Por Claudius Portugal
Com abertura realizada no dia 21 de setembro, a Paulo Darzé Galeria inaugurou as exposições de Paulo Pasta, um dos mais conceituados pintores brasileiros do cenário contemporâneo, (Galeria 1, andar térreo), e com o título de “Linha em expansão”, em sua primeira exposição na Bahia, pinturas de Lúcia Glaz (Galeria 2, segundo andar). As mostras ficam abertas ao público até o dia 21 de outubro, de segunda a sexta, das 9 às 19 horas, e sábados das 9 às 13 horas. A Paulo Darzé Galeria fica na Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória, (tel.: (71) 3267.0930; 9918.6205 – www.paulodarzegaleria.com.br
Paulo Pasta nasceu em Ariranha, São Paulo, em 1959, e com suas pinturas busca construir uma temporalidade na pintura.
As cores e as formas dos trabalhos do artista parecem planificar a percepção da passagem do tempo: diante de suas telas, o presente se coloca de maneira quase absoluta. As formas e as geometrias representadas nas atmosferas espessas desenhadas pelo artista são vagarosamente reconhecidas através do olhar atento do espectador, que é, por sua vez, colocado entre horizontes e obstáculos que impedem que se veja o espaço da representação com nitidez.
A densidade e o tempo criados por Pasta são contrários a qualquer concessão ao mundo prático e a suas necessidades de presteza e prontidão: é no rumor e na abertura ao tempo presente que recaem sua poética. Doutor em Artes plásticas pela Universidade de São Paulo (2011), realizou as exposições individuais Pintura de bolso (2023), Correspondências (2021) e Lembranças do futuro (2018), na Millan (SP), além de outras mostras individuais em instituições como: David Nolan Gallery (Nova York, EUA, 2022); Cecilia Brunson Projects (Londres, Reino Unido, 2022); Museu de Arte Sacra de São Paulo (SP, 2021); Instituto Tomie Ohtake (SP, 2018); Palazzo Pamphilj (Roma, Itália, 2016); Sesc Belenzinho (SP, 2014); Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, RS, 2013); Centro Cultural Maria Antônia (SP, 2011); Centro Cultural Banco do Brasil (RJ, 2008); e Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP, 2006).
Entre suas participações em exposições coletivas estão: Abstração: arealidade mediada (Millan, SP, 2022); Os muitos e o um (Instituto TomieOhtake, SP, 2016); 30x Bienal (Pavilhão da Bienal, SP, 2013); Europalia, International Arts Festival (Bruxelas, Bélgica, 2011); Matisse hoje (Pinacotecado Estado de São Paulo, SP, 2009); Panorama dos panoramas (MAM–SP, 2008); Mam [na] oca: Arte Brasileira do Acervo do Museu de ArteModerna de São Paulo (Oca, SP, 2006); Arte por toda parte (3ª Bienal doMercosul, Porto Alegre, RS, 2001); Brasil + 500 — Mostra do redescobrimento (Pavilhão da Bienal, SP, 2000); III Bienal de Cuenca (Equador, 1991);entre outras.
Suas obras integram diversas coleções, entre as quais estão: Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madri, Espanha), Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), Museu de Arte Moderna de São Paulo (SP), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (RJ), Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP), Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (RJ), Kunsthalle (Berlim, Alemanha), Kunstmuseum Schloss Derneburg (Hall Art Foundation, Holle, Alemanha) e Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, SP).
Apresentação da mostra
por Jacopo Crivelli Visconti – “Ser pintura”
Quem acompanha a pintura de Paulo Pasta sabe que ela não opera por meio de saltos ou rupturas, mas por um desenvolvimento silencioso, natural, um prolongar-se de tentativas e exercícios que se dão de uma tela para outra, ao longo do tempo. O prazer de ver, após alguns meses ou anos de intervalo, uma nova exposição de obras do artista é comparável ao de acompanhar, mais ou menos de perto e com uma convivência mais ou menos assídua, o crescimento de filhos de amigos. Pode acontecer que, à distância de meses, eles ainda pareçam iguais, mas pouco a pouco fica evidente que não, eles não são os mesmos. Aliás, já se tornaram totalmente outros.
Quando voltei ao ateliê do Paulo, transcorridos anos desde a última vez, para ver as telas que estariam nesta exposição, a conversa se aglutinou ao redor das pequenas mudanças na comparação entre uma tela e outra, ou, para ser mais preciso, na maneira como algo que num quadro chamou a sua atenção e o inspirou, se transforma ao ser levado para outro. Uma linha particularmente sutil, dois retângulos lado a lado contra um fundo homogêneo, uma série de quadrados que se apoiam uns nos outros: diante de um universo tão diáfano e vibrátil, mesmo coisas que a princípio são iguais ou muito parecidas se tornam completamente distintas quando algo ao redor delas muda.
A ideia de que um elemento possa “chamar a atenção” do próprio autor do quadro não deve surpreender. Apesar de ter um controle razoável sobre sua composição, como demonstram a nitidez das formas e as variações relativamente
limitadas em sua paleta, Paulo é o primeiro a aprender com o resultado. Porque além de pintar, ele olha: é preciso um tempo para fazer, e outro para entender. Não é por acaso que as obras sejam consideradas acabadas, muitas vezes, dias ou semanas depois de terem recebido a última pincelada. É nesse momento que Paulo retira a fita que protege a faixa branca que, frequentemente, fecha a composição em sua parte inferior.
Numa das pinturas mais surpreendentes da exposição, na qual três quadrados se empilham num equilíbrio aparentemente instável, ao retirar a fita Paulo percebeu que o branco destoava do resto, e decidiu então transformá-lo num amarelo pálido. O que torna a composição insólita não é tanto esse detalhe, mas a presença dos quadrados. Trata-se de uma forma que também aparece em outras telas da exposição, mas está longe de poder ser considerada frequente no vocabulário do artista. Além disso, a maneira desengonçada como esses quadrados se apoiam uns nos outros, indicando que a torre instável que conformam poderia desmoronar a qualquer momento, sugere um peso, e implicitamente uma tridimensionalidade, ausentes na maioria das outras obras.
Apenas outra pintura na exposição sugere algo semelhante ao introduzir
um segundo elemento que pode ser considerado raro na poética de Paulo: uma linha diagonal. Nesse caso, a linha fecha na parte superior uma faixa branca vertical, que passa a sugerir, assim, o que poderia ser uma porta ou uma janela entreaberta, e, de novo, a tridimensionalidade. Mas é uma tridimensionalidade
que tem a ver antes de mais nada com a própria história da pintura: com o fato de que uma linha diagonal numa tela pode ser usada para sugerir uma perspectiva ou um ponto de fuga. Talvez não seja por acaso, então, que nessa tela, ao invés de uma única faixa branca na parte inferior, Paulo tenha criado uma pequena moldura, quase imperceptível, que percorre os quatro lados da tela, como uma janela por onde olhamos uma cena. Mas é uma cena abstrata, esvaziada, onde as arquiteturas metafísicas de um de Chirico ou as cores de um Piero della Francesca viraram apenas lembranças.
É a ideia de uma cena. E uma ideia, no fundo, totalmente alheia a essas pinturas, que nunca contam uma história, nunca pedem para ser “entendidas”, muito menos de um único jeito. As obras de Paulo Pasta parecem afirmar o tempo todo que são apenas campos de cor sobre uma superfície plana, e que qualquer arquitetura ou alusão a elementos do mundo real que possamos ler nelas é apenas isso, uma leitura feita por quem olha, e não algo implícito ou sugerido pela pintura. Não há por que buscar nessas pinturas uma razão de ser ou um significado, não há uma explicação ou uma lógica. Elas apenas existem, como existem uma montanha, uma pedra, uma onda no mar. Essa aparente simplicidade é em realidade o resultado de uma reflexão longa e coerente, a tradução física de um pensamento filosófico, de um olhar e de um profundo conhecimento teórico e prático.
As pinturas, porém, não sabem nada disso. Elas são, e nada mais.
LÚCIA GLAZ
Nasceu em Santos, litoral de SP no ano de 1961. Pintora desde jovem, participou de várias exposições. Entre elas a coletiva “Razão concreta”, ao lado de pintores como Volpi, Rubem Valentim, Judith Lauand e outros, na Galeria Berenice Arvani (SP), em abril de 2016. No ano seguinte participou da coletiva SPART 2001. Em setembro desse mesmo ano na Galeria Berenice Arvani, realizou individual com curadoria de Pedro Mastrobuono, “A beleza é metafísica na pintura de Lúcia Glaz”. Participou da Pinta Miami Art Fair em dezembro de 2017.
Em setembro de 2018 fez outra individual, desta vez no Rio de Janeiro, na Galeria Almacén Thebaldi “O diálogo da cor”. Participou da PARTE/Feira de Arte Contemporânea, em 2018.
Integrou a exposição coletiva “Modernos Eternos” (Mosteiro de São Bento/SP), em agosto de 2019. Em novembro de 2019 participou do Projeto Felicidade-Clube Hebraica; fez uma individual na Pinacoteca Benedicto Calixto, “A Pintura como processo”. também em novembro de 2019. Participou da feira de arte On Line Arte Viewing Room pela Galeria Berenice Arvani em agosto de 2020, “A geometria como forma de expressão “. Participou da Expo / Sevivon-Beit-Chabat em dezembro de 2020. Em setembro de 2023, individual na Paulo Darzé Galeria, com o título de “Linha em expansão”, com apresentação de Antonio Gonçalves Filho.
Apresentação da mostra
por Antonio Gonçalves Filho – “Liberdade construtiva”
Embora de uma outra geração, a pintura de Lúcia Glaz (1961) guarda uma proximidade com mestres de outras escolas que antecederam sua iniciação na arte nos anos 1980, sendo possível citar pelo menos dois nomes com os quais se identifica: o francês François Morellet (1926-2016), cuja obra, nos anos 1950, prefigura o minimalismo, e o construtivista brasileiro Milton Dacosta (1915-1988).
Nesta sua primeira exposição individual na Galeria Paulo Darzé, Lúcia Glaz presta um tributo a Morellet e a Dacosta, exibindo uma nova série de pinturas que evocam tanto a estrutura como a figura do quadrado, marcantes na carreira do francês, de 1953 em diante, como as construções com a referida figura geométrica pintada por Dacosta no mesmo período (e suas composições elaboradas entre 1957 e 1958 justificam essa comparação).
Se as primeiras estruturas de Morellet com o quadrado (1953) dividiam a superfície da tela em dezesseis partes iguais, replicando um ordenamento típico de Mondrian, as de Milton Dacosta usavam o quadrado num registro próximo das construções sintéticas de Morandi (sem a pureza formal de Mondrian). Entre os dois, Lúcia Glaz descobre uma solução que não abandona o racionalismo abstrato, mas amplia seu vocabulário.
Trata-se de uma investigação que caminha para a forma como Albers caminhou para suas pesquisas sobre a expansão da cor. Uma afinidade, mais que uma influência. Há um projeto gráfico nas pinturas desta exposição que, embora reverente à ortogonalidade, subverte essa ordem para afirmar seu compromisso com a natureza lírica do movimento da figura do quadrado, forma criada pelo homem que, aliás, quer ser perfeita.
Pintada sobre a superfície terrosa nas telas de Lúcia Glaz, essa forma, no entanto, resiste à racionalização serialista de Mondrian para sugerir um jogo lúdico com o espectador. A abstração geométrica não extermina a poesia dessa movimentação aleatória de dados que brinca com a aventura cinética de Morellet sem confrontar sua adesão à turma de Sobrino e Julio Le Parc, em 1958.
As formas de expressão de Lúcia Glaz não passam pela adesão a qualquer movimento. Antes de se integrar a métodos, ela prefere se render voluntariamente à instabilidade sugerida pela percepção física da figura do quadrado como uma entidade não física que ocupa o espaço, mais ou menos como os quadrados transformados pelas linhas de néon nas pinturas de Morellet.
São decisões subjetivas que resistem a uma execução mecânica e revelam o virtuosismo de Lúcia Glaz como renovadora da linguagem construtiva que tanto marcou a arte brasileira. Ela agrega o intimismo de Paul Klee num registro monocromático, sóbrio e próximo das coisas concretas do mundo. Um equilíbrio necessário num mundo desordenado.
Lúcia Glaz / entrevista a Claudius Portugal
Esta é a primeira vez que expõe na Bahia, e nesta sua mostra, com data de início no dia 21 de setembro de 2023, uma individual na Galeria Paulo Darzé, segundo Antonio Gonçalves Filho, na apresentação que do catálogo, “presta um tributo a Morellet e a Dacosta, exibindo uma nova série de pinturas que evocam tanto a estrutura como a figura do quadrado, marcantes na carreira do francês de 1953 em diante, como as construções com a referida figura geométrica pintada por Dacosta no mesmo período (e suas composições elaboradas entre 1957 e 1958 justificam essa comparação)”.
Professora de geografia, sem estudo formal nas artes visuais, para além de cursos livres, Lúcia vinha levando a pintura como diletante desde a adolescência. Sob a inspiração de sua paisagem natal, pintou marinhas quando mais jovem. Nos últimos anos, com a iminência da aposentadoria, depois de 25 anos de serviços prestados em escolas, os três filhos já adultos, passou a se dedicar mais à arte.
Lúcia Glaz nasceu em Santos/São Paulo, em 1961, e faz sua inserção em mostras no circuito de arte como pintora ao realizar sua estreia aos 55 anos, já estando há mais de uma década tendo uma atuação, com uma mostra apresentando 28 trabalhos, curadoria de Pedro Mastrobuono, que escreve o catálogo, texto com o título “A Beleza é Metafísica na Pintura de Lúcia Glaz”.
“A pintura de Lúcia é puramente íntima e emocional, em primeira instância, mas em um segundo olhar, revela-se desdobramentos de tradições neoplásticas. A complexa questão da estrutura e de sua busca nas artes plásticas, e sua ligação com o sentido metafísico da arte está na própria definição do que seja ‘metafísica’: é a estrutura da realidade universal, que desce desde o primeiro princípio, infinito e eterno, até seus inumeráveis reflexos no mundo manifestado, através de uma série de níveis ou planos de existência”.
Segundo Antonio Gonçalves Filho, no texto sobre a mostra na Paulo Darzé Galeria, “pode citar pelo menos dois nomes com os quais se identifica: o francês François Morellet (1926-2016), cuja obra, nos anos 1950, prefigura o minimalismo, e o construtivista brasileiro Milton Dacosta (1915-1988). “Há um projeto gráfico nas pinturas desta exposição que, embora reverente à ortogonalidade, subverte essa ordem para afirmar seu compromisso com a natureza lírica do movimento da figura do quadrado, forma criada pelo homem que, aliás, quer ser perfeita”.
1)
Discorra especificamente sobre esta mostra na Paulo Darzé Galeria e como ela se insere na trajetória de alguém que gosta de sentir o quadro em silêncio, e que só assim consegue absorver sua vibração?
Os trabalhos da mostra propõem uma reflexão sobre a diversidade cromática e a expansão da linha, embate que resulta na construção de um trabalho que é ao mesmo tempo obra gráfica e pintura. O silêncio se faz necessário para que a vibração venha por meio da cor e movimento, como se a pintura se transformasse numa partitura. Quanto à natureza lírica da figura do quadrado, linhas retas e soltas se expandem procurando a forma, como uma dança.
2)
Seguindo sua trajetória, não em ordem cronológica, mas pelo título das mostras, vamos ter “A geometria como forma de expressão”. Queria começar por ela, pois olhando a sua biografia temos “O diálogo da cor” e uma primeira mostra em “Razão concreta”, ao lado de pintores como Volpi, Rubem Valentim. Dá para discorrer sobre a escolha da geometria e do neoconcretismo como fundamentais para criação de sua obra?
A geometria é a base para realização dessas pinturas. Recorro aos princípios do Manifesto Neoconcreto para pintar com mais liberdade, sem abrir mão de um projeto subjetivo de construção da forma por meio da cor.
3)
É dito em apreciações sobre sua obra que ela traz uma “plasticidade cromática, de cores profundas, que sinalizam uma terceira dimensão, e conduz o espectador à interiorização, por conseguinte, à reflexão”. Apoiada na ideia de plasticidade cromática, há a afirmação de que suas séries de pinturas remetem ao silêncio. Está de acordo com o desenrolar desta afirmação e da sua conclusão?
Acredito que por serem pinturas que sinalizam uma terceira dimensão, o olhar precisa estar atento de maneira silenciosa. Embora paradoxalmente trabalhe ouvindo música porque ela me inspira, quando observo a obra já terminada, necessito de silêncio para que a visualização faça seu papel, despertar o que provoca.
4)
Nas palavras de Pedro Mastrobuono, a sua pintura é puramente íntima e emocional, em primeira instância, mas em um segundo olhar, revela-se desdobramentos de tradições neoplásticas. E acrescenta: “A complexa questão da estrutura e de sua busca nas artes plásticas, e sua ligação com o sentido metafísico da arte está na própria definição do que seja ‘metafísica’: é a estrutura da realidade universal, que desce desde o primeiro princípio, infinito e eterno, até seus inumeráveis reflexos no mundo manifestado, através de uma série de níveis ou planos de existência”. Como reage a afirmações como essa sobre sua obra?
Entre a razão e a emoção existe o equilíbrio. O comprometimento requer trabalho, energia, estudo. Ao pintar me transporto para outro plano e considero novas possibilidades de criação. Pedro Mastrobuono soube captar com sensibilidade ao ver meu primeiro trabalho na coletiva importante que foi “Razão Concreta”. Foi além de um simples olhar na tela. Ele entrou em sintonia com a obra.
5)
Sua obra traz um apelo emocional da cor. Mostra em suas pinturas um desejo de explorar novos fenômenos perceptivos, considerando o potencial expressivo da cor em sua interação com a forma, a ver a pintura como objeto, e não ilusão, perseguindo uma redução purista ao restringir ao essencial suas experiências na tela. Como se dá a percepção visual e como se desenvolve a sensibilidade de ver de forma concreta as cores?
Como a percepção é imediata e anterior à racionalização, minha meta é chegar ao espectador por essa via. Tenho fascínio pelo desenvolvimento da cor, de como ela me conduz à construção da forma. A combinação da cor, da linha, do plano, tudo em harmonia. É motivador por exemplo, o azul poder ter tantos azuis.
6)
As possibilidades da cor norteando forma e conteúdo para se chegar a novos tons. Com isso enfatiza qualidades formais e a bidimensionalidade do plano pictórico e nem por isso aboliu do mundo a expressão. Disto origina suas palavras de ter sobre sua relação com a herança concreta mais identificação com os neoconcretos, “mais flexíveis com relação à cor”?
Embora a herança concreta tenha sido marcante em minha pintura, sempre estive aberta a novas experiências, mas ancorada na liberdade que o uso das cores me possibilita.
7)
Linhas verticais e horizontais quebram qualquer rigidez geométrica, por sua vibração cromática e o contraste das cores. “Trabalho com acrílica há 20 anos. Não escolho só uma cor e não fico programando se será uma tela azul ou vermelha. Faço junção de cores, e vão surgindo outras. Não fico muito preocupada com a forma. É esse o meu prazer, não faço rascunhos, e sim o que sinto vontade na hora. Meu instrumento de trabalho são as tintas. As cores dão a própria estrutura da tela e as linhas surgem no decorrer do processo”. Esta sua explicação continua tendo validade como um dos caminhos para percepção de sua obra?
Sim, continua. Talvez porque a própria vibração que causa, afeta a rigidez. As linhas surgem no decorrer do processo. A cor é a primeira escolha para a iniciação. A linha se expande no universo dela.