OPOSTOS COMPLEMENTARES

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Por Dra. Alcione Bastos

Dizem que os opostos se atraem, essa questão pode ser analisada por vários aspectos. Na física, a lei que diz que os polos opostos se atraem é a Lei de Coulomb, que trata da atração magnética entre corpos eletricamente carregados. A lei   diz que a força entre dois corpos é atrativa quando os corpos têm cargas opostas, e repulsiva quando têm cargas iguais. Mas será que é sempre assim que funciona entre nossos corpos?

Algumas personalidades opostas são absolutamente repulsivas. Basta que pensemos na situação de duas pessoas onde uma delas é bastante higiênica e a outra poderia viver dias e dias sem sentir a necessidade de lavar a louça e as roupas, limpar a casa, escovar os dentes e coisas tão necessárias ao nosso bem-estar e saúde.

Esse e outros exemplos como o caráter, a questão da relação com o dinheiro, os hábitos diários, as preferências entre estabilidade e aventura, vida agitada e vida pacata e por ai vai.

Algumas características que formam os traços de personalidade podem ser contornáveis e uma pessoa se adaptar aos traços da outra. 

Outra questão que podemos tomar como base, seria quanto à natureza dos elementos.  Na química, elementos que não se misturam são chamados de imiscíveis. A água e o óleo são exemplos de elementos imiscíveis. Ora, então podemos pensar em relação às pessoas, que existem tipos de pessoas que são imiscíveis, não se misturam.

Na biologia, a genética vem avançando com a descoberta do sequenciamento do genoma humano, sobretudo a parte do genoma responsável pela defesa do corpo, o MHC ou HLA, que são siglas em inglês para o Complexo Principal de Histocompatibilidade e com a descoberta da Ressonância Magnética Funcional. De acordo com estudos realizados por cientistas que se dedicam ao estudo das neurociências, a biologia do amor, essa região cromossômica interfere na escolha da parceria amorosa, que acreditamos ser mágica e irracional. Isso explicaria em tese porque algumas escolhas que fazemos resulta em verdadeiros desastres para a nossa vida, se olharmos de forma racional.

Algumas escolhas que consideramos compatíveis e adequadas, ao longo do tempo se tornam bastante prejudiciais em outras áreas da nossa vida, em geral no nosso desenvolvimento pessoal e profissional, autonomia e realização de sonhos da juventude. Quantas vezes desistimos de realizar algum sonho em prol da nossa parceria afetiva e nessa balança que pende para um lado e para o outro, vamos vivendo tentando equilibrar nossos pratos que seriam as nossas expectativas, quebrando algumas dezenas deles.

Na Psicologia Analítica, entendemos que a Psique funciona por opostos como fraqueza e força, juventude e velhice, claro e escuro, alegria e tristeza, sábio e ingênuo e assim por diante. Todas as vezes que um se apresenta na consciência, o outro automaticamente estaria de forma inconsciente, causando em nós repulsa ou estranheza. Algumas vezes eles estão bem polarizados e outras de forma mais equilibrada. Todos, porém, coexistem na nossa psique e basta que você lance a ideia de dizer sim para alguma coisa, o não vem no seu subconsciente questionando aquela decisão.

Se Narciso gosta do que é espelho, quando optamos por uma pessoa semelhante a nós, seria o nosso lado narcísico que estaria operando essa escolha. Se optamos pela escolha do que nos é oposto, a escolha se daria mais pelo nosso inconsciente e as razões por sua vez seriam também inconscientes. Vinculadas à essa biologia do amor, às nossas memórias afetivas, a um passado que ficou no nosso baú.

De uma forma ou de outra, sempre estamos questionando as nossas escolhas e que bom que seja realmente assim. De outra forma, estaríamos tão cegos por essa escolha que poderia ser considerado uma obsessão e ao mesmo tempo um perigo e um transtorno psíquico. Isso explica por que aquele maldito grilo aparece sempre que estamos nos sentindo bem, para trazer a tentação do Se”.

Afinal, o que é mais interessante para nós, o oposto ou o semelhante? Viver só ou acompanhado?

Acredito que cada um de nós deve avaliar lembrando que existe uma linha do tempo com um momento de vida específico que irá facilitar ou dificultar essas nossas escolhas. Não devemos perder de vista que se para o nosso Eu jovem, algo era mais atrativo por ser diferente e por sua vez, desafiador, para o Eu atual, a comodidade de ter alguém que faz sentido e lhe complementa, mesmo tendo algumas dessemelhanças, pode gerar uma relação mais prazerosa e pacífica.
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