Operação Overclean e o silêncio que grita

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Por Victor Pinto

A Operação Overclean, já apelidada como “a operação do fim do mundo” no campo político, escancarou um esquema de corrupção que começou com empresários, mas cujos tentáculos começam a tocar, ainda que indiretamente, o meio político. O caso do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), investigado por desviar recursos públicos que deveriam beneficiar regiões carentes, é apenas a ponta de um iceberg de proporções assustadoras. Trata-se de um enredo que une empresários, parlamentares complacentes e o desvio de dinheiro público para bolsos privados.

O mais chocante não é apenas a operação em si, mas o silêncio ensurdecedor de muitos dos agentes políticos. Enquanto nomes de peso são citados indiretamente, poucas vozes se levantaram para exigir explicações ou defender uma investigação ampla e transparente. A inércia no debate público alimenta a percepção de que o esquema não só era conhecido, como tolerado.

O caso expõe algo ainda mais grave: a fragilidade das chamadas “emendas pix” no Congresso Nacional. O mecanismo, criado com o argumento de descentralizar e dar agilidade à aplicação de recursos, transformou-se em uma verdadeira porta de entrada para esquemas de corrupção ou supostos esquemas até que a justiça concretize os julgamentos. A ausência de fiscalização rigorosa e de mecanismos transparentes de controle abriu caminho para que essas emendas fossem manipuladas por interesses privados e políticos.

Se o DNOCS está no centro da investigação, fica claro que não é um caso isolado. Quantos outros órgãos e programas públicos podem estar sendo utilizados como moeda de troca ou fonte de enriquecimento ilícito? O dinheiro que deveria financiar obras foi transformado em patrimônio privado de um grupo restrito de empresários e políticos.

A Overclean serve como um alerta nacional. A operação indica que os órgãos de fiscalização precisam ser mais robustos e independentes, e que os parlamentares devem ser cobrados por mais transparência na destinação de recursos. As emendas pix, se não forem acompanhadas de perto, podem transformar-se no maior facilitador de corrupção da história recente do país. A falta de prestação de contas clara, aliada a uma estrutura política pouco comprometida com a moralidade pública, cria o ambiente perfeito para esquemas como o que está sendo desvendado agora.

A grande questão que a Operação Overclean levanta não é apenas sobre o DNOCS ou os envolvidos diretamente no esquema. O que está em jogo é a confiança da população em seus governantes e no sistema político como um todo.

A investigação, que ainda está em andamento, precisa ser ampliada para alcançar todas as ramificações possíveis desse esquema. Não pode haver receio em citar nomes ou investigar conexões. A Operação Overclean não deve ser o fim do mundo, como sugerem alguns, mas o início de uma profunda reflexão e mudança no trato da coisa pública no Brasil. Quando o silêncio é maior do que o escândalo, é porque há muito mais a ser descoberto.