O silêncio barulhento de Bruno Reis

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Por Victor Pinto

Sabemos que política é feita por gestos e ações. Se omitir ou se ausentar conta e conta muito nesse minucioso jogo de xadrez. E esse parece ser o caso do prefeito de Salvador, Bruno Reis (UB), nos últimos tempos. Desde que o ano começou, quando as vezes perdia as estribeiras ao responder assuntos mais delicados, ele, ultimamente, tem se mantido num silêncio ensurdecedor diante de episódios que pedem ao menos uma palavra. O caso mais recente envolvendo a confusão na Câmara de Vereadores, literalmente embaixo dos seus pés, durante a votação do reajuste dos professores, é um exemplo disso.

Foi uma tarde de terror com os manifestantes encurralando vereadores e até a imprensa numa tentativa de barrar a votação do projeto na base da violência. O que não ocorreu, pois o texto foi aprovado. O grupo governista ficou no meio do furacão, tentando, como podia, apreciar a matéria de interesse do Executivo. E, depois de tudo, nenhuma palavra do prefeito. Nenhuma entrevista. Nenhuma coletiva. Nada. O silêncio do prefeito tem provocado um barulho ainda maior. E não apenas da oposição ou da categoria em greve, mas também de aliados que se viram sozinhos num momento de alta tensão.

O mais grave: esse silêncio não é pontual. Desde os desdobramentos da operação Overclean, passando pelo que envolve o reajuste dos rodoviários e agora com o projeto dos professores, o prefeito simplesmente não sumiu nos holofotes. O que antes era uma agenda ativa de entrevistas, posicionamentos estratégicos e falas públicas tem sido substituído por agendas discretas e, segundo bastidores, uma entrega mais intensa à espiritualidade.

Há quem diga que Bruno tem recorrido a retiros e aconselhamentos espirituais – influência da religiosidade marcante de sua esposa – numa tentativa de reencontrar o eixo num ano politicamente delicado. Nas colunas da Band News tenho brincando que o prefeito tem que procurar uma boa rezadeira e bater umas folhas.

Numa análise mais minuciosa, o silêncio pode ser prudência, mas também pode ser omissão. E a leitura que tem crescido entre vereadores da base com que tenho conversado é justamente essa: quando os edis mais fiéis ao projeto do Executivo precisaram de uma palavra de apoio, sequer uma ligação de agradecimento aconteceu. O desgaste ficou todo nas costas deles.

A pergunta que ecoa nos bastidores da política soteropolitana é: onde está o prefeito? Porque, no meio do barulho das ruas, dos professores, da oposição e até dos seus próprios, o sumiço se torna uma narrativa perigosa. Ainda mais para um gestor que, até aqui, tinha como uma das marcas o controle da base e a habilidade de negociação.

Longos silêncios incomodam e a quietude do prefeito pode ser lembrada como a mais barulhenta dos seus erros. A conferir.