Por Joaci Góes
(Ao eminente amigo Desembargador Valtércio de Oliveira!)
“Se a alegria do outro me faz mal, haverá algo tão brutal?” Verso e Verdade.
A coragem, como uma emoção qualquer, pode ser aprendida e desenvolvida. Seu aprendizado depende da atitude que se queira incorporar ao comportamento. Começa-se pela aceitação: “Sim, eu sinto inveja”. Em seguida, vem a reflexão sobre o propósito: “Eu quero me libertar, ao máximo, deste sentimento, para que possa dirigir as energias, hoje consumidas por ele, para objetivos construtivos, afinados com a construção do meu futuro”. Para implementar a nova postura, pode-se recorrer desde a mecanismos de autoajuda, passando pela troca de impressões e experiências com amigos, cônjuges ou parentes, até a assistência psicanalítica. Quem já realizou e vive de realizar a experiência sabe que vale a pena. Há como que um desabrochar de possibilidades, até então insuspeitadas. A vida ganha significados novos. Não há ressurreição. Há renascimento.
Em nenhum momento da História, as condições foram tão propícias, como na atualidade, ao enfrentamento da inveja. Há um generalizado desejo de ampliar limites, conhecer o funcionamento da mente, mergulhar nas almas. Há uma abertura, cada vez maior, para se discutirem as fraquezas humanas. A inveja é o último tabu, com foros de reduto inexpugnável. Podemos quebrá-lo e transpô-lo, como quebramos o tabu da questão sexual, nos planos da virgindade feminina e da homossexualidade, trazendo a discussão para a claridade. Na realidade, podemos fazer da inveja um guia na identificação de nossas fraquezas, passo inicial indispensável para superá-las.
A grande força da análise reside em sua capacidade de enfraquecer e minar tudo que se origine do preconceito. Através da análise, podemos compreender e praticar a lição de Frank H. Knight (1885-1972), para quem “educar é desensinar com o propósito de superar preconceito e intolerância” e “a pior dificuldade não é tanto a ignorância, mas o fato de as pessoas ignorarem que são ignorantes; elas sabem demais o que não constitui a verdade”. Frank H. Knight foi um dos fundadores da escola de economia de Chicago que teve, entre seus alunos, os ganhadores do Nobel Milton Friedman, George Stigler e James Buchanan.
A virada do milênio testemunhou uma etapa da vida humana, marcada por uma definição ideológica que levou à concepção do que tem sido denominado de “fim da história”, tomada a expressão no sentido de que a humanidade já experimentou todos os modos de organização social, sobrevivendo, como o mais compatível com suas aspirações, a democracia política, a sociedade aberta da qual a economia de mercado é componente fundamental. Coerente com esta visão, o estado liberal moderno revê, continuamente, o seu papel, ajustando-se, preponderantemente, a esta diretriz. O ruído dos protestos e as dificuldades para avançar nesta direção, vivenciados por países como o Brasil, não impedem que se perceba com nitidez que a vitória, ampla, do pensamento liberal, já é visível a olho nu, no horizonte do tempo. Como artifício de comunicação social, para fugir à pecha de responsável pelas desigualdades, de ontem e de hoje, que, sobre sua imagem histórica, lança o discurso populista, o liberalismo, aqui e ali, aceita ser rotulado com outras denominações e composto por elementos estranhos à sua integridade sistêmica. Nessa heterogênea diversidade conceitual, há até os que supõem que a ausência de lideranças é compatível com o espírito democrático, o que constitui equívoco palmar. Seria levar longe demais a inegável e elástica capacidade da democracia de conviver com conflitos, inclusive com os que tramam, continuamente, pela sua destruição.
Entre as nações modernas, nenhuma vive uma crise de perplexidade semelhante à que assoberba o Brasil. Em termos do papel que cabe ao poder público desempenhar, o Brasil já não é o que foi, nem dá sinais de saber como se preparar, para o que será ou pode vir a ser. Dentre as inúmeras atividades e responsabilidades exercidas, tradicionalmente, pelo poder público, as pertinentes à formação do cidadão sempre foram colocadas em plano secundário, a exemplo da educação e saneamento básico. O que sempre interessou à maioria dos políticos é a movimentação em torno das empresas estatais, manancial de desperdício, nepotismo e corrupção.