O caminho do TCM e TCE: ir para o paraíso sem morrer

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Por Victor Pinto

A aposentadoria do conselheiro Antonio Honorato, do Tribunal de Contas do Estado (TCE), reacende o velho jogo político na Bahia: quem indica, quem entra e quem lucra com o que muitos chamam de “paraíso político sem precisar morrer”. Nesse novo capítulo, o PSD se movimenta para emplacar o deputado federal Otto Alencar Filho na vaga. A articulação — silenciosa, mas eficaz — foi costurada há meses pelo senador Otto Alencar com o governador Jerônimo Rodrigues. E agora, a conta parece prestes a ser paga.

Otto Filho, antes resistente à ideia de encerrar a carreira parlamentar cedo demais, parece ter se rendido às vantagens: estabilidade, bom salário, blindagem política. O recado é simples: mandato é bom, mas uma cadeira vitalícia no TCE é melhor ainda. A possível nomeação serve também para reorganizar a vida dos Alencar, que já começa a discutir quem herdará a vaga eleitoral deixada pelo filho do senador, como nos lembrou essa semana farta matéria do Política Livre.

E não para por aí. Há ainda uma segunda vaga aberta no TCE, herdada do falecido Pedro Lino. A disputa agora está judicializada, com auditores fiscais exigindo que seja respeitada a vez da carreira técnica. Mas o voto do ministro Dias Toffoli, favorável à indicação política, abre espaço para outra jogada palaciana. Dois nomes do PT estão no páreo: Afonso Florence e Josias Gomes. Este último, se escolhido, liberaria a cadeira da Câmara para Elisângela Araújo. Ou seja, o PT guloso também joga, apesar de já ter emplacado as últimas cadeiras.

No TCM, o jogo também corre solto. A próxima vaga política será em 2026, com a aposentadoria de Francisco Andrade Netto. E o nome cotado é o do ex-presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adolfo Menezes, também do PSD. Assim, o partido garantiria as duas próximas vagas políticas nos tribunais. Uma dobradinha poderosa e simbólica.

Apesar das críticas de bastidor, não há nada de ilegal nesse movimento. Mas o que se vê é a cristalização de um poder institucional que muitas vezes escapa ao radar do eleitor. Tribunais de Contas decidem sobre prestações de contas de prefeitos, avaliam ações de governo, influenciam o calendário político — tudo longe do barulho das urnas.

O PSD se mostra pragmático. Em vez de disputar apenas votos, investe na ocupação de espaços com impacto real. É o que a velha política faz bem: garantir sobrevida, poder e influência sem passar pelo teste das urnas. E o PT, mesmo à frente do governo estadual, pode acabar ficando de fora desse circuito se não mexer bem suas peças.

Na Bahia, os tribunais de contas nunca foram apenas casas técnicas. São arenas silenciosas, mas fundamentais, onde a política opera com luvas de veludo. O eleitor, que às vezes nem sabe quem ocupa esses cargos, deveria prestar atenção. Porque o paraíso político, afinal, continua sendo destino cobiçado por muitos — e reservado para poucos.

Jornalista // twitter: @victordojornal