Por Victor Pinto
O tabuleiro político baiano já está sendo montado para 2026, e as peças começam a se mexer em um ritmo que promete embates internos e reacomodações estratégicas. O núcleo ligado ao governo do estado, liderado por Jerônimo Rodrigues (PT), parece determinado a desenhar uma chapa robusta, mas que, inevitavelmente, deixará rastros de insatisfação. O principal ponto de tensão? A cadeira de senador atualmente ocupada por Ângelo Coronel (PSD).
A construção da chapa dos governadores, já tida como imbatível, com Jerônimo à reeleição, Jaques Wagner (PT) buscando a manutenção de seu assento no Senado e Rui Costa (PT) como a grande novidade também na busca de uma cadeira na Casa Alta coloca Coronel em xeque. Essa movimentação não apenas o rifaria da corrida pela reeleição, mas também abriria espaço para, quem sabe, articulações secundárias envolvendo seus filhos, Diego Coronel, deputado federal, e Angelo Filho, deputado estadual. O plano? Diego na vice da chapa majoritária e Angelo Filho na vice-presidência da Assembleia Legislativa, com vistas à presidência da Casa em 2027, possivelmente.
Contudo, a política não é feita apenas de acomodações, e Coronel agora enfrenta o peso de decisões passadas. Apesar de ter se posicionado como um senador municipalista, sua postura ao longo dos últimos oito anos foi marcada por um distanciamento estratégico de figuras centrais do grupo governista, como Otto Alencar (PSD) e Jaques Wagner (esses dois últimos sempre andaram unidos). Coronel frequentemente optou por acenos à oposição, ficando em cima do muro em momentos cruciais para o PT. Essa falta de alinhamento direto agora lhe custa caro, pois o grupo que ajudou a mantê-lo no Senado parece disposto a redirecionar sua força política.
Os cálculos políticos não favorecem Coronel. Ainda que seja um político destemido, suas apostas em neutralidade em momentos críticos do governo petista e seu próprio desempenho no Senado não renderam os dividendos esperados dentro do grupo. Agora, gravar vídeos engraçados ou enviar recados velados não serão suficientes para assegurar sua posição. Coronel terá que decidir: ou bate na mesa, engrossa o tom e tenta resgatar o espaço perdido, ou aceita ser substituído e se adapta ao novo cenário.
Há quem aposte em um possível racha e até em uma eventual migração de Coronel para a base de ACM Neto (UB). Embora não seja impossível, é um cenário, de primeira vista, improvável.
O desafio de Jaques Wagner e do grupo governista é evitar que a insatisfação de Coronel cause fissuras maiores. Wagner, sempre o pacificador, já declarou que não haverá racha. Porém, administrar as rusgas internas será um verdadeiro teste para um grupo que está há quase duas décadas no poder. Afinal, manter a hegemonia em um ambiente político desgastado pelo tempo e pelas próprias disputas internas exige habilidade e, sobretudo, uma capacidade de articulação que não deixe espaço para implosões.
Coronel, por sua vez, está diante do momento mais decisivo de sua carreira. Em 2026 será um divisor de águas: ou ele encontra formas de reafirmar sua relevância dentro do grupo ou será lembrado como um senador rifado pelo núcleo petista com apenas oito anos de validade. Fica também um cenário de descrédito ao PSD, como um retrocesso, e terá que engolir uma chapa praticamente 100% vermelha. A conferir.