Por Joaci Góes
Ao querido amigo Waltinho Queiroz!
A percepção dominante é a de que muito maior do que a preferência do Presidente Lula pela candidata Kamala Harris é o seu repúdio à personalidade de Donald Trump, eleito pelo povo americano para governa-lo nos próximos quatro anos. O insólito e inédito gesto do trêfego presidente brasileiro de anunciar preferência por uma disputa alheia aos interesses nacionais teria resultado do aconselhamento de uma minúscula corrente ideologicamente terceiro-mundista, ainda presente nos quadros de nosso reconhecidamente capaz corpo diplomático. Segundo esse grupelho que se deixa dominar pelo wishful thinking, a vitória da simpática candidata derrotada seria favas contadas, não havendo risco na insensata, grosseira e inoportuna manifestação presidencial que deixou boquiaberta a totalidade da pequena fração dos seus inteligentes apoiadores, bem como a diplomacia internacional.
Segundo um número crescente de analistas da cena política brasileira, o temerário gesto presidencial que se revelou desastroso seria mais um no quadro de manifestações cuja impropriedade suscita preocupações da mesma natureza das que resultaram na renúncia de Joe Biden para concorrer à reeleição. Há os que acreditam que a acachapante derrota do Presidente nas eleições municipais de outubro passado, levou-o ao desesperado gesto. Parecendo acreditar no ditado espanhol segundo o qual “o que não tem remédio remediado está”, nosso ardiloso governante cedeu à insensatez que, certamente, muito contribuirá para consolidar a posição do Brasil como uma das nações mais mal administradas do Planeta, conclusão a que chegam todos os que comparam o que somos com o que deveríamos ser, como nação, levando-se em conta nossas ingentes possibilidades.
Como tem sido documentado em reiteradas declarações, formais e informais, o nosso Presidente atua na exclusiva perspectiva de preservação do poder, ou seja, como vencer as próximas eleições, deixando essa coisa de cuidar dos interesses das próximas gerações para lunáticos sonhadores de metas impossíveis, alimentadas por gente como o velhote Winston Churchill, bom de frases de efeito.
Acrescendo à sua trepidante biografia mais um feito inédito, Lula será o primeiro presidente brasileiro, desqualificado para fazer contato com um primeiro mandatário norte-americano. A pífia mensagem congratulatória que Lula enviou ao Presidente Trump foi o melhor que nossa diplomacia encontrou para dar o mínimo de dignidade a uma situação criada exclusivamente pelo despreparo e insensatez de nosso governante máximo: “Meus parabéns ao Presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo”. Os meninos do ENEM fariam melhor.
Recorde-se que, ostensivamente, o nosso Presidente vinha campeando, mundo afora, pondo-se ao lado das mais sanguinárias ditaduras, com Rússia e China à frente, e voluntariando-se para fazer o jogo sujo dos seus interesses, contra a civilização ocidental liderada pela Europa e o Continente Americano.
Não pode haver a menor sombra de dúvidas: estamos sob o comando da vanguarda do atraso!
—————————————-
Escritor e articulista. Membro da Academia de Letras da Bahia