O tarifaço de Trump é afronta à soberania brasileira

  • Post category:ARTIGOS
No momento você está vendo O tarifaço de Trump é afronta à soberania brasileira

Por Vitor Pinto

Donald Trump nunca escondeu seu estilo: usar a economia como instrumento de guerra política e está nem aí para o que vai ocorrer. A decisão de elevar tarifas sobre produtos brasileiros a partir de agosto é mais do que uma medida econômica: é uma afronta à soberania do Brasil. Um ato unilateral que atinge em cheio a relação comercial entre os dois países e joga luz sobre os riscos de depender de lideranças imprevisíveis e autoritárias tudo isso para querer impor reconsiderações judiciais sobre Bolsonaro – que pode ser preso a qualquer momento – e pressionar o Supremo Tribunal Federal e demais instâncias.

São Paulo de Tarcísio de Freitas será o estado mais impactado caso a medida seja colocada em prática ou não passe apenas de um blefe para uma cortina de fumaça qualquer. Na Bahia, o impacto é real. A Federação das Indústrias da Bahia (FIEB) já alertou: setores como celulose, petroquímica, cacau e pneus estão entre os mais expostos ao novo tarifaço. Só no primeiro semestre deste ano, a Bahia exportou US$ 440 milhões para os EUA — cerca de 8,3% de tudo que vendeu para o mundo. A indústria responde por 90% desse montante.

É o tipo de movimento que desmonta margens, aperta planilhas, e ameaça postos de trabalho. A celulose tradicional, por exemplo, representou mais de US$ 70 milhões das exportações baianas; o cacau e seus derivados, quase 25% do setor. A petroquímica, com produtos como benzeno e ácido acrílico, exporta boa parte exclusivamente para os americanos. Como competir num cenário de aumento de tarifas? Cortar custo? Demitir? Desistir?

A situação exige resposta firme. A soberania de um país também se mede pela sua capacidade de proteger seus setores produtivos e garantir segurança econômica aos seus trabalhadores.

O pano de fundo, claro, é político. Em ano eleitoral nos EUA, Trump mira seus adversários internos e externos ao mesmo tempo. E não é coincidência que esse endurecimento comercial venha justo quando cresce no Brasil a retórica populista bolsonarista — do qual Trump é ídolo e espelho. A decisão tarifária funciona como um aceno velado a esse campo da extrema-direita no Brasil, num gesto que pretende, ainda que indiretamente, alimentar o discurso de que um eventual retorno de Bolsonaro ao Planalto reabriria as portas do “bom comércio” com os EUA.

Mas Trump erra — e pode dar um tiro no próprio pé. Se acredita que apertar a economia brasileira vai ajudar seu aliado político por aqui, ignora a inteligência do eleitorado. Um tarifaço que ameaça empregos e renda no Brasil apenas reforça a percepção de que subordinar interesses nacionais a paixões ideológicas externas é um caminho sem volta — e sem benefício. O movimento dele só tende a fortalecer Lula (PT).

A Bahia, enquanto elo importante da economia brasileira, precisa estar atenta. A dependência de mercados concentrados, como o americano, é um risco. O momento exige menos alinhamento automático e mais estratégia, autonomia e clareza de objetivos. O Brasil tem que negociar, sim — mas sem ceder soberania. Quem joga tarifa para agradar aliado pode acabar isolado. A conferir.