Por Victor Pinto
O lançamento da pré-candidatura de Ronaldo Caiado à Presidência da República, realizado em Salvador, se mostrou um evento emblemático não apenas pelas intenções do governador de Goiás, mas pelas ausências e desorganização que marcaram a ocasião. O que deveria ser uma demonstração de força e coesão transformou-se em um retrato das fissuras internas do União Brasil e das dificuldades que Caiado enfrentará em sua jornada rumo ao Planalto.
A escolha de Salvador como palco para o anúncio não foi aleatória. A cidade é o berço político de ACM Neto, vice-presidente do União Brasil, cuja presença no evento visava conferir legitimidade e apoio regional à empreitada de Caiado. O governador, um desconhecido dos próprios baianos, salvo as proporções políticas e do agro, recebeu o título de cidadão baiano. A participação de Neto soou mais como um gesto protocolar do que um endosso entusiástico. Após sua derrota nas eleições estaduais de 2022, ACM Neto busca reposicionar-se no tabuleiro político nacional, mantendo canais abertos com diversas alas e potenciais candidatos, incluindo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nome que o Centrão observa com interesse para 2026.
A ausência de figuras-chave foi notável e sintomática. Antonio Rueda, presidente nacional do União Brasil, não compareceu ao evento, sinalizando descontentamento ou, no mínimo, falta de alinhamento com a iniciativa de Caiado. Da mesma forma, Davi Alcolumbre, presidente do Congresso Nacional, e os ministros Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações), ambos filiados à legenda, optaram por não prestigiar o lançamento. Essas ausências evidenciam uma divisão interna e levantam dúvidas sobre a capacidade de Caiado em unificar a sigla em torno de sua empreitada.
A desorganização do evento também chamou a atenção dos bastidores políticos. Problemas logísticos, falhas de comunicação entre as equipes de Goiânia e a falta de uma estratégia clara de mobilização resultaram em um lançamento aquém das expectativas. Isso, inclusive, expôs o descontentamento do prefeito Bruno Reis com rompantes de grosseria no ato. O que deveria ser uma demonstração de força e articulação revelou-se um episódio que expôs fragilidades na coordenação da pré-campanha de Caiado.
Nos corredores do poder, é sabido que o Centrão, bloco político conhecido por sua habilidade em gravitar em torno de candidaturas viáveis, mantém reservas quanto ao nome de Caiado. A preferência por Tarcísio de Freitas, visto como um gestor técnico e alinhado a pautas conservadoras, indica que o governador de Goiás terá que trabalhar arduamente para conquistar apoios significativos dentro desse grupo.
Para ACM Neto, o cenário também apresenta desafios. Após a experiência de 2022, onde sua posição ambígua em relação aos candidatos presidenciais foi apontada como um fator de desgaste, Neto busca agora alinhar-se de forma mais estratégica. Apoiar uma candidatura presidencial com potencial de crescimento é crucial para sua própria sobrevivência política e relevância nacional.
Em suma, longe de consolidar sua posição como líder natural da direita brasileira, o ato escancarou as divisões internas do União Brasil e as dificuldades que terá para se firmar como uma alternativa viável em 2026. A falta de mobilização nacional, as ausências estratégicas e a desorganização são indicativos de que, para transformar sua aspiração em realidade, Caiado precisará mais do que coragem, como ele mesmo aponta no seus discurso; precisará de uma estratégia robusta, alianças consideráveis e, sobretudo, de um partido verdadeiramente unido em torno de seu nome. A conferir.