Por Reynivaldo Brtito
O artista Paulo Roberto Ferreira de Oliveira conhecido por Paulo Guinho divide hoje seu tempo entre a arte e a gestão pública administrando a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, para a qual foi eleito diretor recentemente num pleito realizado entre professores, alunos e funcionários, obtendo 85% dos votos. Fui encontrá-lo no icônico prédio da EBA no bairro do Canela, em Salvador, onde podemos apreciar um rico acervo dos principais professores, mestres da Escola Baiana de Pintura, e artistas que já passaram por aquela instituição. Ele nasceu em Salvador, estudou em escolas públicas e particulares. Desde criança gostava de desenhar e teve a felicidade de contar com a sensibilidade do seu avô que trazia os materiais necessários para que pudesse exercitar o seu talento. Portanto, a ida para estudar na Escola de Belas Artes foi um caminho natural. Passou alguns anos trabalhando com fibra de vidro, inclusive fazendo pranchas de surf, peças de automóveis, de barcos e esculturas, muitas delas foram instaladas em lojas do shopping Aeroclube, de saudosa memória. Ele criava as esculturas em fibra de vidro e pintava com aerógrafo. Ali todas os lojistas eram obrigados a colocar uma escultura em frente ao estabelecimento. Falei ao Paulo Guinho que na loja que eu tinha lá chamada Wine & Music coloquei uma escultura de autoria de Bel Borba. Era uma escultura de um saxofonista, que virou ponto de atração onde as pessoas paravam para tirar fotografias.
Disse que ao entrar na Escola de Belas Artes tinha poucas referências pontuais de pessoas que trabalhavam com fibra de vidro entre eles Juarez Paraíso, Márcia Magno, Renato Viana e Nanci Novaes. Trouxe esta experiência que já tinha na prática – pois desde 1985 que usava este material – para a academia, e passei a fazer esculturas aqui. Lembra “registrei aqueles trilhos que existem no Solar do Unhão, onde funciona o Museu de Arte Moderna da Bahia, que eram utilizados no Brasil colonial para transportar em carros especiais as mercadorias que chegavam em saveiros e outros barcos do Recôncavo e depois embarcadas para a Europa.” Lecionou em escolas públicas e privadas durante vinte anos. Quando ganhou a bolsa para estudar em Valencia, na Espanha, continuou registrando o solo, agora daquela cidade, porém em formato menor porque além de pesar muito o bronze custava na época que esteve por lá nove euros por quilo, o que hoje equivale a cinquenta reais por cada quilo. Mesmo assim nos nove meses que passou produziu quarenta e cinco peças. Foram na maioria peças em formatos pequenos porque uma peça em bronze de 15 cm x 15 cm pesa em média 1,5 Kg, e tinha outras um pouco maiores.
QUEM É
O Paulo Roberto Ferreira de Oliveira ou Paulo Guinho, como assina suas obras, nasceu em 25 de agosto de 1966, no bairro de Amaralina, em Salvador. Depois foi morar no STIEP onde permaneceu por mais de trinta anos. Este bairro surgiu após a construção de um conjunto habitacional de casas para os funcionários da Petrobras, daí o nome STIEP que significa Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Extração de Petróleo, e o pai do artista Glicério Temístocles Freitas Oliveira era um dos trabalhadores que foi beneficiado com a construção de uma casa. Sua mãe Ivanise Maria Ferreira Oliveira era funcionária pública. Quando criança gostava de ficar desenhando e muitas vezes sozinho. Seu avô Pedro da Costa Ferreira percebendo que o neto gostava de pintar e de desenhar sempre trazia algum material como lápis de cor e cartolina para incentivar o seu talento. Estudou o primário na Escola Santa Terezinha, no STIEP, e depois fez o ginásio no Centro de
Educação Guiomar Muniz Pereira, no bairro do Rio Vermelho, e o colegial no Colégio Águia, no bairro da Pituba, todos em Salvador. Lembrou que ficava horas olhando o mar no Rio Vermelho especialmente na pequena enseada onde fica a colônia de pescadores local . Ali em todo dia 2 de fevereiro acontece a famosa festa de Iemanjá com milhares de pessoas levando presentes para a Rainha do mar. Aquele trecho da orla marítima de Salvador o encantava e ali permanecia por horas apreciando a beleza da natureza. Logo que terminou o colegial decidiu fazer vestibular para a Escola de Belas Artes da UFBA , em 1983. “Era garoto e fiquei encantado com aquele ambiente de arte especialmente com as esculturas que existem aqui, algumas delas cópias em gesso de famosas esculturas do Museu de Louvre, em Paris, França. Continuava com meu ateliê no bairro Jardim das Margaridas, perto do Aeroporto de Salvador. Conclui o curso de graduação de Licenciatura em Desenho e Plástica em 1889 pela Escola de Belas Artes, da UFBA, e neste período realizei paralelamente diversas exposições individuais”, conta Paulo Guinho. Foi ministrar aulas de Desenho em colégios particulares. Porém, em 2012 resolveu prestar concurso para a docência na Escola de Belas Artes, assumindo logo
depois alguns cargos administrativos como Chefe de Departamento, Coordenador Pedagógico, dentre outros. Fez o Mestrado e o Doutorado em Artes Visuais pela EBA na linha de pesquisa em Processos Criativos e em 2018-19 estágio em doutoramento na Universidade Politécnica de Valencia, na Espanha na área de fundição artística, Departamento de Escultura. O que mais chama sua atenção atualmente são as feridas urbanas deixadas pelo homem através os tempos em suas cidades e por outros locais por onde passou. No solo ficam registradas as interferências, as pegadas e até mesmo objetos utilitários que são cobertos por camadas de cimento, de asfalto ou mesmo de areia. É quase o olhar de um especialista em arqueologia, uma redescoberta de algo que ficou ali quase despercebido pela maioria das pessoas. Desenvolve pesquisa no campo do tridimensional com ênfase em materiais expressivos aplicados a linguagem escultórica e as feridas urbanas como imagens de ressonância do espaço urbano no contexto do passado e presente.
A ESCOLA
A Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia teve e tem um papel fundamental na formação e no desenvolvimento das artes visuais em nosso Estado. Por lá passaram milhares de mestres e alunos que deixaram seus legados em obras de arte que hoje estão nos acervos de museus espalhados pelo país e até no exterior. No site da EBA você fica sabendo que a “Academia de Belas Artes da Bahia foi fundada em 17 de dezembro de 1877. Passou a ser denominada Escola de Belas Artes da Bahia em 1891, por força da Reforma do Ensino Secundário e Superior da República feita por Benjamin Constant. É a segunda Escola Superior da Bahia e a segunda Escola de Artes do Brasil. Em dezembro de 1948 passou a integrar a então instituída Universidade da Bahia. Atua no Ensino, Pesquisa e Extensão e está subordinada ao Estatuto e Regimento Geral da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Disse seu atual diretor Paulo Guinho que a Escola de Belas Artes oferece quatro cursos de graduação. São três bacharelados – Artes Visuais, Design e Superior em Decoração – e uma licenciatura em Desenho e Plástica. Atende alunos de pós-graduação nos cursos de Mestrado, Doutorado e Especialização
em Arte Educação. Está localizada na Rua Araújo Pinho, número 212, Campus do Canela, tem sede neste imóvel do século XIX , casarão da Galeria Cañizares, pavilhões de aulas, laboratórios e áreas do entorno. Foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia por meio da lei nº 8.895 de 16 de Dezembro de 2003 e pelo Decreto de Tombamento nº 8722, de 05 de Novembro de 2003, quando a EBA passa a ser considerada Patrimônio Cultural da Bahia.
Atualmente conta com 680 alunos matriculados, sendo que as aulas presenciais ainda sofrem reflexos da pandemia que paralisou o ensino em todo o país, e as aulas passaram a ser feitas virtualmente. Já teve mais de um mil alunos matriculados e Paulo Guinho está empenhado em promover ações que venham a fortalecer ainda mais a EBA, que também está necessitando de melhorias em seu espaço físico. Tem um pavilhão em péssimas condições, necessitando de uma reforma total e mesmo outros espaços importantes. Para ministrar as aulas conta com quarenta e sete professores, sendo a grande maioria do corpo docente formado por doutores e mestres. O Paulo Guinho ressaltou ainda a importância do Núcleo de Apoio a Pesquisa e Extensão -NAPEX onde os professores e alunos visitam as escolas públicas e privadas para falar da importância da arte na sociedade e procurando sensibilizar os jovens para se dedicarem às artes . Também promove cursos livres abertos ao público externo. A propósito vão abrir agora inscrições para os cursos livres de Litografia, Desenho, Pintura e Computação Gráfica. Realiza ainda anualmente doze exposições na Galeria Canizares e igual número na Galeria do Aluno com o objetivo de mostrar a arte produzida por seus professores , alunos e mesmo por artistas oriundos da EBA. Além de promover anualmente a Feira de Arte e Design que este ano será realizada de 4 a 6 de setembro , onde os alunos poderão ter contato com o público exterior para mostrar e comercializar os seus trabalhos. Tudo isto é uma forma de inserção no mercado de arte e também para que interajam com a sociedade.