Por Victor Pinto
O presidente Lula (PT) tocou na ferida do PT baiano, durante o Congresso Eleitoral, aqui em Brasília, quando relembrou o fato da sigla nunca ter governado a cidade soteropolitana, mesmo com quase 20 anos de poder no governo baiano. A fala repercutiu muito localmente e, de fato, se trata de uma questão difícil de explicar, como ele mesmo definiu.
“Esse partido já governou muitas cidades importantes neste país. Agora, tem coisa que a gente não consegue explicar. Como é que a gente [o PT] já governa há 20 anos a Bahia, e a gente não conseguiu ganhar Salvador? Como é que a gente explica nunca ter ganho o governo de São Paulo? Perdemos quatro eleições para o [Geraldo] Alckmin [do PSB, atual vice-presidente da República], mas já governamos a capital três vezes. Já governamos a região metropolitana [de São Paulo] muito tempo”, foram as palavras do inquilino do Alvorada durante seu discurso de 50 minutos e deu a declaração no olhar do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e do senador Jaques Wagner (PT).
Lula tocou numa ferida inquestionável e também posso adicionar nessa situação a cidade de Feira de Santana. O PT, na segunda maior cidade do Estado, faz o mesmo processo de despontar na oposição, mas nunca conseguiu emplacar o chefe do Executivo.
São várias as explicações. Em Salvador, por exemplo, desde 2012 o partido não tem um nome tão competitivo quanto o de Nelson Pelegrino, integrante de uma histórica disputa contra ACM Neto (UB). Aquele foi o último ano quando um pleito da capital foi para o 2º turno. Os quadros seguintes sofreram derrotas acachapantes, vide Major Denice, em 2020, candidata inventada por Rui Costa (PT).
Existe também uma lógica que contamina o público eleitor. Em qualquer roda de conversa, no período da eleição, é fácil ouvir um discurso da repartição do poder: o governo ficar de um lado, a prefeitura ficar de outro e as duas brigarem para mostrar quem faz mais por Salvador.
Ao analisar os dados gerais das eleições, o PT, por muito tempo, desde 2002, possuía um cenário vencedor em nível estadual nas zonas eleitorais soteropolitanos, inclusive quando Neto era prefeito, a exemplo de 2018, mas perde no tudo ou nada da prefeitura. Essa esfera mudou em 2022, quando ACM Neto venceu para governador, apesar de ter perdido a eleição geral.
Furar esse bloqueio e resgatar o eleitor que fugiu na eleição municipal passada são desafios. O próprio Jaques Wagner diz que quem ganha eleição é o grupo e isso o núcleo netista ainda tem em Salvador. A sigla petista segue com sua força nos rincões baianos. A eleição passada nos mostrou como Neto avançou nos grandes centros, cuja maioria desse recorte tem prefeitos da sua base, mas não foi suficiente para vencer.
O PT, por si só, não tem número considerável de prefeitos, principalmente quando colocado ao lado do PSD, mas o grupo vence o pleito estadual. Ambos não possuem boa articulação na capital, mas conseguem desbravar o interior.
Vencer Salvador causaria dois fortes impactos: fazer história da legenda nos jogos políticos baiano e nacional e, consequentemente, desfalcar fortemente o grupo adversário, sustentado, basicamente, pela visibilidade e pela estrutura do Palácio Thomé de Souza. Porém, pelo rascunhado, essa tentativa deve ficar para 2028, pois todos os caminhos levam por uma possível candidatura da oposição do MDB, com Geraldo Júnior, sigla que já governou a capital, diga-se de passagem.
Jornalista. Twitter: @victordojornal