O risco de forçar um segundo turno

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Por Victor Pinto
Na Bahia, somente três cidades possuem o instituto do segundo turno. São elas Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista. Ancorada nos arts. 28, 29, inciso II, e 77, todos da Constituição de 1988, a possibilidade de realização de segundo turno vem da adoção do critério da maioria absoluta de votos, característico do sistema eleitoral majoritário. Não basta o candidato, da cidade acima de 200 mil eleitores, ter maioria. Ele precisa ter mais da metade dos votos válidos. Se não conseguir, acontece o segundo turno com os dois mais bem votados do primeiro.

Conforme o jogo é jogado, o segundo turno vira uma tática e é buscada, principalmente, quando a oposição quer combater o nome governista, na maioria dos casos em processo de reeleição. Se torna um novo curso eleitoral carregando outros contextos e deixando de lado quadros sem êxitos, quando suscita o voto útil, tendo o mata-mata somente entre dois políticos.

Existem aqueles que buscam pavimentar esse instituto desde o início. Salvador é a prova disso. Pelo histórico, após sucessivos períodos de segundo turno – e o último foi em 2012 quando ACM Neto (UB) disputou contra Nelson Pelegrino (PT) o Palácio Thomé de Souza, em 2016 e 2020 tudo foi liquidado no primeiro. A tática da pulverização de candidaturas da base do governo, algo defendido pelo então governador Rui Costa (PT), não surtiu efeito.

Na pulverização, como chamamos na política, se lançam vários candidatos para tentar dividir os votos de tal forma para assim forçar o segundo turno e, dentro daquele arco, quem for para o tudo ou nada contra o adversário principal recebe o apoio dos demais. Desta vez, por exemplo, a tática da candidatura única vem contrariar o método. Todos da base do governo unidos, até que se prove o contrário, pelo nome de Geraldo Júnior (MDB) para enfrentar o favoritismo de Bruno Reis (UB), cuja vitória na passada, em 20, foi a maior entre as capitais, no primeiro turno.

Em Feira de Santana, segundo turno é assunto escasso. Desde a redemocratização só aconteceram movimentações de retorno do eleitorado para as urnas duas vezes. Em 1996 na disputa de José Falcão contra Josué Melo. Falcão venceu. E em 2020, Zé Neto (PT) venceu Colbert (MDB) no primeiro, que depois venceu o petista no segundo e se sagrou prefeito da cidade. Também uma cidade com uma eleição extremamente pulverizada e desta vez, pelo rascunho, não será diferente.

Mas das três, Vitória da Conquista é uma cidade que ama segundo turno. Desde quando atingiu a marca de 200 mil eleitores, isso em 2012, só resolve a escolha do prefeito no retorno. Em 12 houve a disputa entre Guilherme Menezes (PT) e Herzem Gusmão (MDB), com a vitória do petista. Em 16, o confronto de Zé Raimundo (PT) contra Herzem, e deu o emedebista, que repetiu o feito em 2020 contra o mesmo adversário.

Desta vez, em 2024, ou se trata de uma tática de Waldenor Pereira (PT) com Lúcia Rocha (MDB) para cada um seguir seu rumo separado, apesar da expectativa de nome único desde o primeiro turno, e buscarem um segundo turno contra Sheila Lemos (UB) e lá na frente buscar uma troca de apoios ou, de fato, não houve um entendimento claro da junção. Podem atirar no que viram e acertar naquilo que não viram e ajudarem no processo de reeleição de Sheila.

Se esperava um aceno do MDB em Conquista diante do aceno do PT em Salvador pela sigla, mas, conforme declarações recentes dos emedebistas, o solo soteropolitano não foi moeda de troca. Contudo, de olho nessa gula, os petistas observam a necessidade de reequilíbrio de forças entre os membros do arco de alianças do governador e outras cidades, por exemplo, precisariam entrar como oferta ou sinal na negociação.

Vai ser uma novela até o dia 5 de agosto, prazo final das convenções. Pelo vista, na Suíça Baiana, se uma articulação política governista não for mais incisiva, a confusão vai ser grande dentro da mesma base, isso se o jogo não estiver jogado entre os pares. A conferir. Um detalhe: faltam 251 dias para as eleições. O primeiro turno.