O futuro do Abaeté entra em debate

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“O seminário Xirês Patrimoniais será uma oportunidade de fazer confluir sentidos históricos e emergenciais, conectando importantes atores da década de 1980 com a geração atual, numa (nova) onda em defesa do Abaité. Porque a luta vem de longe, nós mantemos o legado”. Assim a pesquisadora Clara Domingas, uma das lideranças pelo Tombamento do Abaité, com “i” para “reforçar a retomada ancestral em curso, evocando o Tupi antigo”, define a importância do evento que acontecerá de 1º a 3 de dezembro, em diferentes espaços do Parque do Abaeté e em locais associados. O movimento não propõe a exclusão de um termo pelo outro, mas evocar a herança originária e viva.

Uma das principais estratégias educativas por uma patrimonialização nos termos nativos, é a proposição de atividades descentralizadas no último dia da programação. No domingo (3), por exemplo, a programação acontecerá fora das poligonais do Parque e da APA do Abaeté, sobrepassando as margens instituídas pela legislação, entendidas como meras abstrações para facilitar a gestão, porém incoerentes com relação à preservação e à sobrevivência do sistema ecológico do Abaeté.

Em formato de rodas (xirê, em Yorubá, significa roda ou dança par evocação dos orixás) e rituais de encantamento, o seminário aposta na mobilização, sensibilização e participação da sociedade civil. Organizado conjuntamente por mais de 50 entidades, coletivos e movimentos socioambientais que integram o GT de Patrimonialização do Abaeté, criado em 2020, o evento discutirá a retomada do processo de Tombamento do Abaeté, iniciado pelo IPHAN em 1985 (os autos foram oficialmente dados como perdidos pelo órgão em 2013). O objetivo é fazer com que as pessoas conheçam o processo de tombamento, se incorporem à luta e ajudem a definir os próximos passos.

Refletir coletivamente

O seminário Xirês Patrimoniais tem o objetivo de aproximar o público dos debates sobre o processo de tombamento, para avançar na construção de políticas de preservação nos termos nativos. “Precisamos criar condições para refletir coletivamente sobre o que queremos e como queremos, a respeito da Patrimonialização”, explica Clara Domingas.

E acrescenta: “Abaité é o último remanescente de restinga da cidade. Este ecossistema costeiro originário é um delicado sistema de lagoas e dunas, espécies endêmicas de plantas e bichos, significados históricos e religiosos, modos de vida humanos e mais que humanos, intrinsecamente ligados ao mar, nutridos pelas bacias hidrográficas dos rios Ipitanga e Jaguaribe. Abaité ancestral, Tupinambá, quilombola, caboclo, crioulo, afro-indígena, cantado em verso e prosa pelos quatro cantos do mundo, são hoje ambiências ameaçadas de desaparecimento”.

Abaité ou Abaeté?

É ainda Clara Domingas quem esclarece: “Afirmamos Abaité, com ‘i’, para reforçar a retomada ancestral em curso, evocando o Tupi antigo, língua nativa dominante neste território, antes da invasão europeia e durante os primeiros anos de colonização. O caso foi analisado por Frederico Edelweiss (1969), tupinólogo interessado em investigar topônimos de origem Tupi na cidade de Salvador, concluindo ser inadequado o termo Abaeté, com ‘e’. A palavra ‘eté’ remete a homem (Abá) abalizado, de valor, verdadeiro. Diferentemente, ‘ité’ tem sentido de sinistro, terrível, traduzindo de maneira mais precisa a realidade geográfica do lugar, que desafia, inspira medo, respeito e mistério, próprias às lendas e causos em torno da lagoa escura do Abaité”.

Programação

Sexta (1º): Xirê 1 – Abertura das 18h às 21h, na sede do Malê Debalê – Parque do Abaeté. Rito com Lideranças religiosas, apresentação do Malêzinho, roda de falas – Patrimônio afro-indígena: perspectivas históricas, abordagens contemporâneas e projeções.

Sábado (2) – Poranci – Ritual Tupinambá, das 7h às 8h, na área aberta do Parque do Abaeté; Di cumê – Café da Manhã, das 8h às 9h, no Arco do Parque do Abaeté; Xirê 2 – Roda de falas, das 9h às 12h, no mesmo local; Cruzos temáticos: Direitos territoriais dos povos tradicionais/ Políticas de preservação/ Abaité como Sujeito de Direitos; Di cumê – almoço das 12h às 14h; Xirê 3 – Roda de falas, das 18h às 21h, no Arco do Parque do Abaeté,Cruzos temáticos: Ancestralidade/ Educação/ Saúde/ Permacultura/ Capoeira/ Rima: cultivandocuidados.

Domingo (3) – Xirê 4- Banho na Lagoa de Deus, das 8h às 11h, encontro no TrakTrak (Alameda Praia de Potengi), com caminhada contemplativa

de 15min; Samba das Matriarcas da Pedra de Xangô + Samba de bacia de Mestra Damiana; Di cumê – Almoço, das 12h às14h, no Espaço Verde; Xirê 5 – Fechamento, das 15h às18h, no Espaço Verde, com cortejo até a Pedra de ponta/Pedra que ronca; Momento Griot com Mestre Ulisses e Mestra Ana Maria, Oficina Korin Nagô + Movimento Nosso Quilombo, Afoxé de rua/de praia até Itapuã ancestral.

GT de Patrimonialização – Criado em 2020, em plena pandemia da Covid-19, diante da construção de uma elevatória de esgotos às margens da Lagoa do Abaeté, o GT conta hoje com as seguintes entidades:

Fórum Permanente de Itapuã, Instituto de Permacultura da Bahia, ONG Gamba, Abaeté Viva, Comissão dos Povos de Asè de Itapuã, Ile Axé Abassá de Ogum, llê Axé Ibá Jiná, Nosso Quilombo, Afruxiqueira, Abaeté_Abaité: patrimônios possíveis, Parque em rede Pedra de Xangô, Korin Nagô , Associação Ganhadeiras de Itapuã, Coletivo Stella Maris, Projeto Mussurunga, SOS Vale Encantado, Movimento Jaguaribe Vivo, Eh Resíduo, Conexão Verde, Pituaçu em Rede, Projeto Escologia, Bumbá- Formação artística, Quilombo Quingoma, Quilombo Caipora, Quilombo Pitanga dos Palmares, Quilombo Alto do Tororó, Quilombo Tubarão, Quilombo Ilha de Maré, Parques em Conexão, Instituto Búzios, Guardiões da Bacia do Cobre, Movimento Essa Praça também é Sua , Feira na Horta, Salvador é Indígena, Sandboard Salvador, Amigos do Coral de Aleluia, Malê Debalê/ Malêzinho, IAB/BA, CAU/BA, LACAM- TEC FAUFBA, Projeto GeoAfro-UNB/, CEAO- UFBA, Convergência pelo Clima, Casa da Música, Espaço Verde, Lab Hantu, Colégio Gov. Lomanto Junior, Manifesta Coletiva, Instituto Ecos, Itapuã é Massa, Oxe Nativus, Programa Raízes dessa Terra, Produtora ET Rec, RevisÁfrica, Colônia de Pescadores e Aquicultores Z-06 de Itapuã, grupos de capoeira, Associação de Surf de Itapuã, praticantes de esportes náuticos, Pôr do Sol da Literatura, Coletivo Trama, Unidade de Saúde da Família-USF Itapuã e Imaterra- Instituto Mãos na Terra.