esta escolha é fundamental para a sua trajetória. Lá, conhece Jenner Augusto, Rubem Valentim, e com o próprio Mario, realiza a sua primeira mostra, uma coletiva, no Instituto Histórico e Geográfico.

Este é o começo.

Participa em seguida de salões, o Nacional, o Baiano, realiza um mural para o Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal de Salvador, mas de um momento para outro, após uma exposição, afasta-se da arte. Faz seu retorno somente em 1984, após mais de vinte anos recolhida apenas ao seu trabalho de desenhista e pintora, sem exibição pública. Voltou depois com um conjunto da sua obra no Museu Regional de Feira de Santana, e nele retoma seus desenhos e suas pinturas, seus temas, estando a mostra – Da linha a cor – dividida em painéis abarcando caminhos que a artista vem realizando – autorretrato; cenas de Salvador; a labuta do mar; a religiosidade baiana; lavadeiras; faces; capoeira; crianças; flores; naturezas; inspirações, santas e casarios.

Ela nos deixa uma obra de sensibilidade em suas formas e em suas cores, essas tão suaves e delicadas como ela, mantendo-se fiel a si mesma, alheia a correntes ou modismos que são a tônica para muitos artistas, jovem ou não, com trabalhos em desenho e pintura, marcada depois pela maturidade de uma artista que não veio a seguir os passos desta entidade chamada mercado, nem o canto de manter-se paralela às correntes do aqui e agora, ou então buscando oficializar-se ou alcançar um poder no meio cultural. Estamos diante de uma artista que crê no trabalho dedicado, numa organização plástica lírica e paciente, para que exista e continue a existir o que há de humano na arte.