Por Zedejesusbarreto
“É declarada extinta, desde a data desta lei, a escravidão no Brasil. Revogam-se as disposições em contrário”.
Esse foi o texto, curto e grosso, da Lei Áurea, assinado pela Princesa Isabel, filha do Imperador Pedro II, no dia 13 de maio de 1888.
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‘Liberdade, liberdade
Abra as asas sobre nós
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz’
(samba-enrêdo da Imperatriz Leopoldinense/1989)
“… a liberdade significava, pela primeira vez na vida, a oportunidade de ir e vir, abandonar as senzalas e ir buscar trabalho em outro lugar, sem dar satisfações a ninguém…
Alguns acampavam ao redor de vendas e tabernas, onde passavam as noites dançando e cantando em celebrações de alegria. ‘Ex-escravos perambulavam em grupos ao longo das estradas, sem destino, dormindo nos rancho ou ao ar livre”, registrou o jornal Novidades, da cidade de Vassouras.”
(trecho do livro ‘Escravidão III’, de Laurentino Gomes, cap 29 – O dia Seguinte)
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Cabe aqui mencionar o Bembé do Mercado, de Santo Amaro da Purificação, espécie de Candomblé de Rua, festejo popular e tradição história desde o 13 de maio 1888/89 aos dias atuais.
A bela composição “13 de maio”, de Caetano Veloso:
“Dia 13 de maio, em Santo Amaro/ Na Praça do Mercado
Os pretos celebravam/ (Talvez hoje ainda o façam)
O fim da escravidão/ Da escravidão
Tanta pindoba! / Lembro do aluá
Lembro da maniçoba/ Foguetes no ar
Pra saudar Isabel / Ô Isabé
Pra saudar Isabé”.
Um pouco de História não faz mal.
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Voltemos ao livro Escravidão III, de Laurentino Gomes, leitura obrigatória:
… “Aos poucos, porém, a dura realidade foi se impondo. Passadas as noites de festas e danças, os ex-escravos perceberam que não havia para onde ir. Ninguém lhes daria trabalho. Grupos famintos e esfarrapados continuaram a perambular, a esmolar de casa em casa, de fazenda em fazenda, em busca de comida e amparo. Outros se dirigiam aos centros da cidade e vilarejos, tentando encontrar algum amparo das autoridades – o que não aconteceu em lugar algum”
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O baiano Cezar Zama discursou já no dia 13 de maio de 1888, após o ato da Princesa Isabel, cobrando educação, escola para todos:
“Quem se encarrega de quebrar as cadeias da escravidão tem também o dever de quebrar as da ignorância”
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No dia 26 de maio, seguinte, o abolicionista José do Patrocínio escrevia no jornal Cidade do Rio, também alertando, cobrando e apontando caminhos, firme:
“Os que salvaram o homem do cativeiro não o devem esquecer agora na miséria.
(…) Ao governo cumpre dividir a terra, estabelecer colônias para os que não têm
cabana, recolher os que caminham sem destino pelos desvios das matas (…)
A divisão de terras é uma necessidade palpitante”
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Em 17 de outubro de 1890, já depois do golpe chamado de Proclamação da República, um desiludido e guerreiro José do Patrocínio bradava, em artigo escrito que mais tarde lhe valeu uma prisão e extradição bancados pelos poderosos do ‘novo’ governo republicano. A punição aconteceu dois anos depois, na ditadura do Marechal Floriano Peixoto, o segundo presidente pós-monarquia.
Eis trechos do texto de Patrocínio, que parece ter sido escrito ontem:
“Há uma ilusão de calmaria, porém o que existe é a desilusão do povo.
(…) O país está parado (…), submetido a uma oligarquia de ambiciosos (…)
Reduzido a um feudo de ministros (…)
Não se respeitam o direito e a liberdade”
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Tudo dito.
No hoje e agora nos resta pensamentar.
Jornalista e escritor