Um final surpreendente marca o espetáculo teatral “Maldita Seja”, que já teve sete bem sucedidas temporadas em palcos de Salvador, e está em cartaz no Teatro Molière (Aliança Francesa), onde faz as duas últimas apresentações nos dias 15 e 16 de março, (sexta e sábado) às 20h. Indicado ao Prêmio Braskem 2023 nas categorias Espetáculo Adulto, Texto (Paulo Henrique Alcântara), Atriz (Viviane Laerte) e vencedor na categoria Revelação (Veridiana Andrade), o espetáculo tem encenação assinada por Hyago Matos, duplamente indicado em 2022 ao Prêmio Braskem de Teatro.
A história da peça se desenvolve em torno de duas criadas, Cema, a mais velha, e Nevinha, a mais nova. Durante o velório do patrão, figura influente em uma cidade do interior, elas atravessam a madrugada na cozinha do casarão onde moram, revirando o passado da família para quem trabalham. Ao longo dos anos, a devotada Cema fez da cozinha seu porto seguro, mirante de onde muito viu e ouviu. Ela sempre se esmerou em servir, atenta aos chamados dos quartos, aos pedidos na mesa do jantar. Vigilante, está pronta a cuidar, fiel guardiã.
Enquanto o patrão é velado na sala de visitas, Cema permanece na cozinha, onde desfia seu rosário e conta, por insistência de Nevinha, histórias envolvendo a família do morto, relatos, por vezes, parecidos com as tramas das novelas de rádio que Nevinha tanto aprecia. À medida em que as horas avançam, Nevinha escuta novos segredos, capítulos marcados por discórdias e dolorosas separações. Mas, para surpresa de Cema, o amanhecer vai trazer um acerto de contas com o seu próprio passado, após ser descoberto algo que vai mudar para sempre a vida da criada. O contexto da peça e suas personagens, colocadas em papel de subalternidade, suscitam reflexões de ordem social e permitem, enquanto afloram as suas histórias pessoais, discussões de fundo político, levantando oportunas abordagens sobre desigualdade social, opressão feminina e preconceito.
A parceria artística entre dramaturgo, diretor e atrizes é antiga. Paulo Henrique Alcântara já dirigiu Vivianne Laert por duas vezes: em Álbum de família, de Nelson Rodrigues, em 2008, e em A lira dos vinte anos, de Paulo César Coutinho, em 2016. Professor da Escola de Teatro da UFBA, Paulo Henrique Alcântara escreveu e dirigiu a peça Sublime é a noite, em 2017, para uma turma de formandos do curso de interpretação teatral, da qual faziam parte Hyago Matos e Veridiana Andrade. Maldita Seja foi escrita especialmente para Hyago Matos, após este ligar para Alcântara pedindo sugestões de textos para encenar.
A montagem tem cenário criado por Maurício Pedrosa, figurino de Guilherme Hunder, iluminação de Otávio Correia, trilha sonora de Luciano Bahia, maquiagem de Julia Laert e na contrarregragem Bárbara Laís. A produção está a cargo de Clarissa Gonçalves.
O que já se disse sobre o espetáculo:
“É um texto sobre o amor. É um texto sobre a convivência entre duas mulheres, empregadas numa cozinha, que passam a noite acordadas enquanto o senhor da casa é velado na sala de visitas. Com profundidade de sentimentos vai nos mostrando a cumplicidade entre as duas e o humor pontua a cena de maneira que possamos sentir alívio. Duas atrizes, Vivianne Laert e Veridiana Andrade, num momento de beleza, uma mais experiente e a outra em início de carreira, dão conta das personagens de uma maneira profunda, mostrando-nos retratos da vida. O jovem diretor Hyago Matos deu conta do recado com muita segurança.”
(Raimundo Matos de Leão- Professor aposentado de História do Teatro da Escola de Teatro da UFBA.)
“É emocionante ver o teatro cheio ser deslocado para uma cozinha cheia de histórias, de amores e dores, lembranças e cheiros. A interpretação de Vivianne Laert e Veridiana Andrade vai nos conduzindo para esse universo cheio de poesia e concretudes criado no texto de Paulo Henrique Alcântara e na direção cuidadosa de Hyago Matos. Um deleite. Desejo vida longa para esse trabalho que nos lembra que o bom teatro é cheio daquela “boa simplicidade” tão difícil de encontrar e de fazer acontecer.”
(Wanderley Meira-Ator)
“O texto Maldita Seja é engenhoso, hábil, maduro. Texto lapidado, burilado. Texto para o público em geral. Mantem o elo com o repertório de Paulo Henrique Alcântara, com sua assinatura muito autoral, ao mesmo tempo que amplia, dilata. É um texto politizado, que fala de diferenças sociais, poder. Apresenta um humor inteligente, inspirado.”
(Marcos Uzel- Professor, jornalista, escritor de vários livros sobre teatro baiano.)
Ficha Técnica
Direção: Hyago Matos
Elenco: Vivianne Laert e Veridiana Andrade
Texto: Paulo Henrique Alcântara
Cenografia: Maurício Pedrosa
Direção de Produção: Clarissa Gonçalves
Assistência de Produção: Hyago Matos
Figurino: Guilherme Hunder
Costura: Saraí Reis e Luiz Santana
Iluminação: Otávio José Correia Neto
Assistência de Iluminação: Fernanda Paquelet
Trilha sonora: Luciano Salvador Bahia
Maquiagem: Júlia Laert
Assessoria de imprensa: Dóris Pinheiro
Arte Gráfica: Mário Oliveira
Contrarregra: Bárbara Laís
Operação de som: Hyago Matos
Operação de luz: Victor Hugo Sá e Otávio José Correia Neto
Cenotécnicos: Ademir França, Reinaldo Moreira, Márcio Aurélio Carvalho Serralheria: Leandro de Jesus
Assistência de cenografia: Éveli Prazzo, Jhéssy Oliveira, Mainah Rego, Amanda Mayer, Hamilton Lima e Hyago Matos