“Em carne viva”. O novo livro de Emiliano José será lançado no dia 25 de agosto, às 18 horas, no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, envolvendo quatro personagens. No caso dele, Joviniano de Carvalho Neto, autor do prefácio, tem toda razão: a partir de certo momento, quem conta uma história conta a própria história.
Passa pela luta revolucionária contra a ditadura nas cidades e também envereda pela Guerrilha do Araguaia, falando de pelos menos dois militantes da Bahia desaparecidos no decorrer daquele massacre. Além disso, depara com um personagem do sangrento episódio de Pau de Colher, no norte da Bahia. E o autor, em muitos momentos, presente, porque parte das lutas travadas pelos protagonistas.
Pedro de Oliveira, personagem a abrir o livro, iniciou vida política junto com o autor, na zona Norte de São Paulo, mais precisamente no Jaçanã, os dois, na sequência, militantes da organização revolucionária Ação Popular. Como diz o autor na abertura do livro, tempo da idade da inocência, das grandes descobertas, dos sonhos coloridos, e arriscados. Pedro de Oliveira, quando da dissidência da organização, seguiu a maioria e ingressou no PCdoB, onde permanece até os dias atuais. Mais não se deve dizer. Apenas convidar o leitor a ler.
Diva Santana, com ela o autor conviveu em meio à militância política vinculada aos direitos humanos. Irmã de Dinaelza Coqueiro, desaparecida política, assassinada na Guerrilha do Araguaia. Ela e o marido Vandick Coqueiro, ambos do PCdoB. Histórica trágica e comovente, presente no livro. Militante desde jovem, quando começou a querer saber do destino da irmã. Até hoje, no Grupo Tortura Nunca Mais, incansável militante do PCdoB.
Ana Guedes, com quem o autor conviveu no ano de 1970, ambos militantes de Ação Popular. Como Pedro de Oliveira, quando da dissidência de AP, seguiu a maioria da organização, e optou pelo PCdoB, partido do qual é militante e dirigente até os dias atuais. Ao longo da existência, dedica-se a formar novos ativistas políticos e a defender com vigor os direitos humanos.
O autor afirma não saber como promoveu o encontro de três militantes do PCdoB no livro. Foi acontecendo. De modo inconsciente. Um feliz acontecimento, segundo ele. Sentiu-se feliz e honrado, também, pelo fato de o sociólogo e velho militante dos direitos humanos, Joviniano de Carvalho Neto, ter aceitado fazer o prefácio, incansável aos 80 anos.
Estranho no ninho, apenas um personagem: Zé Camilo. Pedro, Ana e Diva têm trajetória militante no conturbado período de 1968, passando pelos ásperos tempos do pós-AI-5. E seguindo até os dias atuais. Nada mais natural para quem, como autor, se dedica a esquadrinhar o período da ditadura.
Zé Camilo surge assim de outro tempo, final dos anos 30 do século passado. Líder da revolta de Pau de Colher, pequena Canudos acontecida no norte da Bahia, município de Casa Nova. A metralhada dizimou centenas de camponeses, todos agrupados sob o manto de crenças milenaristas. Zé Camilo sobreviveu, e o autor foi atrás dessa comovente história, contada pelos irmãos Alberto e Paulo Dourado, e por Isabel Gouvêa, cujas trajetórias lhes permitiram conviver com Zé Camilo.
Estranho no ninho, modo de dizer.
Zé Camilo, como os três personagens, vítima da violência de uma ditadura. Os três, do regime nascido em 1964. Zé Camilo, do período ditatorial de Getúlio Vargas, incapaz de assimilar reivindicações camponesas e avesso a entender manifestações religiosas como parte delas. Os quatro caminhando em meio a um Brasil desigual, violento, sangrento, como diz o autor.
Emiliano José poderia situar o livro como o sexto volume da série “Galeria F – Lembranças do Mar Cinzento”, onde ele retrata histórias de violência da ditadura de 1964, e da resistência do período. Preferiu, no entanto, editá-lo como livro à parte. Mais uma contribuição dele à memória daqueles tempos, a nos cobrar mais e mais publicações de modo a revelar o heroísmo dos combatentes e a violência do terror.
JOSÉ, Emiliano. Em carne viva /
Emiliano José. – Salvador :
Assembleia Legislativa da
Bahia, 2022, 344 p. : il.