Os 70 anos de vida do professor, pesquisador e compositor baiano de música contemporânea, Paulo Costa Lima, foram alvo de uma homenagem da Universidade Federal da Bahia na sexta-feira, dia 11 de outubro, por meio dos Seminários Internacionais de Música, promovidos pela Escola de Música da UFBa em sua 23 edição. Trata-se do justo reconhecimento aos quase 50 anos de atividade constante de Paulo Lima, autor de uma vasta produção acadêmica e artística, com obras já executadas por algumas das mais importantes orquestras do mundo.
A homenagem teve mesa redonda “Composicionalidade e ensino de composição”, realizada na própria Escola de Música da UFBa, na sala do Programa de Pós-Graduação Profissional em Música. Composição e ensino, aliás, estão na base do caminho trilhado por Paulo Lima ao longo de sua trajetória, que inclui ainda incursões nas áreas da pesquisa, análise, gestão pública e, mais recentemente, na esfera das redes sociais, utilizadas por ele como plataforma de debates musicais mais populares – atualmente, seus perfis no Instagram, TikTok e Facebook reúnem mais de 200 mil seguidores.
“Aos 70 Anos tenho uma obra que fala por mim, e essa obra se reparte em músicas, textos, propostas de ensino (e estudantes que cresceram com elas), ideias e feitos de gestão. Todos os cargos que exerci foram em nome de uma causa muito maior do que eu, tenho orgulho disso”, observa o compositor, que se confessa um “apaixonado pelo fazer musical, pelo poder das ideias, das interpretações, compartilhando essa paixão com diversos músicos, meus parceiros de criação”.
Nascido em Salvador em 26 de setembro de 1954, Paulo Costa Lima é conhecido por seu estilo único. Suas obras combinam elementos da cultura local e novas tendências, estabelecendo um vasto e criativo diálogo entre o erudito e o popular, o ancestral e o contemporâneo, refletindo a pluralidade cultural da música brasileira, em especial de compositores como Gilberto Mendes, Ernst Widmer e Lindembergue Cardoso.
Grande produção
Paulo Costa Lima fecha os 70 Anos com 125 obras compostas, 9 livros escritos e 600 performances em mais de 25 países. Foram mais de 20 comissionamentos e prêmios recebidos, a exemplo de Max Feffer (1995), Bolsa Vitae (1996), American Composers Orchestra (1996, com apresentação no Carnegie Hall); Funarte-MinC (1985; 2013, 2015, 2017, 2019, 2021, 2023); La Flauta Latino-Americana (2021), Conselho Musical da Cidade de Düsseldorf (2017). Além disso, Paulo teve o seu trabalho reconhecido pela Academia Brasileira de Música (onde ocupa a cadeira 21). Também tornou-se membro da Academia de Letras da Bahia e da Academia de Ciências da Bahia.
Diretor da Escola de Música da UFBA entre 1989 e 1992 (quando reestabeleceu os Seminários Internacionais de Música, interrompidos em 1959), Paulo Costa Lima criou a Pós-Graduação em Música. Entre 1996 de 2002, tornou-se Pró-Reitor de Extensão da UFBA, formatando o Programa UFBA em Campo, coordenando a SBPC Cultural, e o Programa de ACC – Atividade Curricular em Comunidade.
Entre 2005 e 2008, Paulo Lima presidiu a Fundação Gregório de Mattos, onde criou o Programa Mestres Populares da Cultura e as Exposições a Céu Aberto, além de promover o Programa Viva Capoeira e a restauração do Espaço Cultural da Barroquinha. Em seguida, foi nomeado assessor especial do reitor da UFBA (2014-2021), sendo co-idealizador dos Congressos da UFBA, atuando ainda no Fórum Social Mundial, realizado em Salvador em 2018.
Como pesquisador pelo CNPq, a produção de Paulo Lima gira em torno de temas como teoria do compor, pedagogia da criação musical, análise de música contemporânea produzida na Bahia, análise de canções populares brasileiras, e a aproximação entre música e psicanálise. Seu principal foco de interesse está na aproximação entre composição e cultura, gerando diálogos entre o lugar-de-fala e as redes internacionais contemporâneas de discurso e música. Com isso, sua obra associa-se à noção de entre-lugar (de orientação decolonial), e à resistência que isso envolve, relativizando o contraste entre polaridades – o sério e o jocoso, o erudito e o popular, o ancestral e o contemporâneo.
Em 2024, por ocasião dos seus 70 anos, e por iniciativa da Academia Brasileira de Música, teve a obra Serenata Ponteio para Cordas estreada pela Orquestra Sinfônica da UFRJ, sob regência do Maestro Miguel Campos Neto na Sala Cecilia Meireles, e estreou a Serenata Concertante para Percussão e Orquestra, dedicada a Fernando Hashimoto, com a Orquestra de Campinas sob regência de Ricardo Bologna.
Também foi homenageado pela Orquestra Sinfônica da Bahia com a apresentação da obra Atotô do L’homme Armé op. 39, com regência da maestra Priscila Bomfim na Igreja de São Francisco em Salvador. Além disso, Paulo Lima foi escolhido para fazer a Conferência de Abertura do XXXIV Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, na Reitoria da UFBA, em Salvador.