Por Victor Pinto
O MDB na Bahia, que por muito tempo foi visto como um partido politicamente isolado, quase leproso, tem surpreendido com sua capacidade de se reinventar. Em 2018, por exemplo, quando lançou a candidatura de João Santana ao governo do Estado, o partido parecia estar buscando um espaço perdido, mas sem sucesso. A candidatura, vista por muitos como simbólica, não alcançou grandes resultados, refletindo um período em que o MDB era uma força em declínio na política baiana. Nos últimos anos, o partido encontrou novas formas de se reerguer e voltou a ocupar uma posição de destaque no cenário político estadual.
O MDB carrega uma história de oposição ao carlismo. Em 1986, essa oposição deu frutos, quando Waldir Pires foi eleito governador do Estado, um marco importante para a legenda. Mais tarde, em 2006, o partido foi peça-chave na vitória de Jaques Wagner, do PT, ao governo estadual, com a participação de Edmundo Pereira, do MDB, como vice-governador.
No entanto, a sigla enfrentou seu maior desafio com o escândalo que envolveu os irmãos Vieira Lima, Geddel e Lúcio, que foram protagonistas de uma das maiores crises da história do partido. As acusações e investigações contra os irmãos não apenas abalaram a imagem da sigla, como também colocaram em dúvida seu futuro. Por um tempo, parecia que o MDB estava fadado a cair em completa irrelevância, mas, longe de desaparecer, conseguiu se manter na política baiana.
Apesar do histórico anti-carlista, o partido se aliou a ACM Neto, principalmente após a gestão João Henrique na prefeitura de Salvador e em eleições gerais seguintes. Para tanto, até Bruno Reis, atual prefeito da capital, já foi do MDB. Essa aliança representava uma tentativa de reposicionar o partido no cenário estadual, mas a situação mudou drasticamente em 2022. Com a figura de Geraldo Júnior ganhando espaço dentro da legenda, o MDB rompeu com Neto e voltou a se alinhar com o PT. Essa reaproximação com o governo do Estado mostrou que o MDB ainda tinha cartas importantes para jogar e que a legenda sabia como se adaptar às mudanças políticas.
Hoje, o MDB tem um papel de destaque em várias cidades estratégicas do Estado. Em Salvador, Geraldo Júnior é uma figura central; em Juazeiro, Andrei da Caixa representa o partido; em Vitória da Conquista, Lúcia Rocha se destaca; e, em Camaçari, Oswaldinho é o nome do MDB. Nessas cidades e em diversas outras, o partido conseguiu consolidar quadros, mostrando que sua influência política está longe de ser irrelevante. Além disso, o MDB é o terceiro partido com o maior número de candidatos a prefeito na base aliada do PT, o que reforça sua importância dentro da política estadual.
Essa reestruturação é digna de nota, especialmente em um cenário onde outros partidos com longa história política na Bahia não conseguiram se adaptar tão bem às novas realidades. O MDB, que muitos acreditavam que poderia sair do mapa político após a queda dos Vieira Lima, se reorganizou, construiu novas alianças e, sobretudo, manteve sua relevância. E os Vieira Lima nunca caíram.
Enquanto muitos previam seu desaparecimento, o MDB continua sendo um jogador importante do xadrez eleitoral, mostrando que sua habilidade de se reinventar é o que garante sua sobrevivência e relevância no complexo tabuleiro da política baiana. Das duas uma: ou será recompensado por seu possível novo tamanho ou rumará, mais uma vez, para tentar se consolidar como sigla de caminho próprio. A conferir.
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Articulista/Jornalista e apresentador