“Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la”, defendia o escritor e poeta italiano Dante Alighieri ao abordar os desejos da vida e, mais de 700 anos após a sua morte, a escrita continua ecoando, em especial na realidade dos moradores de Santo Antônio Além do Carmo, que testemunham a tradição do carnaval no bairro se transformar em dores de cabeça e transtornos.
Longe dos principais circuitos da folia, o pré-carnaval em Santo Antônio Além do Carmo já é uma tradição, com o desfile de bloquinhos para quem curte uma certa tranquilidade durante o carnaval.
Porém, com o passar dos anos, especialmente no período pós-pandemia, o local tem atraído uma quantidade maior de pessoas, e os moradores começam a relatar os problemas dessa multidão nas ruas apertadas do bairro.
“A quantidade de blocos que estão vindo é demais para o Santo Antônio, deveriam ser menos, com bloquinhos de sopro, nada de trio elétrico, nada dessas coisas grandes, porque o bairro não suporta esse tipo de coisa”, relata dona Márcia, moradora do bairro que, apesar dos transtornos, diz curtir a folia da porta de casa.
Para Vagner Alcides, outro morador do bairro, o carnaval do Santo Antônio Além do Carmo remete à tradição em essência, e revela que não se sente surpreso pela proporção que a folia tem recebido nos últimos anos.
Se você pegar o histórico desses blocos antigos, todos eles são oriundos daqui de Santo Antônio. Como os blocos infantis, que deram origem aos Corujas, aos Internacionais. Aqui também se instalou o Mercador de Bagdá, e tinha um anexo daquela época dos internacionais que chamava a Turma do Bacana. Tudo isso nasceu aqui, em Santo Antônio. A federação carnavalesca sempre esteve aqui na rua direta de Santo Antônio”, destaca o morador.
Problemas sanitários
Dona Márcia também relata que, entre os problemas enfrentados durante o carnaval, está a falta de higiene – e de educação – dos visitantes, que não possuem cuidado com o patrimônio alheio.
O pessoal entra [na casa] e faz xixi, sem pedir licença, nem nada”, revela dona Márcia, que pede que a prefeitura coloque banheiros químicos na região e faça a limpeza “quase que imediatamente após a passagem dos blocos”.
Para Saúl Gomes da Cruz, também morador do bairro, o carnaval no bairro é uma festa bem-vinda, mas defende que o governo precisa fornecer a infraestrutura necessária para um evento desse porte.
Muitas vezes as nossas casas viram verdadeiros banheiros a céu aberto, com muita sujeira jogada na rua. O carnaval é uma festa bem-vinda, mas tem que ter uma estrutura do governo para orientar esse trânsito e cuidar dessa limpeza para nós”, afirma o morador.
Estacionamento
Outro problema enfrentado pelos moradores da região é o estacionamento durante o período festivo. Com toda a estética que remete a um bairro histórico, localizado no centro da cidade, Santo Antônio Além do Carmo possui ruas de mão única, com pistas estreitas.
Os moradores ficam a mercê das pessoas que vêm de fora e tentam estacionar nas portas de casa, porque muitas casas não tem garagem, então temos que estacionar do lado de fora, temos que estacionar na porta de casa e não encontramos vagas”, afirma a advogada e moradora do bairro, Helaine Marina.
A advogada explica que não há qualquer tipo de fiscalização ou monitoramento durante a folia, e que isso prejudica os moradores do bairro, e sugere que as mesmas medidas adotadas nos principais circuitos do carnaval sejam implementadas na região.
O que poderia ser feito para amenizar é colocar as mesmas coisas que fazem nos outros locais de circuito, que é botar um adesivozinho na frente dos carros para identificar os moradores e proibir mesmo o estacionamento aqui de gente de fora”, destaca a advogada.
Para Saúl Gomes outro problema relacionado ao estacionamento e ao tamanho das ruas diz respeito às emergências durante a folia, já que a entrada e saída de ambulâncias e carros prestando socorro pode enfrentar dificuldades diante do acesso bloqueado pelos veículos.
Faturamento do comércio
Se para os moradores, o carnaval em Santo Antônio Além do Carmo pode trazer problemas e dores de cabeça, para os comerciantes da região, o evento é certeza de aumento no faturamento.
Anderson Márcio, dono de uma panificadora no bairro, revela que com o carnaval de 2023, o acréscimo no número de clientes durante o período que antecede a folia foi significativo.
Se falarmos em percentual, na semana [do carnaval] tivemos um acréscimo de 80% a 100%”, destaca Márcio.
Professor universitário e empreendedor, Anderson Márcio pontua que o ano de 2023 do ponto de vista econômico, de um modo geral, não foi satisfatório, mas que o período das festas de fim de ano, somados com a chegada do carnaval são motivos de comemoração para os comerciantes.
Sobre o faturamento da panificadora com o carnaval, Márcio é enfático: “Espero que dobre ou triplique. Temos essa expectativa positiva, não somente por conta da quantidade de turistas que estão hoje na cidade, mas que vão vir especificamente para o carnaval do Santo Antônio, daqui do nosso bairro”.
Já para Carina Fernandes, gerente de uma pousada na região, o carnaval aumenta o fluxo de hóspedes e, para 2024, já não há mais vagas disponíveis.
Superamos a nossa expectativa, batemos a meta que havíamos projetado. E é a nossa satisfação, saber que as pessoas estão vindo para cá se hospedar aqui, mas não só para curtir o Carnaval da Barra, do Campo Grande, mas para curtir principalmente o Carnaval do Santo Antônio”, pontua Fernandes.
Do BNews